Sobre primeiro chefe negro e afins

Senta que lá vem...

  • D
  • Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2017 às 11:02

- Atualizado há um ano

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Toda vez que leio algo tão importante para o nosso tempo, reflito nas entrelinhas de alguns comentários que tentam minimizar o pensamento anti-racista. E por quê?

Somos diferentes por dna, por características biológicas. Brancos são diferentes de brancos. Negros são diferentes de negros. Amarelos são diferentes de amarelos. Isto nos torna únicos, nossas diferenças naturais.

Quando vivemos, enquanto humanidade, a partir de uma experiência distorcida de domínio sobre o outro, a escravidão, se torna muito difícil de perceber os efeitos desta subjugação pela história. É como se isto fosse naturalizado. Incorporado a um sistema de pensar e viver que nos pune pelas diferenças erradas e não nos exalta pelas diferenças certas.

Dodo Azevedo, neste texto "inconveniente" (referência ao texto publicado na Folha de São Paulo pelo roteirista sobre ter seu primeiro chefe negro em seus mais de 40 anos) expõe a conveniência desta invisibilidade e amplia. A partir da afirmação de "meu primeiro chefe negro", da evidência histórica desta distorção dominadora que muda o conceito entre homem e gente, do sistema desigual de privilégios que vai muito além do conceito racial, da importância em se perceber que gente como ele, Elisio Lopes Jr, Lázaro Ramos, Thaís Araujo, Zebrinha, e tantos outros, tem usado seus lugares de fala, cada vez mais consolidados e importantes para promover o pensar e o despertar, individual e coletivo.

Vejo pessoas, que já não vêem sentido nesta discussão, a partir do preconceito. Esse é um ideal de convivência, que é possível sentir, cultuar, mas decididamente ainda muito distante da real do nosso tempo.

Vejo outras, que ainda não entendem a necessidade do debate, da exposição, de tirar a discussão das sombras e a trazer para o sol da consciência humana. Em admitir e dialogar sobre avanços como cotas, reparação, acesso, mesmo que pareçam mecanismos "injustos". É ai, na casta dos privilégios, que o que é justo encontra a ausência da percepção sobre as distorções que naturalizamos. Estas estão se esforçando, levará um tempo e torço para que cheguem lá.

E por último, pessoas que não tem a menor ideia do que estão sentindo, pensando, falando, mas que guardam um ódio sobre si mesmas que empestam o ar. Esse ódio é da sua própria incapacidade diante da dimensão que chegam a atingir de pensamento. Somos também falidos em prover-lhes educação, embora, há os que mesmo com a acesso à formação intelectual, emburrecem para a vida. Analfabetos morais, funcionais e zumbis existenciais. Sempre estiveram aí. Sem alma. À busca de um apequenamento para parecerem gigantes. Em busca de um lugar para aparecer como nunca, seja através de um post, ou das suas lembranças de pendurar o outro em postes. Não são animais. São pessoas sem alma. Sem sentido em viver. É um limbo. E por ironia, condenadas ao mesmo lugar das que criticam: a invisibilidade. Este ser, sob vários aspectos, o pior escravo que já fabricamos: o escravo da burrice.

Texto publicado originalmente no Facebook e republicado com autorização.