Seja bem-vindo de volta, Ba-Vi

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  • Gabriel Galo

Publicado em 2 de abril de 2018 às 12:36

- Atualizado há um ano

A semana que antecedeu o primeiro Ba-Vi da final do Campeonato Baiano de 2018 foi de estranho silêncio. Quase nada de pirraça, de provocação. Estava todo mundo armado, em guarda. Na memória, ainda em tinta fresca, as lembranças tristes do último clássico. Colaborando para o clima bélico, o MP sacou do coldre sua arma mais letal: a torcida única. Haja infâmia!

A torcida tricolor, que não estava nem aí para essas coisas, estava era lá na Arena. Recebeu com entusiasmo o elenco ainda na ladeira, que teve que atravessar a multidão em meio a gritos empolgados e empolgantes. A festa da torcida do Bahia na recepção do ônibus é tão estimulante que deveria ser substância proibida pelo antidoping. Injeção de adrenalina na veia!

A bola rolou e as duas equipes se estudando. De vez em quando, uma dividida mais ríspida, “vixe...”, “é agora!”, suspiravam todos que acompanhavam esperando a pancadaria.

Aos poucos, o peso do medo da guerra foi sendo substituído pela leveza de um jogo de futebol. E o cardápio era vasto! Teve “de um tudo”. Teve defesa mirabolante. Teve tento cara-a-cara perdido de um lado, que abriu espaço para bela trama do outro, de pé em pé, com direito a gol duvidoso. Teve goleiro salvando com a mão fora da área. Teve pênalti que foi-mas-não-foi, com dancinha que pode-mas-não-pode! Teve, em mais uma insinuosa e insinuante troca de passes, tabelinha saudosista, a redonda nas redes pelos pés menino de ouro da base rubro-negra.

Na receita de um grande clássico, foram salpicados inúmeros dribles desconcertantes e outros lances não tão tecnicamente plásticos (olha a “braga” gourmetizada). Houve até espaço para o inacreditável! Honrando o 1° de abril, num milagre do futebol, certo volante projeto-de-jogador-de-vôlei do Vitória conseguiu cabecear uma bola para fora de sua área sem utilizar as mãos.

Em outro, impetuoso zagueiro do Bahia, após entrada bruta, até cumprimentou o adversário depois de tranquila conversa. Será o impossível? Quando esperávamos a certeza da violência, qual o quê!, vimos um espetáculo tenso, digno de final, jogado lealmente, na bola.

Pois que nesta segunda que se ergue, a resenha vai tomar conta. Vão discorrer sobre fatos e opiniões em acaloradas mesas-redondas e nas beligerantes timelines. Vão comemorar, vão espernear, reclamar do pênalti, xingar a quinta geração de vossa excelência seu juiz, ver e rever os gols, “estava impedido!”, “aonde?”, “você é cego?”, “chora menos”.

Exaltarão Luan e Marco Antônio, jovens promessas que desfilaram arte e futuro no campo de jogo. Os mais estatísticos analisarão os esquemas táticos e os números – que sob pressão, confessam o que você quiser. Com a leveza da nuvem negra dissipada, torcedores voltarão com o escárnio. Vai sobrar bicho na boca do povo, sardinha prum lado, galinha pro outro, num aperto de mente danado que ajuda a definir a baianidade.

Ba-Vi é de outra monta, minha gente. É o mundo invertido da expectativa. É barril dobrado! Brinca com nossas certezas. Podemos esperar e torcer apenas pelo imponderável. Nem que seja para que finalmente possamos debater apenas as idiossincrasias no campo de jogo, depois de um belo clássico como o de ontem, que deixou o título em aberto.

Seja bem-vindo de volta, Ba-Vi. Estava com saudades. Até domingo que vem.

Gabriel Galo é escritor.