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Livro revela que óleo de baleia já foi tão importante quanto o petróleo

Em 'Caçadores de Baleias', Wellington Castellucci Junior traça histórico da busca por esses animais, que ocorreu também no litoral baiano

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de abril de 2025 às 05:00

Gravura ‘Os Perigos da Pesca de Baleia’, do Século XIX
Gravura ‘Os Perigos da Pesca de Baleia’, do Século XIX Crédito: Purix Verlag Volker Christen/Bridgeman Images

O óleo extraído da baleia já foi objeto de muita cobiça e, por mais exagerado que possa parecer, já teve uma importância econômica tão grande quanto o petróleo tem hoje. Duvida? Então, saiba que essa substância encontrada no mamífero marinho já foi usada como base para lubrificante de máquinas industriais e como matéria-prima para a iluminação de centros urbanos, além de fixador de perfume.

É claro que, com tamanha importância econômica, a atividade de caça às baleias - chamada de baleação - se tornou alvo da cobiça de várias nações e a costa brasileira foi explorada por mais de um século, especialmente por caçadores dos Estados Unidos. A Bahia não ficou de fora: no auge da exploração, eram capturados, em apenas seis meses, cerca de duzentos desses mamíferos no litoral baiano.

Muito curioso sobre a relevância da atividade baleeira, especialmente a caça aos animais, o historiador baiano Wellington Castellucci Junior, 57 anos, se especializou no assunto há mais de 20 anos e está lançando o livro Caçadores de Baleias (Cosac Edições/ R$ 126/ 342 páginas). O foco da publicação é a expansão baleeira norte-americana nos mares do Atlântico Sul, entre os anos 1740-1850.

O autor aborda também as operações baleeiras estadunidenses na costa do Brasil, especialmente nos litorais do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, São Paulo e Santa Catarina. Dividida em seis capítulos, a obra retrata ainda a luta dos trabalhadores, muitos deles escravizados ou libertos, pela vida em alto-mar.

Matriz Energética

“Não existe vida se não há uma matriz energética. Hoje, essa matriz é o petróleo e em outro período, foi o óleo da baleia”

Wellington Castellucci Junior

autor de 'Caça às Baleias'

Segundo o pesquisador, a caça às baleias foi o principal fornecedor de matriz energética por cerca de 200 anos. Esses animais têm uma capa de gordura bastante espessa, que pode chegar a mais de um metro, desenvolvida para protegê-los do frio.

No Brasil, a atividade baleeira começou com os portugueses. O governo de Portugal enviou para a ilha de Itaparica dois empreendedores que, durante 12 anos - de 1602 a 1614 -, produziam óleo para abastecer a colônia e parte da Europa. Além disso, esses homens tinham o dever de ensinar aos colonos as técnicas de caça.

A atividade baleeira cresceu muito na Bahia e, em Salvador, foram construídas diversas armações, que eram instalações estruturadas para a caça às baleias e o processamento dos seus produtos. Na capital do estado, essas estruturas funcionaram em locais que correspondem hoje a regiões como Pedra Furada, Praia da Preguiça, Rio Vermelho e Itapuã. Uma curiosidade: a praia de Armação recebeu este nome porque ali funcionava uma armação baleeira. Mais tarde, houve armações em cidades como Canavieiras e Porto Seguro.

Na segunda metade do século XVIII, os EUA se tornaram o principal fornecedor de derivados de baleia para o mundo ocidental. “Países europeus, como Espanha, Portugal, França e Holanda, também caçavam, mas não tiveram uma indústria forte como os Estados Unidos”, observa Wellington.

Para expandir sua indústria baleeira, os Estados Unidos realizaram caça no Atlântico Sul, que é a porção do Oceano Atlântico localizada no abaixo da linha do Equador, entre a África e a América do Sul. “Os americanos conheciam as rotas migratórias das baleias. Então, as capturavam ainda em alto-mar, antes que chegassem à costa brasileira”, diz o pesquisador.

Segundo Wellington, com a descoberta do petróleo, o óleo de baleia perdeu importância como fonte de matriz energética e a caça às baleias foi perdendo o sentido com o tempo. Além disso, surgiu a preocupação com questões ambientais e preservação de espécies. Em 1986, um acordo entre mais de 80 países determinou a suspensão da “baleação”, como é chamada a caça às baleias. Alguns países, como Noruega, Japão e Islândia, no entanto, se recusaram a assinar o acordo.

Moby Dick

Nascido em Salvador, Wellington passou a juventude em Santo Antônio de Jesus, no interior do estado. Quando ia para Itaparica - ainda de navio, antes do ferry boat ser implantado -, encantava-se com o mar. Os golfinhos eram outro encanto.

Até ali, só tinha visto baleias pela TV. Na verdade, uma baleia especificamente, como lembra: “Assisti ao filme Moby Dick numa TV preto e branco bem pequena e, mesmo assim, fiquei fascinado. Mais tarde, li o livro de Herman Melville e relê-lo se tornou parte de minha rotina”.

Mas a decisão de se aprofundar no estudo sobre baleias surgiu quando realizava pesquisas para o doutorado. “Estava escrevendo sobre as últimas décadas de escravidão na Ilha de Itaparica e me deparei com textos sobre a atividade baleeira na Ilha e na Baía de Todos os Santos”, lembra. Alguns documentos apontavam a presença de embarcações americanas em águas brasileiras para caçar baleias.

Aí, não parou mais: tornou-se especialista no assunto e acaba de retornar de uma temporada nos EUA, onde se aprofundou ainda mais no tema.