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Roceirinho trabalhava e era um ‘rapaz do bem’, diz ex-vizinha


 

Comerciante tenta desfazer imagem do traficante

  • Bruno Wendel

Publicado em 23/08/2015 às 10:54:00
Atualizado em 14/04/2023 às 12:38:32

Entre os moradores entrevistados pelo CORREIO, em Nazaré, uma chamou mais atenção. Uma comerciante que disse que foi vizinha de Roceirinho. Indo de encontro com os relatos da polícia e de outros moradores, a mulher tentou desfazer a imagem do traficante. “Quando jovem, sempre foi um rapaz do bem, educado, prestativo à família e aos vizinhos”, disse ela, que não vê o antigo vizinho há muitos anos. “Se eu vê-lo, não o reconheço”, admitiu. Porém, as lembranças de Adílson Souza Lima, na adolescência, não vão embora. Segundo ela, o rapaz cuidava de cavalos e gado nas fazendas da região. “Daí o apelido de Roceirinho. Ele vivia na roça”, contou. Roceirinho (à esquerda) está desde 2012 em presídio federal no Mato Grosso do Sul(Foto: Divulgação/Polícia Civil)Adulto, ele ganhava a vida vendendo carne numa feira da cidade. Segundo relatos de outros moradores, ele trabalhava todos os dias, acordava quando o sol nascia e só voltava para casa quando a noite chegava. A casa dele, onde morava com os pais e irmãos, ficava próxima a uma boca de fumo, controlada por dois rapazes. À época, o tráfico não era nada grandioso como hoje. “Foi então que um cara grande (traficante) de Salvador o convenceu a ser o gerente dele aqui, pois queria se expandir no Recôncavo por Nazaré”, disse um morador.Roceirinho não pensou duas vezes antes de mudar de ocupação ao comparar as vantagens: dinheiro, carro e mulheres – tudo bancado pelo tráfico da capital. Perspicaz, já aos 40 anos, percebeu que poderia andar com as próprias pernas, rompeu a ligação com Salvador, e recrutou um exército, formado majoritariamente por meninos, e tomou as duas bocas, eliminando os concorrentes. Rapidamente, aumentou seu faturamento e investiu na ampliação do seu bando.

Entrevista com o titular da Delegacia de Nazaré

Titular da Delegacia de Nazaré, o delegado Marcos Maia minimizou o poderio da Katiara e destacou algumas ações que têm sido tomadas para neutralizar o grupo na cidade  onde foi criado. Para ele, Roceirinho só ganhou força porque conseguiu dominar uma área importante em Salvador.Maia: comando de operação (Foto: Betto Jr.)

Como é a atuação da Katiara na região?A quadrilha se sustenta somente no tráfico. A base central dela é em Valéria. O bando transporta a droga de lá para cá. Não vejo eles como uma organização criminosa. É apenas um grupo  que acabou ganhando força por estar em Valéria.

Já que o senhor minimiza a facção Katiara, chamando-a de grupo, por que se fez necessário uma megaoperação, por terra  e água, incluindo a participação da Polícia Federal, para desestabilizar a quadrilha?Isso é normal. É uma ação do governo para trazer mais segurança nas comunidades, com vários mandados. A gente faz uma megaoperação para pegar tudo de uma vez. É uma resposta à sociedade. Aqui, em especial, tentei de uma forma maior, por causa das dificuldades: mangue, rio e morro. Tive a informação de que esses traficantes ficavam escondidos em cabanas no mangue. Com helicóptero, descobrimos quatro cabanas e encontramos em uma delas mantimentos, balança de precisão. 

Como o senhor avalia a  operação de terça-feira?Foi uma grande resposta aos criminosos, que se achavam intocáveis, e à população que vivia assustada. Hoje, a cidade está mais tranquila. A operação tirou de circulação criminosos importantes que articulavam as ações da quadrilha, como subgerentes, responsáveis pela coleta de dinheiro nas bocas de fumo.

As ações conjuntas vão continuar em Nazaré? E até quando?Estamos com o patrulhamento diário e com a PM também fazendo rondas. Montamos ações conjuntas e continuaremos fazendo patrulhamento conjunto com mais veemência nas  periferias.