Relatório de março já atestava problemas em barragem de Maiquinique
Entre as irregularidades estão umidade nas áreas à jusante (abaixo do barramento)
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Yasmin Garrido
yasmin.garrido@redebahia.com.br
Um relatório elaborado pela Agência Nacional de Mineração em 1º de março deste ano, assinado pelo Responsável Técnico de Barragem Luís Cláudio Serpa, enviado pelo próprio órgão ao CORREIO, atestava a estabilidade da Barragem nº 1, em Maiquinique, apesar de, já nesta data, terem sido encontrados problemas no equipamento, principalmente, relacionados a umidade nas áreas de jusante, além de presença de vegetação arbustiva. A barragem está interditada e, segundo a ANM, corre 'risco iminente de rompimento'.
Ainda em fevereiro, o relatório da ANM sobre a situação das barragens brasileiras, classificou a estrutura nº 1 de Maiquinique na categoria médio, tanto para risco quanto para dano potencial associado. Este último, segundo a Agência, se refere ao dano que pode ocorrer devido a rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma barragem.
Já a partir do dia 18 de março, com a presença da Força-Tarefa de Barragem, outras questões foram levantadas pela equipe e levaram à interdição da estrutura. Por meio de nota, o Ministério Público do Trabalho (MPT) afirmou que “um dos principais problemas é a falta de projeto da barragem, uma vez que não se pode saber como ela foi construída, porque a Grafite do Brasil não tem o projeto para apresentar”.
“Os peritos detectaram também um movimento de material líquido que estava atravessando o barramento e aparecendo na parte externa da barragem através do solo. Esse movimento subterrâneo da água, chamado de percolação, é lento, mas pode indicar instabilidade da barragem”, diz nota do órgão estadual.
A percolação já havia sido detectada no relatório produzido em março pela ANM, no qual afirmava que a barragem possuía “umidade ou surgência nas áreas de jusante, paramentos, taludes ou ombreiras sem implantação das medidas corretivas necessárias”. No mesmo documento, a Agência também afirmou ter localizado “existência de trincas e abatimentos sem implantação das medidas corretivas necessárias, bem como falhas na proteção dos taludes e paramentos”.
Após a atuação da Força-Tarefa, a ANM emitiu novo documento, classificando a barragem de Maiquinique como de risco alto, sendo uma das três de maior ameaça no país. Em conversa com o CORREIO, a procuradora do MPT, Verena Borges, afirmou que não pode divulgar quais as outras 14 barragens que devem ser, até julho, inspecionadas pelo grupo.
* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier