Mancini não precisava se desculpar

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Miro Palma
  • Miro Palma

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 05:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Depois da polêmica discussão com o jornalista Felipe Garraffa, da Rádio Bandeirantes, e de um áudio vazado em que comentava a situação em tom de deboche, Vagner Mancini pediu desculpas. Ele contestou os números, no mínimo, modestos apresentados pelo repórter durante a entrevista coletiva logo após o triunfo por 1x0 do Vitória sobre o tão temido Corinthians. Questionou se Garraffa era um torcedor do rival para avaliar de maneira tão parcial a partida. Reclamou de bairrismo.

A repercussão por lá, nos veículos do Sudeste ou nos nacionais com sede nessa região, foi de um exagero por parte do técnico. Por aqui, foi de compreensão, de partilha dessa indignação. Nas redes sociais, atual termômetro para todo tipo de polêmica, torcedores do rival Bahia compartilhavam o vídeo com o trecho do “escalde” na coletiva. Por lá, outros jornalistas acusavam Mancini de incitar a violência. Exagero também, não?

Não acho que Mancini devia desculpas ao presidente do Corinthians, aos torcedores ou ao clube. Nem durante a entrevista, nem no áudio vazado ele ofendeu o clube paulista. Tão pouco, acho que deveria pedir desculpas ao repórter. Talvez só pelo “babaca” dito no áudio. Não me entendam mal. Sou jornalista e sei que muitas vezes nossas preferências pessoais são questionadas sem motivo. Mas também sei que, em outras vezes, elas são questionáveis.

Felipe foi parcial, isso é um fato. Dizer que o Leão só teve uma finalização e, mais ainda, que entrou no Itaquerão para jogar por uma bola foi uma avaliação muito pobre da atuação do Vitória e dos méritos da equipe que bateu o, até então, invicto Corinthians. E isso tem muito mais a ver com o fato dele ser um jornalista do Sudeste do que ser ou não torcedor do Corinthians. Mas, irritado com o desmerecimento do seu trabalho, Mancini se sentiu no direito de questioná-lo sobre sua torcida. Achar isso um absurdo, incitação à violência e sei lá mais o que depois da análise do repórter e de sua pergunta ao técnico logo após o jogo é que é um exagero.

Não concordo com a perseguição sofrida pelo colega nas redes sociais a partir de postagens que ele fez anos atrás. Isso é errado. Mas, também, não é justificativa para relativizar a falha do repórter da Rádio Bandeirantes ou, ainda, para desqualificar a inconformidade do técnico.

O debate sobre o bairrismo que Mancini levantou é muito importante para o jornalismo, não só o esportivo. E a maioria dos veículos de comunicação do eixo Rio – São Paulo que trataram do assunto preferiu dar destaque à pergunta do treinador sobre o time do jornalista do que a essa questão. E o áudio vazado foi só mais um motivo para se varrer o ponto mais relevante dessa polêmica para debaixo do tapete.

E aí veio o pedido de desculpas. Por pressão ou iniciativa própria, Mancini preferiu a mea-culpa. Não precisava. Ele não errou. Debochou do repórter em um áudio para um grupo privado que veio a público e essa foi sua única falha nessa situação. Que atire a primeira pedra quem nunca fez o mesmo. Mas sua reclamação foi e é válida.

Existe sim o bairrismo no jornalismo, especialmente no esportivo, e ele precisa ser combatido. É razoável em veículos locais, que têm um público específico a ser alcançado, mas inadmissível em veículos de alcance nacional. Ainda mais quando falamos de um esporte que lida com o sentimento de paixão. É muito difícil para uma pessoa perceber que seu olhar está viciado, mas esse esforço diário deve ser feito por todos os profissionais que lidam com a informação.