Mar Grande: familiares e sobreviventes reclamam falta de assistência após tragédia 

Em audiência pública, empresa nega que não tenha ajudado as famílias

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  • Nilson Marinho

Publicado em 12 de setembro de 2017 às 11:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nilson Marinho/CORREIO

Familiares das 19 pessoas que morreram no acidente com o barco Cavalo Marinho I no dia 24 de agosto participam na manhã desta terça-feira (12) de audiência pública na Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo da Assembleia Legislativa, presidida pelo deputado Hildécio Meireles (PMDB). 

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Familiares e sobreviventes reclamam que não receberam a assistência da empresa CL Transportes depois da tragédia, inclusive, para os funerais. "Nossa família que teve que pagar o embalsamamento da minha mãe", afirmou o pescador Juracy Reis, 35 anos, filho da aposentada Edileuza Reis, 53. 

Os familiares e os sobreviventes também estão contestando que os passageiros tenham corrido para um único lado da embarcação.

"Umas três ou quatro pessoas passaram para o lado esquerdo da lancha. O barco ficou o tempo todo adernando na água. Eu ouvi muitas pessoas gritando socorro, bati de um lado e de outro e só encontrei lona. Nessa confusão, alguma coisa clareou e quando eu vi uma luz me joguei pra fora", disse o funcionário público Eduardo Aguadê, 64 anos, um dos sobreviventes.

Ele disse ainda que coletes salva-vidas e botes estavam amarrados. "Eu peguei um barco salva-vidas que, diga-se de passagem, estava amarrado em outros dois. Ficamos mais de duas horas em alto-mar esperando um socorro. Foi omissão. Aquela criança ficou por duas horas na água. Esse plástico que fica na lateral não pode existir, essa lona tem que ser trocada", conta o sobrevivente. 

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Em nota à imprensa distribuída na Alba, a CL Transporte Marítimo informou que logo após o acidente disponibilizou uma equipe de assistentes sociais e psicólogos para fazerem o acolhimento às famílias. "Além do trabalho de assistência social e psicológica, a equipe da CL está cadastrando as necessidades dos passageiros. A maior parte dos pedidos se referem a aparelhos de telefone celular, óculos e outros itens perdidos além de outros itens extraviados. Nesse caso, a empresa já fez um pedido à Agerba (agência estadual que regula o serviço)- para que uma unidade móvel do SAC seja deslocada para Vera Cruz para atender de forma mais rápida a comunidade".

O advogado Márcio Tinoco responsável pela defesa da Vera Cruz, que também realiza a travessia Mar Grande-Salvador, disse que a empresa chegou a prestar socorro às vítimas. No entanto, sobreviventes relataram que uma embarcação da empresa passou no momento do naufrágio mas seguiu viagem. Policiais que também estavam na Cavalo Marinho I atiraram para cima com o objetivo de chamar atenção dos tripulantes - outra denúncia, à época, é de que não havia sinalizadores na embarcação.

"Acho que é prematuro falar sobre a omissão de socorro dadas as próprias circunstâncias de vento, navegação, visibilidade e o próprio horário. A própria Vera Cruz quando soube do acidente, imediatamente, socorreu aproximadamente 9 ou 10 pessoas com vida em uma outra lancha", afirmou.  

Um representante da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) e o dono da empresa CL Empreendimentos, responsável pela embarcação Cavalo Marinho I, foram convidados a compor a mesa mas não compareceram. Durante a audiência, vítimas e familiares tiveram três minutos para falar. Já os representantes, vereadores e deputados estaduais falaram durante cinco minutos.  

A Agerba, órgão do governo do estado responsável pela regulação do serviço, participou do encontro. "Eu venho acompanhando as reivindicações. A Agerba vem atuando no papel de cumprimentos de horários, se as lanchas estão sendo embarcadas com um número maior de passageiros, o que não foi o caso do acidente. Um fiscal não detém  de autoridade para se dirigir a um comandante e falar sobre as condições de navegação", afirmou diretor de fiscalização da Agerba, Luciano Machado.

Durante a audiência, o deputado Hildécio Meireles (PMDB) sugeriu a criação de um grupo de trabalho, com a participação de representantes da sociedade civil, Ministério Público da Bahia (MP-BA), poder executivo estadual e municipal, para ajudar na fiscalização das travessias marítimas feitas em todo o estado .

CPI A audiência terminou por volta das 13h, quando foi decidida a criação de um grupo de trabalho e a proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Alba. De acordo com o deputado Meirelles, o grupo de trabalho visa estudar os problemas que existem na travessia Salvador-Mar Grande e oferecer sugestões e até mesmo projetos de lei para melhorar o serviço ofertado. O grupo será formado por membros do poder Legislativo estadual, do poder Legislativo municipal de Vera Cruz e de Itaparica e integrantes da sociedade organizada. 

"Vamos tentar ter acesso aos contratos de concessões para verificar eventuais falhas que existem e ver se os requisitos estão sendo cumpridos e, caso não, apurar as medidas tomadas pela Agerba", explicou o deputado.

Para a CPI ser instalada na Alba, é necessário a assinatura de 21 parlamentares. "Nós esperamos que os deputados da base do governo entendam a necessidade dessa investigação e contribuam para a abertura desse inquérito", disse.

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