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Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2023 às 17:34
O estudo publicado como artigo no periódico Communications Earth and Environment, do grupo Nature, revela que o Sul Global, antes pouco considerado, é uma enorme reserva do chamado "carbono azul". Por ser fundamental para o equilíbrio do clima e aumentar o valor da região no mercado mundial de créditos de carbono, o segredo para enfrentar o aquecimento global pode estar na preservação de manguezais e outras vegetações da costa atlântica da América Latina que representam 13% das taxas de acúmulo de carbono orgânico retirado da atmosfera por ecossistemas costeiros em todo o planeta. >
“A gente chama de carbono azul esse carbono que fica acumulado em ecossistemas vegetados. Uma parte desse carbono fica retido nas plantas em si, e outra parcela no solo”, explica Vanessa Hatje, do Instituto de Química e do Centro Interdisciplinar de Energia e Ambiente (Cienam) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Esses ambientes acumulam o carbono e, junto com ele, outros tipos de contaminantes, como o CO2, mercúrio, chumbo, zinco”, explica a pesquisadora, que é a autora principal do artigo.>
Uma rede internacional de pesquisadores, da Austrália, Suécia, Nigéria, Reino Unido, Espanha e Estados Unidos, além de universidades brasileiras, como Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), reuniu dados de todas as pesquisas científicas já produzidas sobre a faixa costeira da região. A equipe também começou a ir a campo, para coletar dados sobre as partes da costa ainda não estudadas, um trabalho que deve levar até cinco anos.>
A região do oeste do Atlântico Sul estoca 0,4 petagrama de carbono, o que representa entre 2 e 5% do total de carbono estocado globalmente, um volume bastante considerável. Desse total, entre 80 e 90% fica retida nos manguezais, e o Brasil acumula 95% dos estoques. >
O grupo liderado pela professora Vanessa Hatje coletou amostras de solo e vegetação em Siribinha, no litoral norte baiano, e parte para a baía de Camamu, no sul do estado. As análises determinam as propriedades biogeoquímicas do solo, e também a quantidade e a velocidade de acumulação de carbono orgânico em cada área. As análises de granulometria e dos isótopos desse carbono e nitrogênio são feitas na UFBA. Já as análises de chumbo 210, um isótopo radioativo, são realizadas fora do país. >
“A gente usa nossa rede de colaboração, tanto no Brasil como no exterior, para cobrir um leque enorme de análises, pra tentar contar a história não apenas do acúmulo do carbono, mas tentar explicar realmente quais são os processos biogeoquímicos que estão acontecendo ali naquele ambiente”, explica Hatje.>
A principal ameaça desses ecossistemas está no desmatamento, no despejo de esgotos e na criação de camarões em escala industrial em áreas de manguezal. >