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Já ouviu falar em 'coach de gente'?


 

Conheça Samir Abud, o engenheiro civil que largou tudo para rodar o mundo inspirando pessoas

  • Laura Fernades

Publicado em 25/03/2019 às 06:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 14:32:04
. Crédito: Foto: Samir Abud/Divulgação

Há quem diga que ter sucesso é saber como ganhar um milhão e 42 mil reais com apenas 22 anos, mas tem quem se inspire em histórias como a do baiano Samir Abud: com pouco mais de 30, o engenheiro civil já tinha no currículo obras como a Vila dos Atletas, criada para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, e o conjunto Minha Casa Minha Vida de Nova Friburgo. “Esse cara deu certo”, escutou o rapaz que levava uma vida confortável como funcionário da Odebrecht.

Parecia o ápice da carreira, o tal sucesso que tanta gente deseja, mas não para Samir,  que largou tudo e decidiu recomeçar. “Eu já tinha 33 anos e precisava fazer uma grande aventura na minha vida. Era muito aventureiro e perdi isso por causa do trabalho”, justifica. Hoje, aos 36 anos, Samir é fotógrafo, videomaker, professor de yoga e viaja o mundo como coach de gente. Em três anos, morou em países como Austrália, Índia e Indonésia, trabalhou como entregador de pizza, fez fotos em troca de um prato de comida e chegou a dormir na rua para economizar e poder comprar uma toalha.

“Imagino, no futuro,  quando contar isso para meu filho. Ele vai pensar ‘esse cara é louco’!”,   ri Samir que, como coach, reúne grupos para fazer viagens de autoconhecimento ao redor do mundo. Só esse ano, são cinco: para o Deserto do Atacama, no Chile, em maio e setembro; para a Índia, em novembro; e para a Chapada Diamantina, que está com as vagas de março esgotadas e abre, a partir desta segunda-feira (25), as inscrições para maio. A Índia é um dos destinos de Samir (Foto: Samir Abud/Divulgação) Transformação Mas, afinal, o que significa ser coach de gente? Constantemente comparado ao psicólogo, esse profissional se diferencia por trabalhar com apenas uma demanda em um prazo determinado de tempo: cerca de dez sessões. “A psicologia tem um trabalho diferente, mas uma coisa não elimina a outra”, reforça Samir, que é formado em Coaching Ontológico pelo Território Appana, em São Paulo, único do Brasil a usar a metodologia chilena.

“Muitas linhas separam o que é o coaching de carreira, o coaching  executivo, de saúde... O coaching de gente engloba todos os aspectos de uma pessoa, não tem um foco específico. Então, quaisquer dimensões da vida podem ser trabalhadas no tipo de atendimento que Samir faz”, explica a filósofa, psicanalista e fundadora do Território Appana, Káritas Ribas, coach de Samir. Com mais de 20 anos de experiência “na formação de lideranças transformadoras”, Káritas destaca que seu objetivo é “contribuir com a humanização do trabalho”.

Ao contrário das outras metodologias, o coaching ontológico não está preocupado em ensinar o passo a passo do que se deve fazer para mudar de vida. O profissional da área “está mais interessado em questionar ‘por que mudar?’”, pondera Samir, que recebe demanda de pessoas insatisfeitas com o emprego e com o casamento, só para citar alguns.“Não sou coach de um problema específico, sou coach de gente, do ser humano, porque se você tem um padrão repetitivo de comportamento, é muito provável que aplique ele em todas as áreas de sua vida. Se é controlador no trabalho, por exemplo, é no relacionamento, é com seus amigos...”, destaca.“Já recebi muita gente que queria trocar de emprego e, no final, acabou ficando e ressignificando aquilo. A gente promove uma mudança que a pessoa possa sustentar”, reforça. A vivência O Meu Lugar no Mundo, na Chapada Diamantina, abriu inscrição nesta segunda-feira (25) para a viagem de maio (Foto: Samir Abuda/Divulgação) Líder A primeira vez que escutou que tinha “o perfil de coach”, Samir indagou: “e o que é isso?”. Além de desconhecer a profissão, o engenheiro ficou surpreso porque não acreditava que tinha o perfil. “Eu não sabia nem falar em público, até meu chefe passar o microfone e dizer: ‘A obra está em greve, você não vai falar nada?’. Foi aí que eu descobri que sabia como acabar com uma greve de mil homens”, lembra, satisfeito.

Bom de oratória, Samir foi eleito pelo chefe como “a pessoa do relacionamento com a comunidade” e passou a valorizar mais o lado humano da profissão. Um momento marcante foi quando apresentou a habitação de 42 metros quadrados do Minha Casa Minha Vida para os novos moradores que nunca tiveram uma casa. Ao olhar pra trás, Samir viu a família ajoelhada, se abraçando em silêncio.

“Eles falaram: ‘Doutor, essa casa é minha?’. Aí eu pensei: caramba, eu não gosto da engenharia, mas gosto muito disso aqui”, lembra, emocionado. A mudança definitiva aconteceu na obra das Olimpíadas, onde havia pouco espaço para leveza. Após dois anos em uma rotina exaustiva, quase sem fim de semana, Samir escolheu um dos vestiários em construção, entrou e começou a chorar. “Pensei: ‘não aguento mais sustentar isso”, lembra. Foi então que pediu demissão e comprou sua primeira passagem. (Foto: Samir Abud/Divulgação) Nômade digital Samir virou, então, um “nômade digital”, como gosta de definir, já que fez um curso de fotografia no Rio, antes de ir embora, e passou a registrar todas as viagens e postar no Instagram. Apesar da exuberância das fotos, ele conta com bom humor que sua transformação não teve tanto glamour no início. Saiu do Brasil achando que ia passar a virada do ano em Sydney, na Austrália, vendo o famoso festival de fogos.

“Passei o Réveillon com duas toalhas de praia gigantescas e minha meta era não deixar ninguém na pista de dança cair. O chão tinha que estar seco e eu tinha uma chefe australiana muito chata, por sinal”, gargalha, ao lembrar do emprego no bar onde achava que seria “o cara mais feliz do mundo”.“Saí daqui com vários planos  e de repente estava lá com uma farda listrada, parecendo presidiário”, conta, rindo.A escalada aconteceu aos poucos. Da fotografia feita de graça, em troca de um prato de comida no restaurante italiano favorito, passou a ganhar 100 dólares por uma foto. Então ofereceu registros em troca de hospedagem e recebeu “200 nãos”, até um dos hotéis aceitar. Quando viu, estava vivendo “de graça” em Bali, sendo servido das melhores comidas e massagens, mas largou tudo para morar na Índia, onde passou 80% do tempo no exterior e mergulhou em um voluntariado.“Me colocava em várias situações para poder me virar, sabe? Isso me engrandeceu muito”, reflete Samir.“Fazer o que ele fez é de muita coragem. Ele é muito determinado de seguir uma intuição que acha que vai dar certo. Ele é um vencedor e tem muito a transmitir”, elogia o pai do coach, o também engenheiro civil Samir Abud, 70 anos.

Samir, o coach, ressalta que “às vezes a gente não se dá oportunidade por medo da falha”. “As pessoas me perguntavam: ‘e se não der certo?’. Eu respondia: já deu errado. Estou mudando porque não deu certo”, conta. “Curti muito a minha mudança e é isso o que mostro para as pessoas”, diz Samir, sobre os textos inspiradores do Instagram. Então lembra do que Patrícia Poeta disse ao sair da bancada do Jornal Nacional para viver outros projetos: “Só não queria chegar aos 60 e dizer que não tentei”. Marina Toledo escolheu a Índia para a sua viagem de autoconhecimento (Foto: Samir Abud/Divulgação) Leia os depoimentos de quem viajou

Marina Toledo, 37 anos, funcionária pública carioca. “Procurei o coach de gente por uma busca interna. Sempre me questionei muito sobre quem sou e o que realmente queria da vida. Uma falta de propósito me motivou a começar a tentar encontrar respostas e sabia que elas estavam dentro de mim. Considerando que crescemos envolvidos e ‘padronizados’ num sistema de crenças, resolvi me colocar à parte disso e me 're-conhecer'.

Decidi ir pra Índia, primeiro por ser um lugar que sempre tive loucura em conhecer e, depois, porque acreditava ser um lugar que facilitaria essa conexão interior. Não sei se serei capaz de descrever o que foi a experiência, pois foi profunda, mas sei que voltei outra Marina. Uma Marina mais voltada pra dentro, pro ‘ser’, pro ‘poder ser’ o que eu quiser."Me abriu uma porta para a autoexploração. O processo continua, mas a viagem foi indispensável pra esse despertar. O contato com o coach me fez ter a visão ‘de fora’ de uma pessoa que, de fato, entende e se familiariza com suas questões, é consolador. É uma pessoa que te permite permitir-se, sabe? Te olha com amor e compreensão e simplesmente te estende a mão" (Marina Toledo). Igor Rehm fez um mergulho pela Chapada Diamantina (Fot: Samir Abud/Divulgação) Igor Rehm, 36 anos, advogado baiano. “Já acompanhava Samir há bastante tempo através do YouTube e Instagram, bem no início quando ele passou a morar na Austrália. Devido a inúmeras mudanças repentinas na vida, passei a me enxergar diferente, o que gerava uma inquietação e uma necessidade de mudança. Foi aí que uma amiga, que já havia participado da vivência [na Chapada Diamantina], me disse: Igor, é a sua cara, é disso que você precisa.

Foi aí que resolvi arriscar. Cheguei lá na confiança, porém sem saber de fato o que iria ocorrer. Ao mesmo tempo em que estava cheio de expectativas, estava aberto e confiante no ‘desconhecido’. A minha experiência foi a melhor possível e superou minhas expectativas. Pessoas que nunca haviam se visto pareciam ser melhores amigos, motivando uns aos outros a aceitar suas diferenças, superar seus medos e as adversidades.

Costumamos dizer no grupo que renascemos naquele dia, no Vale do Capão. Todos voltamos diferentes, com uma imensa bagagem de vida e agora, de fato, grandes amigos!"O contato com o ‘Coach de Vida’ lhe ajuda a definir metas exequíveis pra vida, a se conhecer na própria essência e encontrar as soluções para os seus próprios desafios e objetivos” (Igor Rehm).