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Carolina Cerqueira
Publicado em 20 de setembro de 2025 às 10:00
Quem não conhece o ramo fica, no mínimo, curioso ao ter uma câmera apontada para si enquanto completa o treino diário de corrida na rua. Quem já conhece, pergunta de cá qual é o nome do perfil no Instagram e ouve de lá a resposta. Tudo isso sem parar de correr. Foco! Para o fotógrafo e para o corredor... >
O objetivo dos paparazzi é conseguir as melhores fotos de quem passa por ali correndo e, claro, ganhar dinheiro com isso. Do outro lado, os corredores querem as melhores fotos de si mesmos para postarem no Instagram. Somando demanda e oferta, o resultado é um bom negócio. As fotos são vendidas por, em média, R$ 15 e os pacotes com mais de uma foto possuem desconto progressivo. >
Gabriel Neto, de 30 anos, conta que teve a ideia de iniciar o novo mercado em Feira de Santana em 2023 ao praticar a corrida na Avenida Nóide Cerqueira. “Eu percebia que tinham fotógrafos nas provas, nas corridas oficiais, mas não tinha ninguém no dia a dia dos treinos”, explica. Assim surgiu a página @tevinaruafsa, hoje com 19.400 seguidores. >
Ele diz que até tinha a ideia inicial de fotografar as pessoas na rua fazendo outras atividades corriqueiras, mas a expansão da prática esportiva e, principalmente, da corrida, o fez mudar de ideia. “Às segundas, quartas e sextas eu treino e, às terças, quintas, sábados e domingos, eu fotografo”, conta Gabriel, que ainda mantém a antiga atuação como engenheiro civil, mas planeja viver somente da fotografia esportiva. >
Esse já é o caso de Dilson Ventura, de 38 anos, mais conhecido como Diny Sports (@diny.sports). Ele atua em Salvador como fotógrafo esportivo desde 2022. “Eu sou formado em jornalismo e atuei primeiro com fotografia em geral. Eu fazia aniversários, ensaios, eventos, tudo o que aparecia. Até que os trabalhos com atletismo ficaram mais frequentes e eu resolvi focar neles”, conta. >
Para viver disso, Diny diz que precisa registrar várias atividades esportivas durante a semana e os finais de semana e costuma atuar na orla de Salvador, em busca de mais movimento de corredores. “É uma profissão muito incerta. Tem dias em que vendemos bem e, em outros, o faturamento é só a experiência, os belos clicks e os laços criados”, compartilha. >
Retorno >
O fotógrafo Junior Damasceno (@jrdamasceno.photo), de 38 anos, conta que também começou na fotografia esportiva em 2022, depois de sofrer um acidente de moto e deixar o emprego CLT na área de financeiro. “Vi o nicho de esporte em ascensão na época, logo depois da pandemia, e aí fui fazer. Corrida tem todo final de semana e tem os treinos durante a semana, então é ótimo”, avalia. >
Mas ele concorda com Diny que nem tudo são flores. Enquanto em junho, por conta da Maratona do Rio de Janeiro, vendeu 20 mil fotos, em agosto vendeu cerca de 600. “E as fotos da Maratona acabaram tendo valor bem reduzido. Vale dizer também que as fotos dos treinos diários são mais baratas e as das corridas oficiais são mais caras”, compartilha. >
O sucesso pode depender, além da demanda e da qualidade do fotógrafo, de uma boa vitrine criada no Instagram e bons contatos com as assessorias de corrida. Os grupos de corredores realizam treinos organizados e os encontros são pratos cheios para os fotógrafos. Já para as corridas oficiais, o esquema é um pouco diferente. >
Não basta ser convidado pela organização e nem mesmo só chegar lá e começar a fotografar. As organizações das corridas costumam abrir vagas para os fotógrafos, a partir de conexões com plataformas de vendas de fotos. >
Elas servem como vitrine das imagens e os clientes, ao acessarem através de links disponíveis nos perfis dos fotógrafos no Instagram, passam por um reconhecimento facial para serem direcionados às próprias fotos, num primeiro momento com marca d’água. A partir do pagamento, feito também no sistema, o download é liberado. >
Algumas das plataformas nacionais mais conhecidas são Foco Radical, Fotto e Fotop. Quem explica é Junior Damasceno. Ele tem o trabalho vinculado à Fotop e seu desempenho na plataforma interfere diretamente na disputa por uma vaga nas corridas. >
“Eu bati meta e virei premium, então eu tenho acesso antecipado a essas vagas nos eventos. Isso é muito bom porque as vagas acabam rápido demais. Se uma corrida abre a inscrição de fotógrafos às 7h, 7h02 já não tem mais vaga”, conta Junior, que diz também evitar locais “mais badalados para corredores” nos dias de treinos, como o Jardim de Alah, por conta da alta concorrência. >
Propósito >
Gabriel Neto, do @tevinaruafsa, faz ressalvas quanto à grande oferta de fotógrafos atuando no novo mercado. “Muita gente pega qualquer câmera, qualquer lente e vai para as ruas para ganhar dinheiro, fazer esse bico de foto”, reclama ele, que diz que, para fazer o trabalho, é preciso ter conhecimento e dedicação. “O meu objetivo é entregar as melhores fotos”, acrescenta. >
Embora ainda tenham pessoas que se sintam desconfortáveis diante das lentes no estilo paparazzi, ele diz adorar ver os clientes que se empolgam ao ver a câmera, interagindo com o fotógrafo. “Tem gente que já sai para correr pensando na foto. Direto me mandam mensagem dizendo que foram treinar e não me viram lá quando chegam depois que eu saí”, diz Gabriel. >
Junior Damasceno destaca que tem os que só querem as fotos para exibir nas redes sociais. São os blogueirinhos. “Esses clientes eu já conheço, já sei que é renda fixa, todo treino tem que ter uma foto”, diz ele, rindo. Mas lembra também dos que querem registrar as evoluções e superações. >
“Quem treina sabe os desafios e as dores e a felicidade dos primeiros cinco quilômetros, 10 quilômetros. E a fotografia, enquanto expressão artística, tem o poder de perpetuar momentos importantes nessas histórias”, analisa Gabriel Neto.>