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Para analistas, partido de ultradireita evitará associação com Bolsonaro


 

Encontro do presidente com a deputada do AfD, Beatrix von Storch, não deve ser utilizado por conta da má fama de Bolsonaro em relação ao desmatamento na Amazônia

  • Da Redação

Publicado em 28/07/2021 às 23:36:00
Atualizado em 22/04/2023 às 12:08:04
. Crédito: Reprodução

O encontro do presidente Jair Bolsonaro com a deputada do partido alemão de ultradireita AfD, Beatrix von Storch, não deve ser utilizado como trunfo pelo grupo político. De acordo com analistas alemães, o encontro significou uma decisão independente da parlamentar. As informações são do Estadão.   De acordo com as pesquisadoras ouvidas, a fama mundial de Bolsonaro como permissivo com o desmatamento na Amazônia deve restringir a divulgação da reunião a publicações nas redes sociais de von Storch.   As recentes enchentes que atingiram diversas regiões da Alemanha e deixaram pelo menos 180 mortos no país colocaram as mudanças climáticas no centro do debate político. As eleições nacionais ocorrem em setembro deste ano. O AfD é o único partido no país a negar a interferência humana no aquecimento global.   Para a diretora do programa Futuro da Democracia no think tank alemão Das Progressive Zentrum, Paulina Fröhlich, pro conta da questão climática, o encontro com Bolsonaro não é atraente para ser usado neste momento pela AfD. “Apesar de ser possivelmente reconhecido como positivo pelo núcleo duro de apoiadores do partido, eu diria que não ajuda a AfD com os indecisos, que não irão apreciar uma reunião com alguém responsável pelo enorme desmatamento de uma floresta”.   A jornalista e autora do livro Angst für Deutschland: Die Wahrheit über die AfD: wo sie herkommt, wer sie führt, wohin sie steuert (Medo pela Alemanha; a verdade sobre a AfD: de onde vem, quem a lidera e para onde está sendo liderada, em tradução literal), Melanie Amann, diz que Von Storch é considerada uma parlamentar independente em seu partido, e toma decisões sobre sua agenda não necessariamente alinhadas às da legenda, o que a tornou não muito popular na sigla.   “(Von Storch) Sempre levantou as bandeiras anti-aborto e pelos valores familiares. Teve plataformas que eram um pouco paralelas às do partido”, relata a jornalista. “Ela (von Storch) vem como uma política da AfD, mas ela não faz para o partido, como estratégia de se conectar ao Bolsonaro. É em seu próprio proveito”, diz Amann. “A política internacional da AfD é caótica. Eles não têm uma estratégia de como querem se colocar internacionalmente. Sempre há representantes do partido viajando ao redor do mundo”, acrescenta.   A fragmentação citada por Amann faz parte do conflito interno que a AfD tenta superar para melhorar sua votação na próxima eleição nacional. A ala moderada do partido, de inspirações neoliberais, têm como principal figura o deputado Jörg Meuthen. Von Storch defende valores conservadores, mas não faz parte da ala radical, o antigo braço da sigla chamado Der Flügel (A Asa, em tradução literal), de inspiração neonazista. Ela perdeu a eleição interna para a liderança executiva no estado de Berlim, em março deste ano, para Kristin Brinker, que teve o apoio de membros desse grupo ainda mais radical.   A identificação do Der Flügel – que tem como um de seus principais líderes Björn Höcke, da Turíngia – com ideias neonazistas fez o Escritório Federal de Proteção à Constituição (BFV na sigla em alemão) colocar o braço do partido sobre vigilância, e, posteriormente toda a sigla.   Decisão provisória subsequente da Justiça alemã proibiu a Bfv de tornar público o monitoramento, sob o argumento de que poderia interferir nas eleições. A vigilância ocasionada pelo extremismo do grupo fez o Der Flügel ser oficialmente dissolvido pela AfD em abril do ano passado.   Na última pesquisa de intenção de votos para a eleição federal, divulgada nesta segunda-feira (26), a AfD aparece com 11% das intenções de votos, perto dos 13% alcançados na última eleição, em 2017.   O negacionismo e a falta de resposta para problemas reais impedem o crescimento da legenda, de acordo com Amann. “Durante a pandemia a AfD não teve conceito, solução. Eles só têm uma solução fácil, populista. Não têm realmente uma ideia de como governar o país de forma profissional”.   Na convenção da sigla, em abril deste ano, que definiu os principais pontos do programa de governo a ser apresentado na eleição, os que ganharam maior destaque foram: rejeição à reunificação de familiares de refugiados, a saída da Alemanha da União Europeia e o fim das restrições para conter a propagação do coronavírus.