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Entregando sonhos: ‘O bilhete aéreo é um dos maiores investimentos consumíveis’

Julio Ribas, CEO da Vinci no Brasil, diz que um aeroporto precisa ser o início ou o fim de viagens perfeitas

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 05:00

Julio Ribas, CEO da Vinci Airports no Brasil  Crédito: Divulgação

Único aeroporto do país com aterro zero e sem emissão de resíduos, Salvador é hoje a jóia da Vinci no Brasil, que administra outros sete terminais no país. Mas nem sempre foi assim, lembra o Julio Ribas, CEO da Vinci Airports no Brasil. No leilão de concessão do espaço, apenas a empresa apostou no Aeroporto de Salvador. “O Aeroporto de Salvador era constantemente considerado o pior do Brasil, porque estava extremamente depauperado”, conta, citando o cenário em 2017. Com muito cuidado, investimentos em inovação e busca por melhoria contínua, hoje o equipamento é ferramenta para fomentar o desenvolvimento da Bahia. No próximo dia 20, o CORREIO realiza a 16ª edição do fórum Agenda Bahia, que discutirá temas centrais para o desenvolvimento do país, como tecnologia e inovação.

Quem é

Julio Ribas é o CEO da VINCI Airports no Brasil. Natural do Paraná, engenheiro Aeronáutico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica e pós-graduado pela FGV, iniciou a carreira como oficial da Força Aérea Brasileira, sendo responsável pela manutenção da frota de vários equipamentos da FAB, entre eles os F-5 e Mirage. Seguiu na área de operações e, posteriormente, ocupou a presidência em empresas multinacionais na área de bens de consumo, com passagem pelos Estados Unidos, México, Argentina e Malásia. Regressou ao setor aeronáutico, presidindo a subsidiária brasileira da Swissport. Atualmente, é CEO da VINCI Airports no Brasil, responsável pela concessão do Aeroporto de Salvador e mais sete aeroportos na região Amazônica.

O Aeroporto Internacional de Salvador é inovador?

Ele é inovador usando tecnologia, mas eu gosto sempre de explicar para as pessoas que a maior inovação está na forma de pensar. Uma organização que não é criativa e curiosa por natureza não vai nem saber o que fazer com os brinquedos tecnológicos. Sim, a gente tem inovação no sentido tecnológico, de equipamentos e procedimentos, mas acho que temos muita coisa na abordagem social e também o entendimento a respeito daquilo que a gente faz. Não podemos correr o risco de nos apaixonarmos pelas ferramentas e esquecer o que ela faz. Eu considero que as nossas equipes são inovadoras, mas de uma forma holística.

Como vocês trabalham para desenvolver esse modo de pensar?

A raiz do nosso trabalho está relacionada aos nossos valores e objetivos como um todo. A saber, temos a questão ambiental, que é muito forte. Eu destaco também a questão social, com o relacionamento com a comunidade. O público que passa pelos nossos oito aeroportos no Brasil é muito diverso e refletimos esta pluralidade na forma de tratar e receber as pessoas. Nosso olhar também se volta muito para fazer com que a jornada dos passageiros seja confortável, isso é muito importante para nós, que queremos jornadas mais tranquilas. Isso tudo é deixado muito claro para o nosso pessoal. Temos um foco muito claro na questão ambiental, no relacionamento com a sociedade e também na qualidade do serviço. Só depois de tudo isso que entram os brinquedos, as ferramentas.

Quais são os principais brinquedos?

Eu vou começar novamente pela área ambiental. Nós somos o único aeroporto resíduo zero e aterro zero no Brasil. A gente recolhe até a água da condensação do ar condicionado. Tudo isso envolve bastante tecnologia. Mas também utilizamos mecanismos de inteligência artificial em monitoramento da temperatura nos terminais para dosificar a temperatura dos aparelhos de ar. Também conseguimos dosificar o fluxo de passageiros de forma muito eficiente. A questão social é menos tecnológica, mas tem muita engenharia social, para entender os anseios de quem passa por aqui, para garantir que todos sejam recebidos e se sintam seguros. Estamos trabalhando em um projeto para que nós sejamos capazes de fornecer a energia elétrica e o ar condicionado dos aviões. Hoje eles giram um motor especial dentro das aeronaves que gera bastante poluição.

A Vinci opera oito aeroportos no país e Salvador foi o primeiro. Como foi o trabalho para transformá-lo em um bom cartão de visitas?

É difícil falar sem lembrar do início da jornada. O aeroporto de Salvador era constantemente considerado o pior do Brasil, porque estava extremamente depauperado. Na época do leilão, ele assustou muita gente que queria investir no país. Tinham quatro aeroportos que seriam leiloados na mesma rodada, Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre, e a Vinci foi a única que fez uma proposta para Salvador. Se a gente não tivesse dado lance, teria dado vazio. Além da vergonha imensa, até ter uma próxima rodada, atrasaria muito a recuperação. Esse aeroporto estava maltratado em todos os lados, tanto na conexão com o ar – pista e terminal – quanto no lado terra, onde temos as lojas, estacionamentos e atendimento ao público. Recuperamos muita coisa em tempo recorde, oito meses. Fizemos muita coisa depois da primeira fase de obras. É uma jornada que não termina, uma das intervenções mais recentes foi a reforma da praça de alimentação, para dar mais conforto a todos, a gente passou de 470 para mais de 600 assentos.

A viagem aérea é um sonho para muita gente.

Para muitas pessoas, o bilhete aéreo, junto com a escola das crianças e algum tratamento de saúde, é um dos maiores investimentos consumíveis. Só perde para uma casa ou um carro. É um dos maiores investimentos que as pessoas fazem. É uma vez no ano em alguns casos, frequentemente é algo financiado no cartão de crédito, e a gente precisa ter muito respeito por isso. Não é uma viagem, é um sonho. Com um tratamento inadequado, a gente pode destruir um sonho em sua partida. Na chegada, pode afetar negativamente a percepção das pessoas sobre a nossa cidade e o nosso estado. Hoje, em tempos de redes sociais, as pessoas, quando estão tristes, não dizem nada, mas quando estão tristes… E todo mundo paga o preço, desde o trade turístico até a Prefeitura e o Governo. Por isso que eu acredito que todos os agentes precisam colaborar na construção de uma boa jornada para o passageiro. Não temos o direito de machucar os sonhos das pessoas.

Qual é o norte de vocês para definir onde inovar?

Eu não seria verdadeiro se dissesse que não olhamos o componente financeiro, mas ele vem acompanhado do componente social. Nós somos uma concessão, oferecemos um serviço público e temos todo o interesse que o modelo seja visto como algo positivo. Nosso olhar está no longo prazo, temos um contrato de 30 anos e queremos que surjam outros com 30 anos de duração. É assim que iremos manter a nossa máquina rodando por muito tempo. O financeiro conta no curto prazo, mas olhamos para o que vai garantir a saúde financeira no longo prazo.

Como envolver os colaboradores nos processos?

Eu não sou um grande fã de eventos adrenalina em que todo mundo grita, pula na piscina. Procuramos construir uma coerência de desenvolvimento contínuo. A cada três meses, a gente faz uma reunião geral e coloca todo mundo para saber tudo o que está acontecendo. Temos um processo do RH, que é uma pesquisa rotativa, em que semanalmente as pessoas respondem sobre pequenos temas. Várias iniciativas deste gênero são contínuas. Não adianta correr 30 quilômetros no fim de semana, é melhor correr um pouquinho todos os dias. Na época da pandemia, foi ideia de um colaborador nosso fazer o banheiro 3.0, que nada mais é do que um sensor de entrada e saída, que consegue dizer quantas pessoas estão lá dentro. Com o indicador de ocupação, as pessoas podiam escolher o banheiro que iriam para minimizar as chances de contágio. As pessoas gostam de ter ideia, quando não apresentam a culpa não é dela, é do gestor que não dá abertura para isso. As pessoas pensam muito nos brinquedos, mas este aqui (apontando para o coração) e este aqui (aponta para o cérebro) ainda são as ferramentas mais poderosas que existem.

Qual é a importância de um aeroporto eficiente?

Salvador é o sexto em conexões de voos internacionais e trabalhamos para melhorar ainda mais. Conectividade é muito importante para os negócios, a Bahia tem um momento importante com a vinda da BYD, teremos ao nosso lado, na Base Aérea, um parque aeroespacial, com o Cimatec. As pessoas pensam na Bahia muito em função do turismo, temos também os negócios, como já falei, mas tem também, aqui em Salvador, uma sigla que é muito importante, que é VFR, na sigla em inglês, “visitando parentes e amigos”. A Bahia tem uma diáspora muito grande e essas pessoas querem voltar para visitar a família e os amigos. A gente tem o papel de manter o baiano conectado com as suas raízes. Hoje o baiano pode ter orgulho do seu aeroporto, mas a gente segue sempre investindo.

Vocês vêm há algum tempo trabalhando para ampliar a movimentação no terminal de cargas. Como está este processo?

Já tivemos resultados muito bons, mas estamos só começando. Tem frutas ganhando o mundo pelas asas da TAP e da Air Europa que antes precisavam ir até Guarulhos para serem exportadas, com provável perda de qualidade. Devemos ter um fluxo muito interessante também de movimentação de peças com a chegada da BYD, nos casos emergenciais. O Cimatec Aeroespacial deve ampliar a demanda também. No geral, ainda temos um descompasso entre a importância da Bahia e do nosso mercado com o volume que exportamos e importamos, mas estamos em um bom caminho.

O Agenda Bahia é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Acelen, Sebrae, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB e da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio do Salvador Bahia Airport e Veracel, e parceria da Braskem.