Prevenção a favor do Pelourinho

Sosthenes Macêdo é diretor-geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal)

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  • Da Redação

Publicado em 2 de março de 2018 às 01:15

- Atualizado há um ano

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O conjunto arquitetônico do Pelourinho, que forma um sítio histórico/arqueológico de valor inestimável, tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, não pode ficar à mercê da própria sorte como constatamos em novembro do ano passado, quando um incêndio destruiu a Saladearte Cine XIV devido à inexistência de hidrantes funcionado no entorno, o que dificultou o combate ao fogo pelo Corpo de Bombeiros.

A ocorrência, que felizmente não se alastrou para outros imóveis, disparou o alarme para a necessidade de inserir uma agenda que permita construir capacidades e fortalecimento de planos de gestão de risco de desastres naquela poligonal. Esse esforço se traduz na formatação de um plano de contingência destinado a evitar futuras ocorrências e que poderiam resultar em perdas irreparáveis, de impacto emocional e econômico.

Vários são os precedentes a nos alertar, mas citaremos aqui o ocorrido no histórico bairro do Chiado, em Lisboa, em muito semelhante ao nosso Centro Histórico. Em 1988, um incêndio destruiu 18 edifícios datados de 1755. Constatou-se a falta de separação corta-fogo nos edifícios, aliada à dificuldade de acesso dos bombeiros pelas ruas estreias do bairro, cenário similar ao ocorrido no incêndio do Cine XIV.

Como sua principal missão, cabe à Defesa Civil garantir a segurança global da população, não apenas frente aos desastres naturais, como os ocasionados pelas intempéries climáticas, mas também antecipar e adotar medidas preventivas que contribuam para reduzir riscos de perda de sítios históricos.

Logo após o incêndio, convocamos uma reunião, realizada na Codesal, na qual compareceram representantes do Corpo de Bombeiros, da Embasa e de gestores municipais, para iniciar a discussão sobre a elaboração de um Plano de Prevenção e Contingenciamento para o Centro Histórico de Salvador. O principal propósito seria o de ampliar a segurança da região e envolver a comunidade na prevenção de incêndios e desabamentos.

A materialização dessa intenção terá início no workshop que a Prefeitura de Salvador e a Codesal realizarão na próxima terça-feira, no Teatro Gregório de Mattos, quando painelistas e debatedores de órgãos representativos como o Iphan, Crea, CAU, ABIH, Cofic e Fundação Mario Leal Ferreira estarão discutindo as propostas para a elaboração do documento. Várias são as urgências, a exemplo da execução do georreferenciamento e vistoria técnica dos hidrantes e do estabelecimento de estratégias de mobilidade para o Corpo de Bombeiros.

É indispensável ainda a capacitação dos comerciantes da área para que possam integrar brigadas emergenciais de combate a incêndios na região, além da formação de Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil (Nupdec), passos que serão adotados na sequência dos trabalhos.

Muitos são os desafios, mas nos sentimos realizados em assumir o protagonismo de levantar a discussão e materializar medidas de proteção ao nosso patrimônio histórico e cultural contra fatalidades. O sucesso da empreitada requer total compromisso da comunidade e colaboração conjunta dos órgãos que participam do Sistema Municipal de Defesa Civil (SMDC).

Sosthenes Macêdo é diretor-geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal)