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Meus encontros com Riachão


 

  • Marcelo Gentil

Publicado em 30/03/2020 às 13:18:47
Atualizado em 21/04/2023 às 00:53:04
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No fim dos anos 1990, tive oportunidade de ingressar no Desenbanco, hoje Desenbahia, e trabalhar por alguns meses ao lado do alegre Riachão. Com ele, vivi diversas histórias que marcaram meu início de trajetória profissional.   Riacho, assim conhecido naquele ambiente, era o contínuo da Assessoria de Comunicação, à época liderada pela querida jornalista Susana Serravalle, hoje no MAB. Sempre observei que Riachão tinha um amor diferenciado por aquela instituição de fomento. Ele dizia, enfaticamente, que fazia parte da “família Desenbancástica”. Claro, era adorado por todxs! Seu trabalho era levar e trazer documentos, o que fazia com alguma peculiaridade. O que poderia ser feito em minutos levava o dobro do tempo. Certo dia, para entender o motivo do atraso, resolvi acompanhá-lo. A ficha caiu. No caminho, todos queriam falar, abraçar, beijar Riacho. Somado a isso, ele, um típico membro da “Organização Humanenochum”, fazia questão de empunhar sua caixa de fósforos e formular, ali mesmo, um samba para “elas”. “Sabe como é que é, né Gentil, primeiro elas, depois elas, sempre elas”, dizia de forma despretensiosamente sedutora. Adelitas, Nísias, Lilias, Mirians, Ednas, Clarissas, todas eram diariamente homenageadas pelo poeta.   Outro momento interessante que vivi com Riachão foi no primeiro aniversário da Desenbahia. Preparamos uma intensa programação, que envolvia também uma homenagem ao sambista. Àquela altura, Riachão tinha aderido a um Plano de Demissão Voluntária (PDV) e seguiu profissionalizando sua carreira. Certo dia, liguei para seu empresário da época e falei que queríamos fazer uma homenagem ao ex-colega. Do outo lado ouvi: “Amigo, Riachão não precisa de homenagem, ele precisa é de dinheiro”. O cidadão não nos convenceu. Buscamos outro caminho e conseguimos fazer a homenagem. O combinado era que ele não cantaria no evento, o que prontamente concordamos. Nosso único desejo era, de fato, homenageá-lo. No dia do evento, estava Riachão na hora e local marcados. Homenagem feita, o sambista estava tão à vontade que pediu o microfone e se pôs a cantar seus sucessos. Foi lindo e hoje estaria tudo registrado no story do Insta!   A terceira história com ele vivi nos anos 2000 quando do lançamento do disco Humanenochum, produzido por J. Velloso e Paquito. Durante uma cobertura jornalística, fiz uma foto de Riachão com sua amada esposa. A foto terminou entrando no encarte do disco. Antes, fui procurado por Paquito para saber o valor do registro. Respondi que jamais cobraria pela imagem. O direito de uso estava, para minha honra, concedido.   No momento que mais precisamos da malemolência e da molecagem de Riachão para superar esse tal de Corona, Deus leva um dos nossos maiores sambistas e cronistas. Partiu como um anjo; prêmio concedido, acredito, àqueles que sabem viver alegremente. ELE sabe o que faz. Afinal de contas, “cada macaco no seu galho”. O samba nunca morre. Salve, Riachão!

Marcelo Gentil é assessor de comunicação da Odebrecht