Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Na antiguidade, pessoas organizavam-se para um evento de veneração religiosa, contato social, uso de substâncias psicoativas e contato sexual. Este evento sobreviveu ao longo dos séculos, agregando elementos de diferentes culturas e religiões, apresentando-se com diversos nomes e hoje o conhecemos como Carnaval. Assim, pessoas da capital baiana, demais cidades, estados e países organizam-se para comparecerem a uma das maiores festas de rua do mundo. Por quê?
Para responder, cabe uma explicação geral sobre as causas psicológicas de nossas atitudes. Nosso comportamento atual é determinado, em grande medida, pelos efeitos ou consequências que os nossos comportamentos tiveram ao longo de nossa história pessoal. Logo, saber o efeito obtido pelos foliões quando vão ao Carnaval, nos indica o motivo de eles continuarem indo à festa, e mais: a razão de o carnaval ser uma prática cultural duradoura.
Alguns dos efeitos de participar do Carnaval envolvem: a atenção social, o contato com o público diversificado, os toques corporais, a interação, as conversas, os vínculos sociais e afetivos, as brincadeiras, as músicas, a proximidade aos cantores e artistas, a oportunidade de dançar, o contato sexual, o álcool e outras substâncias, além das situações inusitadas e interessantes etc. A maioria destes acontecimentos possivelmente aumentam a chance de frequentar a festividade novamente. Em parte, isso se deve à importância desses eventos no sucesso evolutivo de nossa espécie. Em outras palavras, nossos ancestrais com maior preferência por atenção, contato social e contato sexual, sobreviveram. Como efeito paralelo, o acesso a esses acontecimentos ou situações produz sentimentos da esfera da alegria, da euforia, do júbilo e da satisfação.
Ocorre também que alguns agentes, como o governo, as organizações, as empresas, os artistas e os foliões produzem alguns efeitos ao realizarem o Carnaval: o aumento do comércio, do turismo, da visibilidade nacional e internacional, além da aprovação popular e a manutenção da tradição, fortalecendo a promoção e perpetuação da festa.
É interessante perceber que esses agentes parecem flexibilizar, suspender ou afrouxar os julgamentos de valor, as críticas morais e as sanções sobre a conduta durante a festa popular, culminando com a ocorrência de vários comportamentos característicos do Carnaval, o que faz as pessoas sentirem-se livres e desinibidas. Obviamente, esses e outros fatores gerais presentes na festa de rua, somam-se a outros, individuais, fazendo a experiência ser pessoal e singular. Com a Quarta-feira de Cinzas, o contexto muda, e o fim da festa leva a sentimentos de saudade, tristeza. Por outro lado, as pessoas têm sentimentos de felicidade, podem sentir que aproveitaram a vida e até sentem-se com melhor autoestima. O ambiente, então, só será favorável para a folia após aproximadamente um ano.
Por outro lado, não é incomum ouvir comentários de pessoas avessas à festa ou que deixarão a cidade para evitar o barulho e coisas do tipo. Para essas, os efeitos do carnaval são exatamente o oposto: barulho, aglomeração, práticas moralmente questionáveis e exposição a algum tipo de violência ou danos à saúde, e o carnaval desses passa a ser desagradável, incômodo e ansiogênico.
De todo modo, o Carnaval está prestes a chegar. Os agradavelmente afetados por ele sentiram saudades, expectativas e já estão fazendo planos, organizando a rotina, comprando abadás, construindo fantasias e preparando o corpo para terem acesso a todos os efeitos agradáveis que o contexto carnavalesco e os valores pessoais permitam. Divirtam-se!
Curt Hemanny é psicólogo Coordenador de Saúde Mental do Espaço Nelson Pires
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores