Fazendeiros ameaçam criar milícia contra ocupações em Itapetinga

Propriedade da família Vieira Lima, avaliada em R$ 67 milhões, é alvo de invasão; sindicato alerta para risco de banho de sangue

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 26 de setembro de 2017 às 17:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Um clima de tensão se instalou no campo, em Itapetinga, Sudoeste do estado, após a ocupação, no sábado (23), por supostos índios, da Fazenda Esmeralda, um conjunto de 12 propriedades rurais da família do ex-ministro Geddel Vieira Lima avaliado em R$ 67 milhões. Os fazendeiros locais ameaçam a formação de milícias (grupos armados) para defender as propriedades.

A informação é do Sindicato Rural de Itapetinga, entidade que reúne 170 associados, dos quais, a maioria, é formada por criadores de gado de corte e de leite. Presidente do sindicato, Eder Rezende disse ao CORREIO que os donos de fazendas “estão se preparando de forma conjunta para se defender das invasões”.“Quanto à forma que isso será feito, não posso afirmar. Nos grupos de WhatsApp, estão muito nervosos, alguns mais exagerados falam em formação de milícias. Não tenho propriedade no entorno daquela área, mas, se tivesse, iria também tomar providências para defender o que é meu”, disse Rezende, que teme confrontos e mortes.Para o sindicalista, a ocupação “parece ser mais política, pois as demandas indígenas da região já foram atendidas pela Justiça”, e ninguém no local quer mais sair da sua propriedade. “Não há mais questão indígena na região”, argumenta.

Rezende se refere à demarcação da Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguaçu, de 54 mil hectares, que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2012, que era de índios Pataxó Hã-hã-hãe, expulsando fazendeiros da área, localizada em Itaju do Colônia, no Sul do estado, próximo à região onde fica a fazenda dos Vieira Lima. Grupo, que se identifica como indígena, usou paus e pedras para bloquear acesso à Fazenda Esmeralda (Foto: Reprodução) Reunião com delegado Os produtores rurais se reuniram nesta segunda-feira (25) com o delegado da Polícia Civil de Itapetinga, Antonio Roberto Júnior, o qual informou ao CORREIO que está encaminhando o caso para a Polícia Federal nesta terça-feira (26).“Não temos dúvidas de que o local está sendo ocupado por indígenas, por isso a investigação ficará a cargo da PF”, declarou o delegado. Procurada, a PF informou que tomará as providências assim que for notificada sobre o caso.Também nesta terça, o advogado Franklin Ferraz, contratado pela família Vieira Lima, deu entrada no pedido de reintegração de posse na Justiça local. Se for confirmado que a fazenda foi ocupada por índios, o processo poder ficar de responsabilidade da Justiça Federal.“Por conta da falta de confirmação quanto a serem indígenas ou não, a identificação de quem está ocupando a propriedade será feita no momento em que o oficial de Justiça for até o local. Funcionários da fazenda nos relataram a presença de membros de sem-terra também”, afirmou o advogado dos proprietários.Franklin Ferraz informou ainda que no pedido de reintegração, ficou “bem claro que não há nenhum pedido de estudo sobre terra indígena no local”. “Nenhuma entidade de defesa dos índios se manifestou até agora sobre o assunto, não há cacique, nem etnia definida”, complementou.

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A propriedade A Fazenda Esmeralda, localizada no território de Itapetinga, a 60 km da sede, tem 643 hectares e faz parte de um conjunto de doze propriedades pertencente aos irmãos Geddel (ex-ministro da Secretaria de Governo e da Integração Nacional), que está preso, e Lúcio Vieira Lima (deputado federal), ambos do PMDB. As fazendas somam mais de 9 mil hectares e estão avaliadas em cerca de R$ 67 milhões.

O CORREIO tentou contato com entidades de defesa dos direitos dos índios, como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ligado à Igreja Católica, e a Associação Nacional de Ação Indigenista (Anai), mas as chamadas aos telefones disponibilizados nos sites oficiais não foram atendidas.