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Cerca de 50 lojas são interditadas pela prefeitura em bairros com isolamento rígido


 

Testes rápidos detectaram 97 casos positivos para covid-19 na Liberdade, Lobato e Bonfim

  • Daniel Aloísio

Publicado em 21/05/2020 às 06:00:00
Atualizado em 21/04/2023 às 05:17:07
. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Começaram nessa quarta-feira (20) e seguem até o dia 26 as medidas restritivas regionalizadas e ações de proteção à vida nos bairros do Lobato, Liberdade e Bonfim. Nesses locais, foi estabelecido o fechamento de todo comércio, com exceção dos considerados essenciais: supermercados, farmácias, agências bancárias e lotéricas, serviços de saúde, clínicas veterinárias e estabelecimentos que funcionem em regime de delivery. Nesse primeiro dia, cerca de 50 estabelecimentos foram interditados.

A loja Milfontes Natural, administrada pelo jovem identificado como Bóris, na Liberdade, foi autuada no momento em que o senhor Everaldo Ferreira, 78 anos e sem máscara, comprava um galão de água mineral. “Eu preciso comprar água mineral, pois minha casa está sem água. Acho que, se eu não entrar na loja, não tem problema”, disse Everaldo.  

Os ficais da Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) disseram que a loja poderia continuar funcionando no esquema de entrega. “Para mim, isso não é vantajoso, pois sou o único funcionário. Como vou conseguir atender as ligações e levar a água ao mesmo tempo?”, reclamou o comerciante.   Bóris teve que tirar da rua a placa que anunciava o preço da água (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O sentimento dos moradores da Liberdade é que as medidas estabelecidas pela prefeitura estão surtindo efeito. “Aqui normalmente era muito cheio, com muitos ambulantes e lojas abertas”, lembra o senhor Moacir Rangel, 61, que tinha saído de casa para ir à farmácia, mas garantindo que tem cumprido o isolamento social. Ele ficou contente com a medida.   

Já dois ambulantes que não quiseram se identificar, vendedores de cigarro e de recarga de celular, foram para a rua na esperança de conseguirem alguma ajuda do poder público e até de vender escondido a sua mercadoria. “Eles disseram que iam recolher a nossa mercadoria se nos vissem vendendo. Infelizmente, dinheiro de auxílio não paga as contas do mês”, disseram.   

O diretor de fiscalização da Sedur, Átila Brandão, garantiu que os fiscais estarão atentos para cumprir o decreto. “Estamos desde cedo na rua verificando quem não está cumprindo o decreto e atuando. Se encontrarmos algo que não é essencial, será fechado”, disse.   Agentes da Sedur circularam pelos bairros para fazer cumprir as medidas mais restritivas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A fiscalização acontece das 7h às 19h. “Mas temos uma equipe menor que também roda até as 23h, focada em bares e restaurantes”, garantiu. Cerca de cem agentes da prefeitura estavam envolvidos na fiscalização, segundo Brandão.

Mais bairros  Outro comerciante que não ficou feliz foi Marcos Oliveira, 38, que tem um frigorífico no Lobato. Ele imaginava que, por vender carne, não teria problema em funcionar. “Chegamos a abrir a loja, mas tivemos que fechar. A carne não é item essencial? Então, o mercado grande que tem açougue é beneficiado e a gente, que faz um trabalho de bairro, perde”, disse.   Marcos Oliveira e família estavam na frente do frigorífico, lamentando a interdição do estabelecimento (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) “A ideia do decreto é que o mínimo de estabelecimentos fique aberto, para evitar a circulação de pessoas”, disse o fiscal da Sedur, que não se identificou. Sobre a possibilidade de vender em delivery, Marcos criticou.“Os clientes não gostam de comprar carne sem ver a qualidade. Não é como uma pizza que você vê a foto e confia que ela vai chegar daquela maneira. Inclusive, podemos perder alimentos que perdem a validade com tempo”, lamentou.   Ainda no Lobato, a loja de peças de motocicletas da dona Emanuela Souza, 46, também teve que fechar. “Me sinto impotente. Se eles estão mandando, tenho que obedecer. E do jeito que as cosias estão difíceis, tem que fechar mesmo”, disse a comerciante, ao sair do espaço e voltar para casa.   Agentes da Sedur fecharam a loja de peças de motocicleta de Emanuela Souza (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Somente no Bonfim o CORREIO não verificou a interdição de lojas. “Aqui não é um bairro tão comercial, mas havia lugares onde recebíamos queixa de aglomeração de pessoas”, disse outro fiscal da Sedur, que também não se identificou.  

Essa versão foi confirmada por duas moradoras do bairro, que estavam no ponto de ônibus à espera do transporte público. “No lugar onde vivo, na Pedra Furada, tinham muitos bares abertos e vendendo cerveja”, lembrou Ana Lucia, 39. Já Sabrina Brandão, 24, que trabalha numa loja de material de construção da Calçada e precisa sair diariamente, a medida traz tranquilidade. “Vai me dar segurança de que só vai sair para a rua quem precisa”, argumentou.   

Outras ações  Além do fechamento do comércio, a Prefeitura iniciou, nesses bairros, a realização de testes rápidos para covid-19, medição de temperatura, higienização das ruas, distribuição de cestas básicas a ambulantes e feirantes, entrega de máscaras, combate ao mosquito Aedes aegypti e o projeto Cras Itinerante. 

Foram detectados 97 casos positivos para o novo coronavírus nos três bairros, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, sendo  27 casos confirmados na Liberdade, 39 no Lobato e 31 no Bonfim. Nesses locais, foram realizados 423 testes. A ação acontece no Plano Inclinado (Liberdade), na Rua Aterro do Joanes (Lobato) e no Largo da Baixa do Bonfim.  Testes rápidos foram realizados nos três bairros (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Para o secretário de Articulação Comunitária e Prefeituras-Bairro de Salvador, Luiz Galvão, as medidas de regionalização nos bairros anteriores apresentaram bons resultados e a nestas novas localidades não será diferente. "O resultado nos locais onde adotamos as medidas, a exemplo da Boca do Rio e da Pituba, foi bastante satisfatório, pois cumprimos o objetivo de ampliar o isolamento social e conscientizar a população", frisou.   

A Limpurb já começou a atuar nos três novos bairros com restrições com equipes de desinfecção nas vias. Cada bairro contará com uma equipe com 20 profissionais realizando a pulverização com equipamentos costais e utilizando o hipoclorito de sódio. A novidade é que a Limpurb vai usar pela primeira vez um trator de pulverização para desinfecção. 

O jato do equipamento atinge até 15 metros de distância, proporcionando a desinfecção de um espaço maior. Em alguns casos, carros-pipa também serão usados para a realização do serviço de desinfecção.   Agentes da Limpurb se preparam para fazer a limpeza das ruas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Já a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) oferta serviços nas áreas com restrição dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) nos locais. A pasta também irá ajudar organizações que realizam atendimentos socioassistenciais.  

A secretaria está apoiando essas entidades com a entrega de máscaras, álcool em gel e materiais de limpeza para a manutenção de suas atividades, cumprindo as regras sanitárias recomendadas pelas autoridades de saúde. 

A operação de mobilidade e trânsito nesses bairros não tem alterações. De acordo com a Secretaria de Mobilidade (Semob), as linhas de ônibus e os itinerários permanecem do modo que já funcionam. Também não haverá barreiras de trânsito. 

Vale lembrar que as mesmas medidas, já encerradas na Boca do Rio e na região da Avenida Joana Angélica, continuam em vigor em Plataforma. Na Pituba, elas terminaram ontem (20). Na sexta-feira (22), novas localidades serão incluídas: Brotas e Cosme de Farias, conforme anunciou o prefeito ACM Neto. Essas ações tem como objetivo conter a disseminação do coronavírus com a ampliação do isolamento social.