Incêndio em marina na Cidade Baixa atinge ao menos 30 lanchas

Fogo começou por volta de meio-dia e foi controlado no início da noite

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  • Da Redação

Publicado em 22 de março de 2018 às 14:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto do leitor

Embarções em chamas na Cidade Baixa (Foto: Leitor CORREIO) Um incêndio de grandes proporções atingiu a Marina Bonfim, localizada na Rua Arthur Matos, na Cidade Baixa, em Salvador, na tarde desta quinta-feira (22). De acordo com o Corpo de Bombeiros, as chamas atingiram embarcações que ficam no estaleiro. 

O presidente da Associação Clube Náutico Flotilha de Lanchas da Bahia, Darlan Ribeiro, informou que o fogo alcançou mais de 30 das 50 embarcações que estavam no local. Já o major do Corpo de Bombeiros Militares responsável pelo combate às chamas, Roberto Lima, afirmou que entre 25 a 30 lanchas foram atingidas pelas chamas. 

"São lanchas de pequeno, médio e grande porte.Tem gente aqui que teve perda total e isso está preocupando, porque algumas embarcações não têm seguro. Mas vamos tentar tomar providências", comentou Ribeiro. Ainda segundo ele, o espaço pode comportar mais de 200 embarcações.

A fumaça forte que se espalha assustou moradores da região e pôde ser vista até da Avenida Contorno, que fica a oito quilômetros de distância.

Conforme o Corpo de Bombeiros, três equipes já foram deslocadas para a região. Há no local, ainda, um caminhão do Exército. O Centro de Comunicação Integrada da Secretaria da Segurança Pública (Cicom-SSP) informou que o fogo começou por volta das 13h40. Não há informações sobre feridos. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) não foi acionado, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Prejuízo Um médico que é dono de uma embarcação contou ao CORREIO que mantinha na Marina uma lancha avaliada em R$ 300 mil. Pedindo para não ser identificado, ele disse que teve sorte – sua embarcação foi retirada por populares e ficou apenas 'chamuscada'. "Só chamuscou um pouco, mas está salva. Os meninos puxaram logo", comentou, aliviado.Ele acha que o prejuízo é de R$ 5 mil. "Espero que o seguro da Marina cubra. Se não, o meu cobre", completou. A administradora da Marina, de prenome Flora, confirmou que o estabelecimento tem seguro, mas não deu mais informações. 

Segundo moradores da região, as lanchas estavam dentro do estaleiro (em terra) quando o incêndio começou.

A professora Maria da Glória Saback, dona de outra lancha avaliada em cerca de R$ 80 mil, contou que paga R$ 950 para deixar a embarcação na Marina Bonfim."E pensar que eu saí com ela sábado e domingo para São Tomé de Paripe. Foi a minha despedida", comentou.Da lancha da família só restaram as cinzas. "Ela está nas cinzas. Fui lá e tava toda queimada. Eu nem sei se renovei o seguro. Lembro que fiz em 2016. Mas não sei se renovei. Na correria para vir pra cá, nem olhei os documentos", lamentou.

O diretor administrativo da associação, Alexandre Morgado, afirmou que a principal dúvida é saber se a Marina Bonfim tinha seguro para as lanchas abrigadas ou somente para o imóvel. Por isso, não se sabe ainda qual a dimensão do prejuízo.

"Ainda não dá pra pensar em valores nem nada, depende da investigação. Temos que saber ainda se a Marina tinha seguro pras lanchas ou só pra o prédio", disse Alexandre. Segundo ele, 35 das lanchas que ficam no local pertencem a associados. É possível ver fumaça em frente à Igreja do Bonfim (Foto do Leitor) Casa atingida Além do estaleiro, o incêndio também afetou a casa do soldador Adson Reis, 21, onde ele vive com o pai e a mãe. O imóvel fica no fundo do estaleiro e teve parte da estrutura atingida. "Muito calor nas paredes, a fumaça invadiu toda a casa e as paredes ficaram pretas, a pintura ficou estalada", contou Adson.

Segundo ele, o dono de uma das lanchas, que não se identificou, foi até a casa dele e disse que pagaria o prejuízo. Depois disso, o homem foi embora. "O dono de uma lancha aí disse que vai dar algum retorno, só que até o momento não veio. A dele teria começado o incêndio e ele disse que ia ajudar os custos", comentou o rapaz.

Junto com um tio, Adson ajudava a apagar as chamas jogando água e areia, já que os pais dele não estavam em casa. Por volta das 17h, o Exército evacuou a área. As embarcações que ficaram inteiras foram colocadas no mar para abrir espaço no local afetado.

No final da tarde, a enfermeira Shirlei Sanches, dona de uma das lanchas, esperava para poder entrar na marina e tirar fotos do que sobrou. Ela iria mandar as fotos para o advogado e garantir na Justiça o ressarcimento do seu prejuízo, avaliado em mais de R$ 70 mil. 

"Eu tava vendendo ela, mas nem consegui ver se a lancha está queimada. Mas acho que está. Ela estava dentro do galpão, atrás daquela lá", disse, com semblante triste, apontando para uma lancha da qual só sobrou a carcaça. A lancha era uma herança do falecido marido, que morreu em 2013 de câncer. A embarcação não tinha seguro. 

Já para o empresário Vinícius Nogueira, a história terminou com um final feliz. A lancha do seu sogro, avaliada em 500 mil reais, estava intacta, para alívio da família. A embarcação não tinha seguro. "Conseguimos tirar a tempo. Eu e p éssoal do Belvedere, Estaleiro, Pedra Furada. Agora eu continuo aqui, dando um apoio", falou o homem que ajudava a colocar as lanchas que estavam na marina na água. 

Ajuda A psicóloga Graciele Gentil, 25, mora na frente do estaleiro. Ela conta que começou a ver os primeiros sinais de fumaça por volta de meio-dia. "Eu estava na parte de cima da minha casa. Pensei até que tivessem queimando pneu, mas a fumaça preta foi aumentado e as explosões também. Tá todo mundo com as janelas fechadas por causa da fumaça", contou ela. 

Ainda segundo Graciele, uma senhora chegou a passar mal por causa do fogo. "Uma mulher desmaiou, mas o pessoal levou ela pro hospital. Tem muita gente aqui ajudando a acabar com o fogo. Já tiraram umas 20 lanchas de lá", disse, no final da tarde.

Morador da região, Devid Teles, 34, foi uma das pessoas que ajudou a retirar as lanchas do local. Ele afirmou que chegou a ver quando a primeira lancha começou a ser atingida pelas chamas. "Eu vi que pegou na primeira lancha lá no fundo. Aí foi pegando uma na outra. A comunidade que chegou retirando embarcações", disse.  Exército evacuou a área por volta das 17h (Foto: Carol Aquino/CORREIO) O bombeiro civil Jefferson de Souza, 29, que também mora na vizinhança, se voluntariou para ajudar no combate às chamas, mesmo estando de folga.

"A gente está puxando as lanchas que podemos para não pegar mais fogo. A gente foi nascido e criado aqui. Temos que ajudar. Vimos isso aqui se desenvolver. Conhecemos todos esses funcionários sem falar nos donos das lanchas que são gente boa", conta.

Foi a força dos moradores que fez a diferença. "No início, houve o apoio da população. Pedimos para que abafassem uma embarcação com areia e eles de pronto apoiaram", disse o Major Lima. Mas não foi só isso. Embora o incêndio tenha começado por volta do meio-dia, foram os moradores do Bonfim, Rua da Pedra Furada e Jardim Belvedere que começaram o combate às chamas. 

De forma improvisada, usaram baldes de água e de areia e mangueiras na tentativa de apagar as chamas. Os bombeiros foram acionados assim que apareceram os primeiros sinais de fumaça, mas populares apontam que eles demoraram cerca de uma hora e meia para chegar.

Horas depois do início das chamas, a presidente da Associação de Moradores do Jardim Belvedere, Marinalva Guimarães, olhava para a fumaça que ainda saía da marina e pensava no que tinha acontecido naquela tarde. Com dor de cabeça e com ânsia de vômito por causa da exposição às chamas, ela parecia não acreditar no tamanho do incêndio. 

"Foi assustador. O fogo chegou a entrar na garagem do prédio de lado. A gente estava com medo da explosão. O fogo se alastrou muito rápido. Enquanto a gente apagava o fogo em uma lancha outra começava a incendiar.", lembra. 

Moradora de uma casa em frente da Marina, dona Marinalva estava incomodada com o cheiro da fumaça que penetrou toda a casa, fora a fumaça. "Minha cortina que era branca está preta, as paredes estão sujas, meu sofá está cheio de fuligem preta", relata. 

O site da Marina Bonfim informa que existe um serviço de segurança especializada para atender às situações de emergência. O CORREIO tentou contato com a empresa, mas não conseguiu retorno – os telefones não atendem. No local, nenhum funcionário quis falar com os jornalistas.  Moradores tentam ajudar a conter incêndio (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Investigação No início da noite, a delegada adjunta da 3ª Delegacia (Bonfim), Zoraide Maceió, explicou ao CORREIO que, antes de falar sobre causas e responsáveis, é necessário realizar a perícia no estaleiro. "Ainda não podemos falar nada, porque a perícia não foi feita. Ela terá início assim que não houver mais nenhuma chama no local", comentou.

Até as 18h30, apenas o gerente do pátio havia sido ouvido pela delegada. Outras pessoas serão ouvidas após um novo depoimento do gerente."Ele disse que estava voltando do almoço quando viu o incêndio. Tentaram apagar com extintores, mas não conseguiram (de imediato)", afirmou a delegada.De acordo com o depoimento do gerente do estaleiro, o incêndio teve início com uma das lanchas, identificada como Santinha 3. Viatura voltou ao local após novo foco de incêndio ser identificado; fogo foi controlado (Foto: Carol Aquino/CORREIO) Sob controle Por volta das 18h, quando o incêndio já parecia controlado, um novo foco foi identificado e os bombeiros tiveram de acessar novamente a parte interna do estaleiro para controlá-lo. Uma das viaturas se posicionou e apagou o fogo.

Segundo o major Roberto Lima, do 1º Grupamento de Bombeiros Militar (Barroquinha), foram seis horas de trabalho ininterrupto no local até o que as chamas estivessem sob controle. Ainda de acordo com o chefe da operação, a estimativa é que entre 25 e 30 embarcações - incluindo lanchas, botes e motos aquáticas - foram danificadas de maneira completa ou parcial. Ainda conforme o major Lima, a maior dificuldade foi acessar o foco do incêndio. 

Sem plano emergencial O local não contava com equipamentos de combate às chamas, nem plano de combate a incêndios. de acordo com os bombeiros. “Aqui não tinha hidrante nem outros equipamentos, somente alguns extintores”, confirmou o major Roberto Lima.  

Ele diz que o plano de combate a incêndio era necessário por conta do que tinha no estaleiro. "Havia um certo risco porque o material era inflamável e havia combustível. Não sabíamos se as lanchas estavam abastecidas ou não. Houve pequenas explosões, mas ninguém se feriu", comentou o major.

Populares informaram que os poucos extintores disponíveis no local não foram suficientes para conter as chamas, de grande intensidade. Daí a população começou a recorrer a baldes e a mangueiras. Os bombeiros usaram pelo menos cinco carros pipa no combate às chamas: três do exército, um de populares e um dos bombeiros. 

Risco de desabamento Por conta da extensão das chamas, que atingiu inclusive imóveis vizinhos, houve uma orientação formal dos bombeiros, no local, para que moradores das casas ao fundo da Marina Bonfim deixem suas residências por causa das grandes nuvens de fumaça e do risco de desabamento.

Segundo o major Lima, há risco de desabamento do teto do galpão da marina. Nesta sexta (23), a perícia vai avaliar que risco as paredes e o teto estão correndo.

"A gente não sabe como o calor afetou a estrutura dessas casas. Só a perícia vai poder analisar isso amanhã", comentou o major, que informou que só não interditou as casas porque isso é uma competência exclusiva da Defesa Civil do Salvador (Codesal).