Menos carbono, mais qualidade de vida: indústrias se unem para reduzir emissões

Descarbonização é tema de painel que reuniu empresas como a Braskem, o Grupo Solví e a Suzano Papel Celulose

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  • Priscila Natividade

Publicado em 12 de agosto de 2023 às 05:00

Mediado pelo jornalista e editor do CORREIO, Donaldson Gomes, o painel contou com a participação da head de Inovação Aberta e Sustentabilidade no Grupo Solví, Ariane Mayer, do diretor de Energia e Descarbonização Industrial da Braskem Gustavo Checcucci e do gerente executivo de Negócios de Carbono da Suzano, Julio Natalense.
Mediado pelo jornalista e editor do CORREIO, Donaldson Gomes, o painel contou com a participação de Ariane Mayer, Gustavo Checcucci e Julio Natalense Crédito: Marina Silva/CORREIO

Menos carbono, mais qualidade de vida. O que as indústrias estão fazendo em suas plantas operacionais para diminuir suas emissões? Fomentando parcerias. O ecossistema está aberto para buscar soluções. O Grupo Solví e a Braskem desenvolveram juntas uma embalagem 100% reciclável stand-up pouch monomaterial com capacidade para armazenar 2 kg do fertilizante orgânico da Organosolví – empresa do Grupo Solví, que acaba de levar para o mercado consumidor seu primeiro produto de gôndola para o varejo. Criada no Lab de Design para Embalagens Circulares da Braskem, o Cazoolo é feito com polietileno (PE) e ainda conta com resina reciclada pós-consumo (PCR), oriunda de logística reversa de embalagens flexíveis, em sua composição.

“O ecossistema de inovação aberta realmente é um presente para quem quer solucionar as coisas. Nós nos conectamos, o Cazoolo topou o desafio de desenvolver essa embalagem. Iniciamos o trabalho, entendendo como é que a gente poderia fazer de uma maneira melhor. De fato, a gente começa a mostrar que é possível - eu, qualquer indústria pequena ou grande – se envolver nos processos desde o princípio para trazer um produto amigo do meio ambiente e alimentar outras cadeias”, afirmou a head de Inovação Aberta e Sustentabilidade no Grupo Solví, Ariane Mayer.

" A gente começa a mostrar que é possível - eu, qualquer indústria pequena ou grande – se envolver nos processos desde o princípio para trazer um produto amigo do meio ambiente e alimentar outras cadeias"

Ariane Mayer
head de Inovação Aberta e Sustentabilidade no Grupo Solví
Juntas, Solví e Braskem desenvolveram uma embalagem 100% reciclável stand-up pouch monomaterial.
Juntas, Solví e Braskem desenvolveram uma embalagem 100% reciclável stand-up pouch monomaterial. Crédito: Marina Silva/CORREIO

A experiência concorre agora ao Prêmio Abre da Embalagem Brasileira e foi compartilhada durante o painel Bioeconomia e Transformação Energética que aconteceu na manhã de sexta-feira (11), durante a programação da 14ª Edição do Fórum Agenda Bahia. Mediado pelo jornalista e editor do CORREIO, Donaldson Gomes, o debate contou ainda com a presença do diretor de Energia e Descarbonização Industrial da Braskem Gustavo Checcucci e do gerente executivo de Negócios de Carbono da Suzano, Julio Natalense.

A utilização do PCR na composição da embalagem permite evitar uma média equivalente de 25% de emissões de CO₂, em comparação a uma produzida com matéria-prima virgem. A embalagem stand-up pouch foi produzida pela Antilhas, empresa fabricante de embalagens. As artes foram impressas com tinta Gelflex Electron Beam, com tecnologia exclusiva, em que é possível alcançar uma redução de 50% no consumo de energia e de 95% em emissões de compostos orgânicos voláteis (VOC’s). O consumidor também vai ser estimulado a fazer o descarte consciente, já que a embalagem traz orientações sobre o pós-uso, direcionando o depósito para qualquer sistema de coleta seletiva mais próximo, em coletores identificados pela cor vermelha (plásticos) ou na fração seca.

Nunca a indústria esteve tão disposta a inovar em conjunto com outras empresas, a fim de fomentar práticas mais sustentáveis e tornar a descarbonização uma realidade, como destacou o diretor de Energia e Descarbonização Industrial da Braskem, Gustavo Checcucci. “É fundamental que nesse momento de transição energética que a gente vive hoje, de transformação da indústria como um todo, que a cultura do CO₂ seja trabalhada nesse processo. Precisamos de muito apoio. Parcerias, políticas públicas, suportes de governos que nos deem suporte para implementar essas iniciativas. As empresas estão receptivas e abertas para inovarem em conjunto”.

"É fundamental que nesse momento de transição energética que a gente vive hoje, de transformação da indústria como um todo, que a cultura do CO₂ seja trabalhada nesse processo"

Gustavo Checcucci
diretor de Energia e Descarbonização Industrial da Braskem

Ainda no mesmo painel, Checcucci comentou com mais detalhes a nova tecnologia aplicada em unidade da Braskem na Bahia que otimiza consumo de energia e reduz emissões de CO₂. Pioneira no país, a unidade Q1, em Camaçari, passou a utilizar nova tecnologia que permite selecionar, de forma automática e em tempo real, as fontes de energia mais adequadas a serem geradas ou consumidas por determinados equipamentos. Com o uso do otimizador, a estimativa é de uma redução média na emissão de mais de 3 mil toneladas de CO₂ e também no consumo de mais de mil toneladas de gás natural por mês.

“A indústria tem esse desafio de se transformar em uma operação sustentável e de baixo carbono. Estamos trabalhando com muito afinco, se preparando para isso. Criar a cultura do CO₂ é fundamental nesse processo. Tem que ter também uma humildade muito grande de compreender que os desafios são enormes. Porém, estamos abertos para discutir e buscar soluções eficientes sobre a ótica de sustentabilidade. A gente já sabe o caminho. Precisamos agora ter a capacidade de avançar”, analisou o diretor.

Também um dos participantes, o gerente executivo de Negócios de Carbono da Suzano, Julio Natalense reforçou que uma das metas da companhia é retirar 40 milhões de toneladas de CO₂ da atmosfera no período até 2025. “Isto é quase 10 vezes o tamanho das emissões que uma cidade como Salvador gera anualmente. O trabalho de descarbonização já está em andamento, com a busca contínua da eficiência energética e redução das emissões por tonelada de produto produzida. A celulose é a base de uma grande variedade de opções para a bioeconomia, que também se caracteriza pela possibilidade de reduzir emissões. O papel pode ser reciclado e fazer parte de sistemas de economia circular, reduzindo o consumo de recursos”.

"A celulose é a base de uma grande variedade de opções para a bioeconomia, que também se caracteriza pela possibilidade de reduzir emissões"

Julio Natalense
gerente executivo de Negócios de Carbono da Suzano

Outro compromisso é disponibilizar 10 milhões de toneladas de produtos de origem renovável até 2030, para substituir produtos de origem fóssil. “Em nossa divisão de novos negócios, buscamos e desenvolvemos novas tecnologias. Um exemplo foi a recente inauguração da fábrica Suzano na Finlândia, que está produzindo fios para a confecção de roupas, a partir da fibra de eucalipto. Além disso, através do nosso fundo de investimento em startups, buscamos apoiar empreendedores nas áreas de novos usos para biomassa de eucalipto, produtividade agroflorestal, embalagens, e soluções em carbono”, acrescentou Natalense.

Transformação

Mediador do painel, o jornalista e editor do CORREIO, Donaldson Gomes ressalta essas discussões sobre bioeconomia trazem para o público a oportunidade de acompanhar na prática o que a indústria está fazendo para fomentar esse processo de transformação na geração de menos impactos ao meio ambiente. “O debate dá a possibilidade de você perceber como empresas que atuam em áreas diferentes, convergem em uma mesma direção na busca por soluções que vão além da atuação delas. E o Agenda Bahia, tem um papel fundamental ao trazer reflexões importantes”.

Atenta ao painel, a professora Ione Silva, acredita que as empresas compartilhem suas ações de sustentabilidade e o quanto essas iniciativas estão, de fato, gerando impactos reais e positivos. “Foi ótimo aqui ter esse aprendizado, saber que eles existem e os resultados que as empresas estão alcançando com essas iniciativas, ainda que a gente saiba que há um longo caminho a percorrer”.

A auxiliar administrativa, Daniele Nascimento, concorda: “Foi tudo muito esclarecedor. Não é só a parte do financeiro que conta, mas também a forma de lucrar e produzir de maneira consciente. Espero que, na prática, a gente possa ver esses efeitos e que eles possam fazer a diferença na redução de emissões”, completa.

PONTOS PRINCIPAIS DO PAINEL

. A descarbonização depende de uma cultura em torno do carbono, que deve envolver não só a indústria, mas toda a sociedade.

. Ecossistema de inovação aberta e a parceria entre empresas geram impacto positivo e trazem soluções de inovação e de sustentabilidade.

. A indústria precisa de apoio para viabilizar a descarbonização Desde parcerias entre empresas, mas, sobretudo, políticas públicas de governos, afim de tonar a matriz energética cada vez mais eficiente e sustentável.

GLOSSÁRIO

. Descarbonização É o processo de redução de emissões de carbono na atmosfera.

. Ecossistema de inovação aberta Consiste em desenvolver de soluções e projetos em parceria com clientes, fornecedores e outras empresas.

. Bioeconomia A proposta da bioeconomia é criar produtos e serviços mais sustentáveis e preocupados com o impacto gerado no meio ambiente.

O Agenda Bahia 2023 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Unipar, apoio institucional da Prefeitura de Salvador, FIEB, Sebrae e Rede Bahia, apoio da Wilson Sons, Salvador Bahia Airport, Suzano, Sotero, Solví, Salvador Shopping Online, Deloitte e 4events e parceria da Braskem, Rede+ e Latitude 13 Cafés.