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  • Editorial

Publicado em 6 de agosto de 2017 às 20:50

- Atualizado há um ano

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Embora a vitória do presidente Michel Temer na votação da denúncia pela Câmara tenha aliviado setores do Palácio do Planalto, o placar final impõe ao governo a tarefa de recompor a base aliada com urgência. A aprovação das reformas econômicas necessárias à retomada do crescimento exige de Temer e seus articuladores políticos esforço concentrado para garantir no Congresso Nacional apoio suficiente ao andamento das medidas.

Os 263 votos obtidos pelo Planalto foram além do mínimo exigido para enterrar o caso no Supremo, mas não para levar a cabo mudanças na Previdência e no sistema tributário, dois grandes gargalos da economia. Apesar da posição contrária adotada pela bancada do PSDB na sessão da última quarta-feira, o tucanato não é problema de fato no futuro próximo. A pauta reformista é bandeira antiga do partido e dificilmente encontrará resistência entre seus líderes. O risco vem de outra direção.

Ao votarem pela continuidade da investigação, deputados de siglas antes aliadas ao PT e que migraram para a base de Temer sinalizaram a disposição em vender caro o apoio às reformas. O que, no jogo político, significa negociar cargos de destaque, liberação de verbas para seus redutos e medidas de interesse dos setores representados por grupos parlamentares. Em especial, os do PSD, PR, PP, PRB, PSC, Solidariedade e demais legendas agrupadas em torno do Centrão. Sem contar as dissidências isoladas do próprio PMDB.

A maioria dos votos de infidelidade foi decidida quando o Planalto já havia assegurado margem suficiente para vencer. Com isso, deputados do Centrão ficaram livres para demonstrar ao governo o grau de sua dependência ao Parlamento.  No mesmo compasso, os que ficaram ao lado de Temer, incluindo os aliados do PT na Bahia, também conquistaram uma importante arma de pressão. 

Tanto que começaram a cobrar ministérios e espaços nos escalões inferiores, hoje ocupados por integrantes da base que defenderam o afastamento do presidente. Fora a quantidade de emendas liberadas no calor da disputa e bondades concedidas à bancada ruralista em relação às dívidas previdenciárias. É aí que está o desafio do governo no caminho das reformas, que carecem de maioria absoluta no Legislativo para virar realidade.

Conhecido pela habilidade como articulador no Congresso e pela experiência no xadrez político com caciques partidários, Temer precisa agora reordenar os movimentos se quiser sair bem-sucedido com seu plano econômico.  Ceder demais a pressões de caráter não-republicano pode colocar o governo no círculo infinito vicioso do toma lá dá cá, onde se sabe quando a barganha começa, mas não como termina. 

Enquanto Temer se volta à reconstrução de uma base mínima para manter as reformas vivas, há variáveis que podem criar mais dificuldades ainda. No caso, novas denúncias no forno do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e eventuais delações com potencial de causar estragos muito maiores ao governo.