'Quando tinha problema, ele chamava papai': veja casos de alienação parental

Na Bahia, dos 13 mil processos de divórcio encerrados em 2016, só 434 fizeram acordo por guarda compartilhada

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  • Verena Paranhos

Publicado em 9 de setembro de 2017 às 05:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Brisa Dultra/CORREIO

No Brasil, a Lei da Alienação Parental, que completou 7 anos no dia 26 de agosto, é uma das mais avançadas do mundo, mas ainda requer aperfeiçoamento. Dos 13 mil processos de divórcio encerrados na Bahua em 2016, só 434 fizeram acordo por guarda compartilhada. Leia abaixo depoimentos de dois pais e uma avó que sofrem com ações alienantes. 

“Pai não visita, pai convive” Jaime Córdova, 46 anos, só queria ser pai de Nicholas, hoje com 7. Não aquele que paga pensão e vai uma vez por ano na festinha que lhe é dedicada. “Pai não visita, pai convive”, diz, com os olhos úmidos. O professor sonhava com os dias em que poderia buscar o menino na escola, sair por aí pedalando em uma bicicleta adaptada e depois ensiná-lo a surfar. Foram três anos de luta pela guarda compartilhada e contra ações alienantes da mãe do garoto. “Por ter Down, Nicholas falava muito pouco. Mas, quando tinha algum problema na escola, chamava ‘papai’. Não desisti por causa dele”. No período, Jaime foi internado diversas vezes por estresse, gastou o dinheiro que não tinha com advogado e saiu da batalha 15 quilos mais magro. Qualquer um que o escute contar sua história se emociona por ele ter feito mais do que o possível para exercer seu dever. E continua fazendo. Jaime criou a Nicho Down, associação que promove ações que buscam desmistificar a Síndrome de Down e incluir seus portadores.  Jaime tem a guarda compartilhada de Nicholas desde abril de 2016 (Foto: Brisa Dultra/CORREIO) “Não consigo nenhum tipo de notícia” O reino de Matheus Silva, de 41 anos, tem duas princesas que ainda não se conheceram. A mais nova veio ao mundo esta semana. A primeira, de 9 anos, foi levada pela mãe para  outro estado. “Tudo sem meu conhecimento e sem meu consentimento. Estou sem contato nenhum. Não consigo nenhum tipo de notícia. Não sei como ela está na escola, como está a saúde”, conta o representante comercial. O afastamento total foi a última e mais grave atitude da mãe alienadora. Tudo teve início com acusações comuns na separação, que transformaram o representante comercial em vilão da história contada e recontada para a filha. “A mãe disse que eu iria tomar o carro, fazer a menina andar a pé, além de despejá-las. Começou a usar contra mim os bens do casal que estavam na partilha”. E só piorou quando ele recomeçou a vida afetiva. “A menina começou a dizer que não aceitava como irmã a bebê que ia nascer”. Matheus Silva não tem contato com a filha mais velha há meses (Foto: acervo pessoal) “O tempo da criança é diferente” Lívia Sampaio, 52 anos, só quer ser avó. Levar a neta de seis anos ao cinema, passear com a garota em uma cidade grande e mimá-la com presentes. Mas a princesa dessa história mora num reino “tão tão distante”, a mais de 4 mil quilômetros, no interior da Argentina, e tem uma mãe que dificulta a aproximação da família brasileira. “O tempo da criança é diferente do tempo do adulto. Já perdemos quatro anos da vida dela”, conta Lívia. Depois de inúmeras tentativas de diálogo e “intermináveis” audiências para regulamentação de visitas, a avó recebeu uma advertência da Justiça argentina para que parasse de falar sobre o tema.  Como uma das especialidades das avós é contar histórias, Lívia resolveu contar a sua e a de outras famílias que lutam contra a alienação parental. Ela está produzindo o documentário Tranças, que conta com uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Kickante até 13 de setembro. Lívia Sampaio está fazendo um documentário sobre alienação parental: avó briga na justiça argentina pelo direito de visitar a neta  (Foto: Reprodução)