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Bandido mais procurado da Bahia começou cedo na vida do crime


 

Cristiano da Silva Moreira assumiu a liderança do Bonde do Maluco após a morte de Zé de Lessa

  • Bruno Wendel

Publicado em 20/12/2019 às 05:30:00
Atualizado em 20/04/2023 às 15:35:04
. Crédito: Foto: Reprodução

Não é à toa que aos 32 anos Cristiano da Silva Moreira, o Dignow, é o criminoso mais procurado da Bahia na atualidade. “Ás de Ouros” do Baralho do Crime e líder da facção Bonde do Maluco (BDM), Cristiano tem no currículo vários ataques a instituições financeiras, diversos homicídios, entre eles a morte de um policial militar e uma chacina, além de comandar e também participar de ofensivas contra facções rivais como a Comando da Paz (CP) e a recente Ordem e Progresso (OP) – na maioria dos ataques o resultado não foi diferente: opositores foram executados sumariamente. 

O reduto de atuação do “Ás de Ouros” é Brotas, onde se criou. Sua vida no crime não foi diferente das vidas de outros meninos das inúmeras comunidades pobres de Salvador, quando, na maioria das vezes, fazer parte de um grupo criminoso é uma condição e não uma opção. Fontes da SSP que conversaram com o CORREIO disseram que Cristiano e outros garotos da comunidade da Polêmica foram cooptados pelo tráfico por alguns motivos: pai ausente, mãe desempregada, baixa frequência escolar e a própria criminalidade da região. 

Ao contrário de outros garotos de sua época, que acabaram mortos por rivais ou pela polícia, Cristiano era astuto.“Ele era muito esperto e se destacava entre os demais. Quando davam um serviço, ele sempre fazia um pouco mais, ia mais além, e ficava com a moral lá em cima com os grandes”, disse ao CORREIO um agente da SSP que não quis se identificar.Até os 13 anos, ele era “tiro surdo” – gíria no meio policial usada para definir de forma pejorativa quem comete crime e nunca é preso.   

Primeira passagem Aos 14 anos, completados no dia 13 de abril 2005, Cristiano colocou seus pés pela primeira vez em uma delegacia. Ele e outros garotos estavam com celulares roubados e, por isso, foram levados para a 1ª Delegacia (Barris). Na ocasião, foram ouvidos e liberados – todos já faziam pequenos furtos, assaltos, agiam como olheiros e jóquei do tráfico (quem passa a droga). Quatro anos depois, ele foi apresentado na 4ª Delegacia (São Caetano).“Ele estava junto com uma turma numa atitude suspeita e a PM levou todo mundo, que foi liberado depois de checar os antecedentes. Já se tinha notícia que ele roubava ônibus e carros”, disse a fonte da SSP. Com 22 anos, ele já tinha adquirido maturidade suficiente para fazer parte de um grupo seleto: assaltantes de banco. Dignow saiu de Brotas e foi para o interior baiano junto com outros bandidos de igual comportamento. Foram várias investidas e ele já era procurado pelos agentes da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR). Então, em julho de 2009, policiais atenderam uma denúncia anônima que os levou ao paradeiro de Cristiano, que acabou sendo autuado por tráfico de drogas e formação de quadrilha. Nessa época, ele era investigado como autor de um duplo homicídio ocorrido em março, na Rua Natal, em Brotas. 

Em 2010, já em liberdade, ele foi preso novamente. Dessa vez, foi pego junto com uma mulher em uma casa localizada na Praia de Jiribatuba, próximo à Ponte de Funil, em Vera Cruz. A prisão foi realizada por agentes da DRFR, que buscavam o grupo do qual ele fazia parte. O bando era responsável pelos roubos de agências bancárias e explosões a caixas eletrônicos do Banco do Brasil de Conceição de Jacuípe, Condeúba, Boa Vista do Cupim, Teodoro Sampaio, Candeal e Oliveira dos Brejinhos. À época, ele era acusado de matar um policial, além de ter participação em uma chacina em Brotas e de atirar contra um casal em Itairu, localidade de Vera Cruz – o homem morreu e a mulher foi internada no Hospital da Ilha de Itaparica. 

Bonde do Maluco Em 2017, o grupo do qual Cristiano fazia parte já integrava à facção Bando do Maluco e ele gerenciava as bocas-de-fumo de Brotas, incluído a Polêmica, o Alto do Saldanha e Marechal Rondon.“Quando a polícia fortaleceu o combate aos ataques às instituições financeiras e, também, os bancos passaram a investir mais em segurança nas agências, ele se consolidou em Salvador como sendo o matador da facção. Foi dessa forma que ganhou respeito dos demais e do próprio Zé de Lessa”, relatou a fonte da SSP. A medida que eliminava os rivais, ele gozava de prestígios adquiridos com Zé de Lessa. “Festas, carros, mulheres, drogas, viagens. Tinha vida que queria”, contou. Era através de um bonde – grupo de bandidos armados – que ele invadia o território inimigo e, consequentemente, realizava um banho de sangue. Por inúmeras vezes, seu bando armado promoveu ataques em áreas do Comando da Paz (CP), como Cosme de Farias, Nordeste de Amaralina, Engenho Velho da Federação e Pau miúdo, e da Ordem e Progresso (OP), nos bairros de Iapi e Liberdade.

Baralho do Crime Cristiano, que além de Dignow era conhecido como Maluco ou Azuado, passou, nesta quarta-feira (18), a ter o rosto estampado no Baralho do Crime, ferramenta lúdica da Secretaria de Segurança Pública (SSP) para a localização de bandidos com mandados de prisão em aberto. Ele assumiu o comando total da BDM após a morte do líder e fundador da facção Zé de Lessa, baleado em um confronto com a polícia em Mato Grosso do Sul. 

Sua liderança aconteceu dias depois da megaoperação da SSP que tirou de cena peças importantes da organização criminosa. Tido como um dos grandes gerentes da BDM, João Teixeira Leal, o Jão de Pirajá, acabou morto por agentes do Departamento de Repressão e Combate ao Crime organizado (Draco) em um flat na Praia de Jardim de Alah, na terça-feira (17). No mesmo dia, os policiais cumpriram 13 mandados de prisão na Bahia – Salvador e Camaçari – e Maranhão, onde Neguinho, outro gerente de expressão na facção, já cumpria pena por tráfico no estado.