O poeta chileno Pablo Neruda não morreu de câncer
Um grupo internacional de 16 peritos fez afirmação após análise do corpo do ganhador do Nobel de Literatura, morto em 1973
-
Da Redação
redacao@correio24horas.com.br
Um grupo de 16 especialistas internacionais convocados pela Justiça chilena concluiu, nesta sexta-feira (20), que o poeta e prêmio Nobel de Literatura Pablo Neruda não morreu devido a um câncer, como consta em sua certidão de óbito, pouco depois do golpe militar de 1973.
"É rotundamente e 100% certo que a certidão [de óbito] não reflete a realidade do falecimento", afirmou o médico Aurelio Luna em coletiva de imprensa.
O Nobel de Literatura morreu em uma clínica da capital chilena em 23 de setembro de 1973, 12 dias depois do golpe de estado de Augusto Pinochet.
Segundo a versão oficial, o escritor e político comunista morreu devido ao agravamento do câncer de próstata que sofria quando tudo estava pronto para facilitar sua saída ao exílio no México.
O simpósio com especialistas do Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Espanha e Chile buscou confirmar ou excluir a hipótese de que existiu uma intoxicação voluntária e deliberada para matar o autor mediante a administração de germes ou toxinas bacterianas, explicaram os peritos na segunda-feira (16) na abertura do painel.
"Sem dúvida vamos ter mais clareza sobre a sua morte, vai mudar a história em relação à morte de Neruda", afirmou mais cedo à AFP Rodolfo Reyes, advogado e sobrinho de um dos poetas mais populares do mundo.
DETERIORAÇÃO DE PROVAS - Apesar das dúvidas geradas por sua morte repentina, foi necessário esperar quatro décadas para que a versão do assassinato ganhasse força. Isso aconteceu em 2011, com a publicação de declarações do motorista e assistente pessoal de Neruda, Manuel Araya, que afirmou que o poeta piorou depois que lhe aplicaram uma injeção no abdome.
O juiz do caso, Mario Carroza, que nesta sexta-feira (20) recebeu o relatório dos peritos, é o encarregado de avaliar os passos a serem seguidos na investigação, que ordenou em abril de 2013 uma nova exumação do corpo do escritor, para elucidar se o regime de Pinochet, que provocou mais de 3.200 mortes, eliminou também a vida do escritor. O desafio dos cientistas foi utilizar os avanços da ciência para encontrar respostas, mas com a passagem do tempo a tarefa se transformou em uma missão quase impossível.
"É preciso ser muito prudente e pensar que estamos analisando amostras degradadas com uma antiguidade significativa, e que isso sempre vai significar uma limitação às possíveis conclusões obtidas", advertiu à AFP Aurelio Luna Maldonado, especialista da Universidade de Murcia, durante a abertura do painel.