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Cidades baianas estão debaixo d'água; veja estragos causados pelas chuvas


 

Governo do Estado montou gabinete de apoio em Ilhéus

  • Carolina Cerqueira

Publicado em 27/12/2021 às 05:00:00
Atualizado em 20/05/2023 às 14:56:28
. Crédito: Foto: Prefeitura de Ubaíra

"Não conheço na história da Bahia um desastre de tamanha proporção". A frase foi dita pelo governador Rui Costa (PT), em entrevista coletiva, ontem, para falar dos estragados da chuva no interior do estado e das providências para minimizar o sofrimento dos atingidos.  Neste domingo (26), foi confirmada  a 18ª morte em decorrência da chuva. Olivan Alves Mota, 60, morreu após se afogar no rio de Contas, em trecho da cidade de Aurelino Leal, no sul do estado. 

No final de semana, além dessa  morte, também houve registros de alagamentos, destruição de pontes e estradas pela força da água e centenas de famílias tiveram que deixar suas casas.

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No Vale do Jiquiriçá, o rio Jiquiriçá transbordou e helicópteros foram enviados para resgatar moradores  ilhados. O rio passa por 11 cidades. Uma das mais atingidas foi Ubaíra. Lá, a força do rio arrastou veículos e casas, deixando dezenas de  desabrigadas. Vídeos feitos por moradores mostram casas completamente submersas. “A cidade está literalmente dentro d’água e há uma correnteza muito forte. A situação é dramática. Foi muita chuva. Agora de manhã deu uma trégua, mas vai chover de novo”, disse o prefeito de Ubaíra, Lúcio Passos. 

Moradores relataram que o nível do Rio começou a subir desde as primeiras horas de sábado. Durante a madrugada de sábado para domingo, o nível passou a subir ainda mais rápido. Em cerca de 30 minutos, houve uma elevação de três metros e as casas começaram a ser invadidas pela água. Sônia Rauédys, de 28 anos, conta que a casa de seu pai, de 68 anos, em Ubaíra, está completamente submersa.

“Só dá para ver o telhado. Ele precisou sair de casa ainda no sábado de tarde e foi para a casa de parentes na parte mais alta da cidade”, diz Sônia. Ela também tem parentes em Jiquiriçá, onde nasceu. “Por lá, a casa do meu tio desabou, a loja da minha mãe está toda alagada. Meus avós precisaram sair da casa deles e minha tia e meu primo também, aí foram abrigados por parentes. Minha cidade acabou, isso é um pesadelo!”,  completa. 

Segundo o prefeito de Ubaíra, por lá não houve registro de mortes, mas ainda não foi possível fazer um balanço do número de desabrigados e desalojados por conta da dificuldade de acesso aos locais. “A gente não consegue chegar. Do que conseguimos contabilizar, são cerca de 16 casas que foram completamente destruídas pela chuva e muitas estão prestes a desabar”. 

No sábado (25), uma operação da prefeitura alertou os moradores sobre o risco das chuvas e um trator foi utilizado para remover pessoas de suas casas. Apesar dos esforços, Passos acrescentou que, neste domingo (26) diversas pessoas ainda estavam presas em suas casas em cima dos telhados, completamente ilhadas. “Ainda tem gente nesses locais de risco e não conseguimos acessar. Eu falei com o governador Rui Costa e ele está enviando um helicóptero para resgatar essas famílias que estão sem ter como sair de casa”, informou o prefeito, durante a manhã de ontem.  Diversas ruas de Ubaíra ficaram alagadas por conta das fortes chuvas (Foto: Prefeitura de Ubaíra) Segundo um morador da cidade que não se identificou, a comunicação está precária em Ubaíra. “O único sinal de celular ativo é o da TIM. A noite toda foi sem energia. A Coelba restabeleceu o fornecimento de energia agora pela manhã”. 

Também foram registradas ruas alagadas na cidade de Santa Inês, ainda no Vale do Jiquiriçá. A estrada que liga a cidade à Itaquara está fechada por conta da grande quantidade de água no local. Uma árvore caída na BR-420 impossibilitou o acesso entre os municípios de Jiquiriçá e Mutuípe. Os dois municípios sofrem as consequências das intensas chuvas. Na madrugada do último dia 11, o Rio já havia transbordado, fazendo a água invadir casas no município de Laje. 

Rio Cachoeira transborda e causa transtornos em Itabuna

O Rio Cachoeira, que corta a cidade de Itabuna, no sul da Bahia, subiu nove metros entre sexta (24) e sábado (25), por causa da chuva forte que atingiu a cidade. A situação causou prejuízos e a prefeitura informou que decretou situação de emergência. O Centro da cidade ficou alagado e duas pontes tiveram que ser interditadas. A força da água destruiu parte da estrutura de um depósito e arrastou centenas de botijões de gás de cozinha pelas ruas da cidade. Ignorando o risco da enxurrada e da força das águas, moradores entraram no rio para pegar os botijões.

A BR-415, entre Itabuna e Ilhéus, foi totalmente interditada na altura da Ceplac, devido ao acúmulo de água das chuvas na rodovia. O trecho entre Itabuna e Ibicaraí também está interditado na altura do Cajuzeiro, devido ao acúmulo de água das chuvas na rodovia.

A prefeitura de Itabuna realizou a remoção preventiva de mais famílias em áreas de elevado risco de inundação devido à previsão de mais chuva. As famílias removidas residem no Sarinha Alcântara, Maria Matos (Rua de Palha), Ferradas e Vila Vital. A decisão foi tomada em reunião do Comitê de Crise, presidida pelo tenente-coronel Manfredo Santana, comandante do 4º Grupamento do Corpo de Bombeiros. Algumas localidades da cidade estão com abastecimento de água e fornecimento de energia comprometidos. 

Devido à força da água, uma árvore foi arrastada pelo Rio Cachoeira. As duas pontes principais da cidade precisaram ser interditadas: uma ponte de pedestres, perto da Câmara de Vereadores, e a ponte do Marabá. Ao menos 600 famílias estão desalojadas ou desabrigadas e o bairro Bananeira é o mais afetado.

Moradores de um condomínio de luxo ficaram ilhados. “Quando a gente acordou depois do Natal, no sábado, a frente do condomínio (Cidadelle House) estava completamente alagada e tinha gente que dormiu aqui e não conseguiu ir embora. A sorte é que temos dois andares. Estamos na parte de cima e tiramos tudo de lá de baixo. Entrou água no poço, então estamos tendo que armazenar água para poder usar e consumir. Estamos aqui economizando água e comida”, contou a moradora Isabela Celli, de 28 anos. Ruas ficaram alagadas no Condomínio Cidadelle House (Foto: Arquivo Pessoal) “Estamos aguardando os bombeiros, mas eles já disseram que não estão conseguindo porque a correnteza está muito forte. Está um caos! Uma situação horrível. Estamos completamente vulneráveis, sem ter o que fazer”, acrescentou Isabela. 

Na vizinha Ilhéus, também no Sul da Bahia, a chuva provocou a interdição do Aeroporto de Ilhéus, na manhã de sábado (25), por conta de um peixe encontrado na via. Ilhéus está em situação de Alerta Vermelho, de acordo com a Defesa Civil do município. Ainda neste sábado, o governador Rui Costa determinou que fosse instalada uma base de apoio no município, para otimizar a ajuda às cidades que recebem as fortes chuvas no Sul, Sudoeste e Extremo Sul da Bahia.  Em Ilhéus, peixes foram encontrados na pista do aeroporto (Foto: Reprodução) Com as chuvas, barragens se rompem na Bahia

A barragem de Iguá, localizada em Vitória da Conquista, rompeu na noite de sábado (25). Os moradores do entorno foram retirados de suas casas e não houve feridos. O distrito já havia sido atingido pelo rompimento da barragem dos Quatis, do Pradoso, na manhã deste sábado (25), que acabou levando a ponte que liga o povoado do Tesoureiro à sede.

Vitória da Conquista também foi atingida pelo rompimento de outra barragem, no município de Barra do Choça. Ela rompeu neste sábado e também atingiu Belo Campo e outras localidades na região. Com o rompimento, o Rio Catolé, em Itapetinga, que já estava transbordando em algumas regiões, acabou invadindo várias residências no município. 

Os moradores de Itapetinga tiveram que deixar as casas e receberam ajuda de familiares, amigos e da prefeitura. “Cinco bairros foram mais gravemente afetados, onde quase a totalidade dos moradores tiveram que deixar suas casas”, informou o prefeito de Itapetinga, Rodrigo Hagge. São cerca de 3 mil pessoas desalojadas e 200 desabrigadas.

O fornecimento de água foi interrompido em toda a cidade de Itapetinga porque o setor de bombas da estação de captação, que fica no Rio Catolé, foi inundada pela água e foi solicitado à população que haja economia de água. “Estamos montando uma estrutura provisória para retomar o abastecimento e fazendo operações com carro pipa para levar água para os locais que têm mais urgência”, disse o prefeito.  Itapetinga ficou debaixo d'água por conta das fortes chuvas na região (Foto: Reprodução) Na manhã deste domingo, a prefeitura de Jussiape, na região da Chapada Diamantina, anunciou que uma barragem da região também se rompeu e que uma forte enxurrada deveria atingir áreas do município. O anúncio pedia que moradores buscassem lugares mais seguros.

Em Ibicuí, mais de 2 mil pessoas foram afetadas pela chuva

As chuvas que atingem a Bahia também têm provocado estragos na cidade de Ibicuí, tradicionalmente conhecida pelos festejos juninos. De acordo com a prefeitura local, mais de 2 mil pessoas foram afetadas por alagamentos entre os dias 24 e 25, período em que a chuva não deu trégua. Não há ainda dados precisos sobre número de desabrigados, mas a prefeitura informou que moradores tiveram que ser alojados em escolas e igrejas da cidade. 

O trabalho de apoio às vítimas realizado pela prefeitura contou com a ação do Corpo de Bombeiros. Botes salva-vidas foram utilizados, devido ao alto nível das águas na cidade. Equipes da defesa civil municipal seguem prestando auxílio às famílias para transporte, retirada de pertences e alimentação. Escolas públicas e igrejas estão servindo como abrigo. No início deste mês, a cidade já havia enfrentado as consequências do alto volume de chuvas, que ocasionou o aumento do nível do Rio de Areia. 

Previsão do tempo para o interior

Durante este domingo (26), o céu se manteve nublado e encoberto com chuvas em quase todo o estado. A partir desta segunda (27), o tempo começa a melhorar e as chuvas, apesar de continuarem, têm redução de volume. A previsão é de céu encoberto e pancadas de chuva na região preenchida pela cor verde mais escura no mapa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).  (Ilustração: Inmet) A meteorologista do Inmet, Cláudia Valéria, explica que essas chuvas podem ser explicadas pelo fenômeno que acontece todos os anos chamado de Zcas, Zona de Convergência do Atlântico Sul, intensificado pelo La Niña. “É um grande corredor de umidade que fica sobre o Estado, passando pelo oeste, Vale do São Francisco, sudoeste e sul. Este ano, por conta da maior influência do La Niña, esse fenômeno está intensificado e mais frequente, provocando chuvas mais volumosas e com maior duração”.

Quais providências estão sendo tomadas?

O governador Rui Costa coordenou, na manhã deste domingo (26), uma reunião com técnicos de várias áreas, na base de apoio da força-tarefa de comando único para os efeitos das chuvas na Bahia, no município de Ilhéus, no Sul do estado. O trabalho está centrado na ajuda às prefeituras das cidades que sofrem com fortes temporais nas regiões Sul, Sudoeste e Extremo Sul. Ao menos 37 cidades estão sendo atingidas de forma mais intensa e registram alagamentos. Rui vai à Ilhéus em força-tarefa para efeitos da chuva na Bahia (Foto: Reprodução) Participaram da agenda os secretários da Infraestrutura, Marcus Cavalcanti; da Saúde, Tereza Paim; o comandante do Bombeiros, Adson Marchesini e técnicos da Defesa Civil, para agilizar ações de apoio à população, recuperação de acessos e serviços essenciais, além da melhor utilização dos recursos enviados por outros estados, como pessoal especializado em grandes enchentes, além de aeronaves de resgate.

Está sendo instalada em Ilhéus uma base de apoio para facilitar as ações. A base terá o reforço de equipes da Polícia Militar da Bahia, do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, da Secretaria Nacional de Defesa Civil, Superintendência Estadual de Defesa Civil, e da Polícia Rodoviária Federal, que enviará aeronaves e agentes. Duas escolas na cidade de Ilhéus serão usadas como pontos de apoio para a operação. Uma servirá de alojamento para os agentes envolvidos na força-tarefa e a outra será o quartel general das atividades. Materiais e helicópteros estão sendo enviados por outros estados, como Sergipe, Paraíba, Maranhão, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Piauí e São Paulo. 

Também estão sendo instalados postos avançados de operação em Itapetinga e em Vitória da Conquista. Ipiaú e o Vale do Jiquiriçá (Santa Inês) contarão com uma base de apoio. “Decidimos montar alguns pontos de apoio pela distância porque a área atingida é muito grande. A proporção e a extensão territorial são muito maiores do que a que tivemos há duas semanas no Extremo Sul”, disse Rui Costa. 

No sábado (25), Governo Federal, Governo da Bahia, senadores, secretários estaduais e municipais, se reuniram em uma força-tarefa para discutir ações de socorro às cidades baianas atingidas pelas fortes chuvas. Durante a reunião com a participação do Governador Rui Costa e dos Ministros da Cidadania, João Roma, do Desenvolvimento Rogério Marinho, da Saúde, Marcelo Queiroga e do secretário Nacional de Defesa Civil Cel Alexandre Lucas, foi montada uma operação conjunta de socorro aos municípios afetados pelas chuvas. O Presidente Jair Bolsonaro determinou ampliação de esforços para atendimento à população. 

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo