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Miro Palma
Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 05:21
- Atualizado há um ano
Volta e meia, abro meu perfil no Twitter e encontro várias pessoas questionando para que time vai a minha torcida. É impressionante como isso desperta o interesse dos leitores e seguidores que acompanham o trabalho de jornalistas da imprensa esportiva. Eu nunca escondi meu time do coração, mas compreendo quem opta por esse sigilo. O ato de torcer é movido pela paixão e, por isso, pode andar na contramão da razão. Essa equação faz com que muitos comecem a questionar posicionamentos, críticas e avaliações, considerando que tudo que o profissional faz ou fala pode estar contaminado pela sua torcida. Mas não é por aí.
Mais do que revelar o meu time, tento sempre explicar como funciona para mim essa relação de emoção e profissionalismo. Nem sempre consigo, mas não perco essas oportunidades como agora, por exemplo. O futebol entrou na minha vida assim que o ultrassom da segunda gestação de minha mãe apontou que eu era um menino. A bola foi o primeiro brinquedo que ganhei, assim como a maioria dos garotos da minha geração. Fico feliz em saber que ela, também, tem se tornado o primeiro presente de muitas meninas das novas gerações. O futebol é uma herança familiar e como tal, você não escolhe, apenas reconhece.
O Jornalismo eu escolhi. Foi o caminho que eu resolvi seguir enquanto profissional. Não foi a minha primeira opção, mas foi aquela com a qual eu me identifiquei, a que me arrebatou. É também uma paixão, mas essa não me foi dada, foi conquistada. Até aí, nada de diferente da realidade da maioria dos profissionais ou torcedores de todas as áreas e times. Porém, amigos, essas duas paixões no meu caso – e de todos os jornalistas esportivos – se cruzam diariamente. E é aí que mora o problema.
É muito comum ver torcedores, do alto das suas emoções, confundirem um comentário sobre o seu time – especialmente os negativos – como resultado da preferência do jornalista que o proferiu. É como se nunca, em nenhuma hipótese, conseguíssemos tirar a camisa dos nossos clubes para falar de forma isenta. O que é uma completa ignorância. Mas, é, justamente, essa incompreensão que leva muitos profissionais a omitir o seu time. Muitos outros, por sua vez, não se abalam com esse risco e não têm medo de falar para quem torcem quando não estão em horário de trabalho como o flamenguista Galvão Bueno, o corintiano Juca Kfouri, o palmeirense Mauro Beting e o santista Milton Neves, por exemplo.
Eu já fui setorista do Bahia e do Vitória. Participei da cobertura de jogos como o 7x3 do rubro-negro sobre o tricolor, no primeiro jogo da final do Baianão de 2013, e o 2x0 em que o Bahia eliminou o Vitória, na semifinal da Copa do Nordeste do ano passado. Nas duas ocasiões, quem estava no estádio era o jornalista Miro Palma. Porque, acreditem, até a relação com o estádio é diferente quando se está trabalhando. E não é só por não estarmos nas arquibancadas, é pela postura que a profissão exige na cobertura desses eventos.
Antes de ler, ver ou ouvir alguma matéria, reportagem ou resenha esportiva, lembre-se que o profissional que assina aquele conteúdo é um torcedor, mas isso não o invalida. O Bahia pode ter entrado primeiro na minha vida e, desde então, se mantido como uma das minhas grandes paixões. Mas, atualmente, antes de ser um tricolor, eu sou um jornalista.* Miro Palma é jornalista e subeditor de Esporte