Sedentarismo mata 300 mil pessoas por ano no Brasil, diz ONU

PNUD produz relatório sobre esportes e atividade física no Brasil e lança Prêmio para incentivar projetos inovadores

Publicado em 29 de abril de 2016 às 15:58

- Atualizado há um ano

A cada ano, cerca de 300 mil brasileiros morreram em decorrência de doenças relacionadas à inatividade física. Em outras palavras, o sedentarismo, que também mata 5,3 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, vem causando no Brasil uma epidemia de doenças relacionadas à inatividade.

O incentivo à prática de atividades físicas para a população adulta, diariamente, e mesmo no ambiente de trabalho, além do incentivo à prática esportiva prazerosa já na infância, sobretudo nas escolas, é o objetivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil ao lançar, nesta sexta-feira (29) o prêmio Mais Movimento. A iniciativa busca conscientizar a sociedade para a importância da atividade física e, ainda, instrumentalizar iniciativas abrangentes.Foto: Clarissa Pacheco/CORREIOPara o coordenador-residente do Sistema das Nações Unidas e representante-residente do PNUD no Brasil, Niky Fabiancic, a epidemia de doenças relacionadas à inatividade vem passando despercebida e provocando cada vez mais mortes por doenças crônicas não transmissíveis, como a hipertensão e o diabetes.

“Quantas pessoas fazem 30 minutos de atividade física por dia? Quem não faz, deveria comer hoje, já. Apenas 30% da população global é fisicamente ativa e, destes, apenas 2% a 5% fazem pelo menos 30 minutos de atividades físicas por dia”, aponta Fabiancic.

Conforme dados do Ministério do Esporte, cerca de 55% dos brasileiros têm algum envolvimento com atividades físicas ou esportivas. No conjunto das capitais, 41,6% dos homens praticam atividades físicas – o número cai em relação às mulheres ativas: 30,4%. A ONU também observou que homens brancos e com nível de escolaridade elevada têm sete vezes mais chance de praticar atividades físicas do que mulheres negras com baixo nível de escolaridade.

“A população fisicamente ativa vem decaindo ano após ano. Precisamos acabar com esse ciclo. Uma das formas de tornar o Brasil mais ativo é incorporar o movimento ao dia a dia dos brasileiros, de forma criativa e prazerosa”, completa Niky Fabiancic. A coordenadora do PNUD no Brasil Maristela Baioni explica que o país está na média de inatividade de outros países ao redor do mundo, mas os níveis de obesidade, por exemplo, têm crescido. “Como a gente vai ter um país com um nível de IDH positivo se a gente tem índices assim crescendo?”, questiona.

RelatórioUma das atividades do PNUD no sentido de chamar a atenção da sociedade para a importância de se movimentar é a formulação do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional sobre Esportes e Atividade Física. Em parceria com os ministérios da Educação, Esporte e Saúde, o PNUD vem utilizando dados do Censo Escolar, da prova Brasil e da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) para avaliar as relações entre a prática esportiva e o desempenho escolar dos estudantes.

Já foi provado, por exemplo, que estudantes inativos aprendem menos e que adultos inativos têm menos autoconfiança e são profissionalmente menos produtivos.

Uma segunda etapa da pesquisa que dará origem ao relatório contará com uma abordagem telefônica junto às escolas do país e uma pesquisa em campo com 50 escolas selecionadas para compreender melhor como funciona a atividade física nas escolas brasileiras.

Um termômetro para essa pesquisa é o Projeto Escolas e Comunidades Ativas, aplicado como piloto em nove escolas da rede pública municipal do Rio de Janeiro, que visa tornar mais ativas as crianças entre 6 e 12 anos, tornando a atividade física uma ferramenta de aprendizado de outras disciplinas.

O relatório que está sendo preparado é inédito no mundo. O último documento do tipo foi feito em nível global em 1990 e deu origem ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O Relatório preparado agora pelo PNUD no Brasil deverá ficar pronto entre o final deste ano e o início de 2017, de acordo com Maristela Baioni.

Prêmio Mais MovimentoNesta sexta-feira (29), o PNUD lançou o Prêmio Mais Movimento, que vai identificar e chancelar três iniciativas inovadoras e que promovam a prática regular de atividades físicas em todas as faixas etárias. As inscrições são gratuitas e seguem até o dia 29 de maio através da internet, no site da iniciativa.

Qualquer um pode participar da disputa, mesmo sendo menor de 18 anos. A premiação também não faz distinção entre iniciativas tomadas por empresas, institutos ou por órgãos públicos, nem de ideias de pessoas comuns. Valem ideias como aplicativos que incentivem a prática da atividade física, compartilhamento de bicicletas, criação de ambientes para prática esportiva, organização de grupos para se exercitar, etc. O que o PNUD recomenda é que a atividade seja feita de forma adequada, e não prejudicial à saúde. As iniciativas também precisam ter sido implantadas há pelo menos seis meses.

“Queremos disseminar informações sobre a importância da prática de atividade física, alertar a sociedade sobre a gravidade da inatividade física e, principalmente, incentivar organizações de todos os setores a criar projetos inovadores que promovam a atividade física e experiências positivas como o esporte”, afirma Niky Fabiancic.*A repórter viajou a convite do Programa Nacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)