Mesmo com 14 indicações, La La Land é contestado; premiação acontece no próximo domingo

Oscar deste ano chama a atenção pelo recorde de indicações de musical e pelo número de artistas negros concorrendo

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  • Roberto Midlej

Publicado em 19 de fevereiro de 2017 às 09:45

- Atualizado há um ano

La La Land concorre a 14 Oscars, mesma marca de A Malvada (1950) e Titanic (1997) (Foto: Divulgação)

As 14 indicações de La La Land ao Oscar, cuja cerimônia de premiação acontece no próximo domingo (26), não tornaram o filme uma unanimidade. Tanto que, ultimamente, falou-se até em um Fla x Flu nas redes sociais, entre os fãs e os detratores do musical.Adolfo Gomes, crítico de cinema e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), não chega a ser um detrator, mas tem ressalvas: “Inicialmente, gostei do filme. Mas o diretor, Damien Chazelle, não tem uma poética própria. Há cineastas mais velhos, como Clint Eastwood, que são nostálgicos. Mas,  no caso dele, que tem 87 anos, é natural. No caso de Damian é estranho, porque tem pouco mais de 30”.O cineasta de La La Land pode se tornar o mais jovem da história a levar o prêmio de melhor diretor, batendo Norman Taurog, que era poucos meses mais velho que ele quando venceu a estatueta por Skippy, em 1931.Já o também crítico de cinema e mestre em comunicação paulista Franthiesco Ballerini,  35, quase não vê méritos no musical que desponta como favorito: “O roteiro tem muitos clichês e repete o formato que os filmes medianos americanos usam, com o branco loiro ‘perdedor’ e a branca loira, também perdedora, que, no fim, se tornam ganhadores. E, para aumentar o clichê, a vitória dos protagonistas vêm por meio do trabalho”.Para Franthiesco, nem os protagonistas, que concorrem em suas respectivas categorias, merecem destaque: “Não são fora de série. Mas o Oscar não se preocupa em premiar a melhor atuação. Basta ver o caso de Jennifer Lawrence, que em 2013 levou o prêmio de melhor atriz em vez de Emmanuelle Riva”.

O crítico não vê chance de La La Land fazer um resgate do gênero musical: “Ao contrário, acho até que pode afastar as novas gerações dos musicais. Os jovens querem roteiros criativos, diferentes”. Adolfo Gomes vê um motivo para o alto número de indicações: “A formatação do filme permite esse índice elevado. Veja que ele concorre duas vezes em canção e também está em trilha. E é natural que ele esteja em categorias como direção de arte”. Outros filmes, com um enfoque mais dramático, não têm potencial em tantas categorias, ressalta o crítico. Os fãs de La La Land, apesar do recorde de indicações, ainda não devem comemorar, afinal, o Oscar já revelou grandes derrotados, como A Cor Púrpura (1985) e Momento de Decisão (1977): os dois concorriam a onze prêmios, mas saíram de mãos vazias. E, no ano passado, os dois filmes com o maior número de indicação, O Regresso e Mad Max, não levaram o prêmio de melhor filme. Atrás de La La Land vêm o drama Moonlight: Sob a Luz do Luar, e a ficção científica A Chegada, com oito indicações. Já Manchester à Beira-Mar e Até o Último Homem foram lembrados em seis categorias.Mais negro

Moonlight, que busca uma premiação na categoria principal, aborda a questão racial nos Estados Unidos, assim como outros dois concorrentes: Estrelas Além do Tempo e Um Limite entre Nós. Em Estrelas Além do Tempo, três mulheres negras lideram uma das maiores operações tecnológicas registradas na história dos EUA (Foto: Divulgação)Neste ano, há artistas negros concorrendo nas quatro categorias de interpretação, ao contrário do ano passado, quando a ausência de afro-americanos provocou a campanha #OscarSoWhite, na internet. Moonlight, Estrelas Além do Tempo e Um Limite entre Nós também podem levar a estatueta de melhor roteiro adaptado. E há ainda um negro, Barry Jenkings, concorrendo a melhor diretor.Adolfo analisa a polêmica sobre a ausência de negros no ano passado: “Isso chamou a atenção, mas acho que precisamos ter cuidado para não patrulhar a arte. Qualquer patrulha é preocupante. Primeiro, devemos olhar para o filme. As discussões raciais ou de gênero são muito importantes, mas devem se dar também no plano artístico”.O crítico lembra que em 2014 um filme de temática racial, Doze Anos de Escravidão, venceu o prêmio principal. E o diretor, negro, disputou a estatueta, embora tenha perdido para Alfonso Cuarón.Franthiesco também acredita no risco de patrulhamento: “Mas, nesse caso, trata-se do patrulhamento à indústria e não à arte, já que o Oscar primeiro premia a indústria. Estão revertendo o que ocorreu no ano passado e isso ocorre quando Trump, de quem Hollywood não gosta, foi eleito presidente”. A temática negra se estende também à categoria de documentários: Eu não Sou seu Negro discute questões raciais a partir do escritor negro James Baldwin (1924-1987). O longa A 13ª Emenda discute o dispositivo constitucional que aboliu a escravidão. Já O.J.: Made in America narra a história de OJ Simpson, atleta acusado de matar a esposa.

Os indicados nas principais categorias

FilmeA Chegada; Até O Último Homem; Estrelas Além do Tempo; Lion: Uma Jornada para Casa; Moonlight: Sob a Luz do Luar; Um Limite entre Nós; A Qualquer Custo; La La Land; Manchester à Beira-Mar

Diretor  Dennis Villeneuve (A Chegada); Mel Gibson (Até O Último Homem); Damien Chazelle (La La Land: Cantando Estações); Kenneth Lonergan (Manchester à Beira- Mar); Barry Jenkins (Moonlight: Sob a Luz do Luar)

Ator Casey Affleck (Manchester à Beira- Mar); Denzel Washington (Um Limite entre Nós); Ryan Gosling (La La Land); Andrew Garfield (Até o Último Homem); Viggo Mortensen (Capitão Fantástico)

Atriz  Natalie Portman (Jackie); Emma Stone (La La Land - Cantando Estações); Meryl Streep (Florence: Quem É Essa Mulher?); Ruth Negga (Loving); Isabelle Huppert (Elle)

Ator coadjuvante Mahershala Ali (Moonlight: Sob a Luz do Luar); Jeff Bridges (A Qualquer Custo); Lucas Hedges (Manchester à Beira- Mar); Dev Patel (Lion: Uma Jornada Para Casa); Michael Shannon (Animais Noturnos)

Atriz coadjuvante  Viola Davis (Um Limite entre Nós); Naomi Harris (Moonlight: Sob a Luz do Luar); Nicole Kidman (Lion: Uma Jornada para Casa); Octavia Spencer (Estrelas Além do Tempo); Michelle Williams (Manchester à Beira-Mar)