Morcegos aterrorizam bairro do Santo Antônio

Autoridades confirmam 17 casos de ataques a pessoas em menos de uma semana. Vítimas estão em tratamento anti-rábico e moradores apontam mais três ataques

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  • Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2017 às 05:35

- Atualizado há um ano

A professora Valdirene entrou em desespero quando viu o morcego(Foto: Betto Jr./CORREIO)Era mais ou menos 1h30 da madrugada e Valdirene dormia sossegada. De repente, uma leve picada no dedão do pé direito. Ela acordou, mas voltou a dormir em seguida. Minutos depois, sentiu o colchão molhado. Levantou e acendeu a luz. Que susto! O seu próprio sangue ensopava o lençol no pé da cama.

Uma das primeiras vítimas de ataques de morcegos ocorridos na última semana no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico, a professora Valdirene Meira da Cunha, 42 anos, viu relatos semelhantes ao seu se multiplicarem. No total, os moradores contabilizam 20 ataques desde o dia 4 de maio. A maioria teria ocorrido na Rua dos Ossos.

O Hospital Couto Maia confirmou que 17 pessoas iniciaram tratamento com sorologia e vacinação anti-rábica, já que morcegos são transmissores da raiva, doença mortal em 100% dos casos diagnosticados. De anteontem para ontem, os moradores informaram a ocorrência de mais três casos, totalizando 20 ataques.

“Quando acendi a luz, não acreditei. Era muito sangue. Foi quando olhei para o teto e vi o morcego. Que desespero!”, narra Valdirene, que reside na casa 62 da Rua dos Ossos. O marido e cunhado também foram mordidos nos dias anteriores: “Mas, no caso deles, não vimos morcego. Ficamos sem saber. Meu cunhado achou que era um rato”.

Ajuda Os moradores que sofreram os ataques procuraram postos de saúde, de onde foram encaminhados para o Hospital Couto Maia, referência no tratamento de doenças infecciosas e parasitárias. Eles deverão tomar cinco doses de medicações ao longo de 28 dias.

Por conta dos casos, a Secretaria  Municipal de Saúde de (SMS), através da Vigilância Contra a Raiva, foi até o bairro anteontem e avalia como combater o problema. Um dos morcegos foi levado por um para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen).

O Couto Maia espera que os pacientes tenham procurado ajuda a tempo. “Uma vez feita a profilaxia, o tratamento, a gente espera que eles não tenham nenhum problema”, diz o infectologista Fábio Amorim, coordenador do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie).

Ataques noturnosOs morcegos só atacam à noite. Em todos os casos, os moradores dormiam. Desde então, aliás, não conseguem mais pregar os olhos. “Todo mundo de luz acesa a noite inteira. Janelas fechadas, tudo fechado. As pessoas estão com medo. Como é que dorme?”, pergunta Valdirene.

Na maioria dos ataques, o morcego mordeu um dos dedos do pé. Apenas uma pessoa foi mordida na perna e outra no cotovelo. “Eu li que eles procuram áreas onde tem vasos sanguíneos”, disse a psicóloga Maira Omid, 26, que também mora na Rua dos Ossos.

Os relatos são semelhantes. “Eu estava dormindo e acordei com a cama molhada”, narra, sem se identificar, outro morador, mordido no dedão do pé. O que assusta é a quantidade de sangue. “A cama ficou molhada. A gente não sabia de onde veio tanto sangue”, diz a representante de produtos hospitalares Cássia Pessoa, 40. Casarões fechados são propícios a abrigar morcegos(Foto: Betto Jr./CORREIO)VampiroAinda não se sabe exatamente o que tem motivado os ataques. Acredita-se que se trata de morcegos do tipo hematófago ou vampiro, que se alimentam de sangue. “De fato, é um número de ocorrências maior do que se registra”, afirma o veterinário chefe do Setor de Vigilância Contra a Raiva do CCZ, Haroldo Carneiro.

Ele acredita que o problema é fruto do desequilíbrio ambiental. “O que mais parece é que esses morcegos estavam habitando outra área que passou por uma mudança. Até o tronco de uma árvore pode ter sido derrubada e eles procuraram um abrigo artificial. Por acaso, nessa área a fonte de alimentação é humana”, explica.

Os morcegos podem ter vindo longe. “Podem voar cerca de 20 quilômetros em uma noite”, observa. A questão é que o Centro Histórico é uma área propícia para eles se abrigarem. “Tem vários casarões que servem de abrigo. Ao mesmo tempo, é uma região que não tem animais que são fonte de alimentação predileta dos morcegos, que são os bovinos e equinos. Acabam recorrendo a cães e a pessoas”. Imóveis tombados são de responsabilidade do proprietário ou do órgão tombador.

Os próprios moradores concordam. “Tem muitos casarões abandonados e vazios. Alguns estão lacrados porque são tombados. A gente não consegue nem entrar. Os morcegos com certeza entram pelo teto”, diz a moradora Maira Omid. “Se as autoridades não resolverem isso logo, a gente vai ser obrigado a chamar o Batman”, brinca.