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Economia deve se recuperar lentamente


 

  • Da Redação

Publicado em 18/02/2022 às 05:00:00
Atualizado em 22/04/2023 às 21:30:07
. Crédito: Reprodução

O ano começou com um índice de endividamento recorde, uma inflação que não parece querer dar trégua, nem mesmo com a alta na taxa básica de juros da economia brasileira. Com tantos desafios pela frente, a tendência é que o processo de retomada do crescimento se dê de maneira bastante lenta, avalia o economista Guilherme Dietze, consultor econômico da Fecomércio-Ba. 

Nos dois últimos meses do ano passado, a inadimplência entre os consumidores de Salvador atingiu 72% das famílias, um recorde, ressaltou o economista, durante a sua participação no Programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes. 

Para entender como a inflação subiu tanto é preciso retornar ao ano de 2020, diz Guilherme Dietze. Em março daquele ano, aconteceram os movimentos de fechamento da economia e os governos injetaram dinheiro. “No Brasil, a principal medida foi o auxílio emergencial”, lembra. “Outra política para fazer a economia não se desaquecer tanto foi a redução da taxa de juros, isso torna mais atrativo retirar os recursos de investimentos financeiros e fazer o dinheiro circular”. 

Segundo ele, ainda assim, houve uma paralização na indústria mundial, mas a demanda voltou muito forte. “Estados Unidos, Europa, China retomaram a atividade econômica com muita intensidade e a indústria foi pega de calças curtas, sem insumos para atender a demanda”, afirma. Isso levou à uma demanda maior do que a oferta. “Se falta produto, o que acontece com os preços? Eles sobem. Então, vimos uma disparada dos principais preços internacionais, como petróleo, minério de ferro, alumínio, aço, trigo, soja, milho, todas as commodities subiram de preços”, lembra.   Esse aumento nos preços impactou nos custos de produção. A criação de bovinos para o abate, por exemplo, foi impactada pela alta da soja e isso explica porque a carne de segunda vem sendo vendida na faixa dos R$ 40, exemplifica Guilherme Dietze. “O preço dos combustíveis aumentou, dos alimentos, de minérios, enfim, toda a cadeia produtiva sentiu esse impacto dos aumentos de preços”, explica. 

No primeiro ano de pandemia, as principais consequências foram percebidas nos preços dos alimentos, enquanto no ano passado isso impactou bastante nos preços dos combustíveis e outros produtos industriais. “Em Salvador, a gasolina subiu 45,7% no ano passado. É muito? O etanol ficou 49% mais caro. Energia elétrica, 26%, e o gás, 29%”, analisou. “Isso é consequência do barril de petróleo, que saiu de US$ 40 por barril para US$ 80, no ano passado. Agora, já está se aproximando dos US$ 90. Neste mesmo período, o câmbio saiu de R$ 4 e foi para R$ 5,50”.   Uma pergunta bastante comum da audiência do Política & Economia esteve relacionada à formação dos preços dos combustíveis. Muita gente queria saber porque a gasolina e o gás de cozinha estão tão caros. Guilherme Dietze explicou que isso se deve à valorização do petróleo no mercado internacional e ao dólar. 

Inflação e  juros confundem muita gente Ainda que as regras econômicas tenham grande influência sobre a vida de todos, o funcionamento da economia ainda é um grande mistério para a maioria das pessoas. “Eu comecei a criar conteúdo porque fui vendo que as pessoas tinham dúvidas muito básicas. A gente fala todos os dias sobre PIB, câmbio, inflação, mas muita coisa não é compreendida pelas pessoas”, explicou o economista, que há um ano cria conteúdos para tirar essas dúvidas nas redes sociais. 

E as principais dúvidas normalmente são relacionadas a fatores que impactam nos custos de vida. Mas também há espaço para aqueles questionamentos que deixam qualquer economista com dor de cabeça. “Quer quebrar a perna de um economista, pergunte para ele como estará o câmbio daqui a seis meses”, ri. Isso porque a cotação da moeda americana no Brasil costuma oscilar demais. “Eu ouço muito, ‘vou viajar no meio do ano, compro agora ou espero baixar’. Isso mata qualquer economista”, conta. 

“É uma variável que depende de inúmeras outras variáveis. Depende da nossa política interna, nossa economia, da relação da Rússia com a Ucrânia, são tantas variáveis que é muito difícil saber se vai subir ou cair”, explica. Mas e o que fazer então, antes de viajar? Neste caso, bom é diluir o risco, recomenda Dietze: vai comprando um pouquinho a cada mês. 

Entre os riscos que devem diminuir a previsibilidade da economia brasileira este ano, o economista lembra que o Brasil vai passar por uma eleição este ano, que enfrenta a expansão da variante ômicron, “totalmente inesperada há alguns meses”, mas que fez a pandemia retomar sua força. “O Brasil já estava planejando o Carnaval, que as festas iriam acontecer e que as fronteiras seriam reabertas de uma maneira muito mais tranquila. De repente, todo esse cenário teve que ser revisto e isso fez o câmbio disparar”, lembra.