Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Projeto prevê produção de bioenergia através da semente de macaúba; assunto foi discutido no Agenda Bahia 2024
Larissa Almeida
Publicado em 24 de agosto de 2024 às 05:00
Os frutos produzidos na Bahia, além de proporcionarem a nutrição alimentar dos baianos e movimentarem a economia, podem ser os responsáveis por colocar o estado na liderança da transição energética – isto é, o processo de substituição do uso de fontes de energia que utilizam combustíveis fósseis pelo uso de fontes renováveis –no Brasil. O assunto foi o foco principal do painel “O Agora e o Futuro do Agro”, que reuniu quatro personalidades do setor agroindustrial durante o Agenda Bahia 2024, na manhã desta sexta-feira (23). Um deles foi Marcelo Lyra, que é vice-presidente de Relações Institucionais, Comunicação e ESG da Acelen, e abordou como a semente de macaúba é a principal aposta para a produção de biocombustível em território baiano.
“O nosso projeto novo tem tudo a ver com agronegócio e com geração de valor, não através do supermercado de produtos alimentares, mas do grande supermercado energético que o mundo vai precisar. Nesse conceito de energia renovável, temos um projeto de produção de energia a partir da macaúba. [...] Ele prevê o cultivo em 180 mil hectares de pastagens degradadas na Bahia e em Minas Gerais”, destacou Lyra.
Com investimento em torno de USD$ 3 bilhões na primeira unidade integrada para produção de diesel renovável e combustível sustentável de aviação, a Acelen projeta ocupar o equivalente a 280 campos de futebol. O biocombustível derivado da semente de macaúba estima reduzir em até 80% a emissão de carbono em relação ao combustível fóssil e, inicialmente, a empresa deverá produzir 20 mil litros por dia e até 1 milhão de fonte de energia renovável por ano, que devem abastecer anualmente 1,1 milhão de veículos.
Marcelo Lyra acredita que o projeto tem potencial pela combinação de conhecimento e geração de valor prático, mas se destaca ainda mais pelo valor sustentável que poderá gerar. “Tem um ponto importante nesse projeto que eu queria ressaltar, porque ele é um projeto de 180 mil hectares, mas a concepção dele tem dois fundamentos muito importantes. Primeiro, ser 100% em áreas degradadas, que é uma necessidade para que a gente possa também monetizar o crédito de carbono associado à recuperação daquela área”, aponta.
“O segundo ponto é que 20% do projeto será implementado a partir de agricultura familiar, ou seja, estamos falando de 40 mil hectares de pequenos produtores, o que vai permitir uma geração de riqueza e alteração de IDH de municípios. Vai significar uma revolução, muito provavelmente, no bem-estar social dessas pessoas”, completa.
Para que um projeto de geração de energia renovável em grande escala fosse concebido, os avanços das regiões agrícolas baianas contribuíram de maneira significativa para o processo. Isso foi o que trouxe à tona Fabiano Borré, CEO da Fazenda Progresso e Vinícula UVVA, que reconheceu que houve uma mudança de paradigma no estado em relação ao conhecimento das suas potencialidades.
“É indubitável que a forma como nós enxergamos a região hoje é completamente distinta de como ela era vista 30 ou 40 anos atrás. O entendimento da região, dos potenciais, o entendimento no clima, a pesquisa de novas culturas, ou seja, como aproveitar o máximo de um recurso que está disponível e ao mesmo tempo trazer sustentabilidade a essa produção. Talvez seja um grande caminho e o conhecimento vai construir isso”, avaliou.
Para Carminha Missio, presidente do Instituto Agropecuário da Bahia (Iagro) e vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), o Brasil como um todo era conhecido por importar alimento de países de fora, sendo então considerado tão somente produtores de subsistência. Ela acredita que o que fez diferença, além da tecnologia, foi a capacitação de pessoas, sobretudo no agronegócio baiano, e aposta na criação de uma nova classe média rural.
“Isso vai gerar [...] o retorno das pessoas da área urbana para as áreas rurais, porque vai ser bom, porque lá tem tecnologia, porque lá tem ciência, porque lá não somos mais os jecas tatus do passado, e sim os produtores de grandes cases de desenvolvimento, de geração de renda para contribuir com o Estado para que ele possa melhorar as bases da sociedade aqui na Bahia”, idealiza.
Amaury Pekelman, presidente executivo da Biosul, uma associação de produtores de bioenergia do Mato Grosso do Sul, recapitulou que o Brasil já passou por duas grandes fases em busca da redução de emissão de carbono. A primeira delas foi liderada pela produção de etanol, a segunda foi marcada pelo carro flex e, agora, o desafio é a busca de incentivos para fontes de energia totalmente renováveis.
“Vimos um projeto grande que a Acelen vai fazer, mas precisamos pensar além disso. É fundamental o apoio governamental e políticas públicas para que o setor se desenvolva no estado. Temos características para trazer diversos projetos de gás natural e temos dois projetos de etanol de milho, no Oeste da Bahia. Hoje em dia, a Bahia só tem três usinas produtoras de etanol, que são para a cana-de-açúcar e vão vir duas de milho. Com isso, o estado pode ser um grande player do mercado de biocombustíveis”, enfatiza.
Antes de ser um player no cenário nacional, a Bahia precisa sustentar seu próprio consumo de etanol. Segundo Pekelman, a produção, atualmente, só supre 20% do consumo dos baianos. Ele acredita que a solução para isso é o investimento no cultivo de milho. Carminha Missio, por sua vez, vê possibilidade também no sorgo e em outros grãos.
Enquanto os investimentos ainda são um impasse para o desenvolvimento bioenergético do estado, Isaac Edington, presidente da Empresa Salvador Turismo, vê que o estado está no caminho certo ao avançar na discussão sobre o tema e aponta a participação de Salvador nesse processo. “Acho que a Bahia tem um potencial enorme para se tornar de fato o estado com maior atratividade para liderar esse processo de transição energética", diz.
"Salvador já está dando exemplo com uma série de projetos, iniciativas e atitudes que a Prefeitura tem tomado no sentido de estimular ainda mais, quando a gente fala em desenvolvimento econômico sustentável. Certamente a cidade será um grande ator de estímulo para esse tipo de desenvolvimento”, finaliza.
O Agenda Bahia é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Acelen, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB, Sebrae e apoio da Bracell, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Plano Brasil Saúde, Salvador Bahia Airport, Salvador Shopping, Suzano, Wilson Sons e parceria da Braskem.