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Carolina Cerqueira
Publicado em 21 de setembro de 2024 às 05:00
Difícil passear numa praia ou num parque sem encontrar uma embalagem de comida, uma garrafa pet vazia, tampinhas, palitos de churrasco, bitucas de cigarro. Foi juntando as atividades de lazer e esporte ao ar livre com a limpeza do meio ambiente que surgiu o plogging. O movimento começou na Suécia, mas faz sucesso no Brasil e, inclusive, em Porto Seguro, na Bahia. Por lá, já são 100 toneladas de lixo coletadas desde 2019. >
O Plogging Porto Seguro, entidade sem fins lucrativos, representa o Instituto Limpa Brasil nas cidades de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. O Limpa Brasil é o organizador das atividades do Dia Mundial da Limpeza, celebrado em 2024 neste sábado, 21 de setembro. Por todo o Brasil, acontecem atividades especiais que convocam a sociedade a realizar práticas sustentáveis e a adotar pequenas mudanças de comportamento que podem fazer a diferença. >
A advogada Lisianne Gama, coordenadora do Instituto Plogging de Porto Seguro, começou a praticar plogging sem saber que o que fazia tinha nome, ainda mais um tão diferente. Ela saía com o marido e os filhos fazendo caminhadas e corridas diárias na praia enquanto recolhia o lixo que encontrava pelo caminho. Depois, amigos também aderiram e ela passou a divulgar num perfil no Instagram para quem quisesse participar.>
Tendência>
“Eu encontrava muito plástico e passei a publicar fotos no meu Instagram. Uma amiga de Minas Gerais me disse que eu estava fazendo plogging e que era uma tendência mundial. Foi quando pesquisei e vi que era uma atividade física e tinha até campeonato”, lembra. >
Plogging é uma combinação da palavra sueca plogga (pegar) e da palavra inglesa jogging (correr) e significa correr e pegar lixo. Foi criada por Erik Ahlström, um esportista da Suécia. Apesar de trazer corrida no nome, a atividade pode ser feita caminhando, andando de bicicleta, remando, nadando ou praticando qualquer outra atividade física.>
O que é encontrado>
O que mais surpreendeu a advogada ao longo desses anos de prática foi o excesso de refrigeradores descartados na restinga, além de roupas e vasos sanitários. A ativista ambiental Mariana Moraes, de 40 anos, é de São Paulo e, numa visita à Península de Maraú, na Bahia, encontrou embalagens da China e Tailândia, escritas nas línguas originais, espalhadas na praia. >
“Me assustou porque, provavelmente, foram coisas que vieram desses países pelo mar. Bastaram 15 minutos de caminhada pela praia e voltamos para a pousada para pegar sacos e poder coletar o lixo que estávamos encontrando”, lembra Mariana. >
No litoral de São Paulo, onde atua com o projeto Verdes Marias, Vencedor do Prêmio Lixo Zero 22, diz já ter encontrado um quilo de bitucas de cigarro em apenas um dia e até produtos que já saíram de linha. “Já encontrei uma pasta de dente da marca Kolynos, que deixou de ser fabricada em 1997”, destaca. >
Ao final, todo o material ganha um destino adequado. “Há um projeto que aceita tampinhas e outro que aceita bitucas. O resto eu coloco para reciclagem comum em pontos de recolhimento espalhados pela cidade”, acrescenta.>
Plogging com as crianças>
Mariana, assim como Lisianne, começou a praticar plogging com a família, ainda sem conhecer o termo. “Comecei a ter esse costume de fazer a brincadeira de catar lixo com meus filhos em praças e na praia. Com frequência, a gente acordava cedo e ia, eles me ajudavam a fazer a separação também”, relata. >
Atualmente, ela e a família juntam-se a outras famílias de amigos dos filhos. Sempre de manhã cedo ou no final da tarde e sempre com luvas de proteção, de preferência de pano grosso, e sapatos. Ao longo da atividade, ela explica às crianças sobre a importância de uma caminhada atenta ao impacto que o ser humano deixa no caminho. >
A filha tem 7 anos e, o filho, 5 e Mariana conta que os dois estão bastante acostumados com a discussão sobre lixo e adoram a atividade. “Para mim, o ponto chave do plogging é transformar isso em brincadeiras, é uma brincadeira deles na praia, eles fazem se divertindo, realmente gostam. Acho que é uma excelente atividade para conseguir engajar as crianças no cuidado com a responsabilidade ambiental”, compartilha. >
Em Salvador, Itaparica e Vera Cruz, o projeto Ocean Care Brazil promove competições em ações de limpeza de praias que fazem sucesso entre as crianças. "Quando temos equipes maiores, fazemos caminhadas e corridas competitivas para a coleta de lixo. Quando há crianças, fica ainda melhor. Eles coletam tampinhas plásticas tentando consegui-las com mais agilidade do que o outro", conta a bióloga Meghan Bell, de 40 anos, idealizadora do projeto. >
É uma alternativa, inclusive, à tradicional brincadeira de catar conchinhas, adorada pelas crianças, que pode fazer mal ao meio ambiente. As conchas desempenham papel fundamental no ecossistema marinho, abrigando organismos e ajudando a prevenir a erosão costeira. >
É a crença no impacto de atividades como o plogging que sustenta o projeto Verdes Marias. “A gente chama de microrrevoluções essas ações individuais, defendendo que importam e podem criar tendências, inspirar outras pessoas. A gente acha que, por trás de instituições, empresas, governos, têm pessoas. E precisamos engajar as pessoas. Assim, aos poucos, conseguimos fazer a revolução”, defende Mariana.>
O Dia Mundial da Limpeza, coordenado nacionalmente pelo Instituto Limpa Brasil, que conta com 91 milhões de voluntários em todo o país, faz parte da parceira credenciada do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA). >
Todas as pessoas interessadas em participar podem acessar a página do Limpa Brasil para se registrar ou encontrar um evento em sua região. >
Em Porto Seguro, as ações serão realizadas neste sábado (21), partindo do Complexo de Lazer Axé Moi, às 7h30. Primeiro, serão feitos exercícios de respiração e meditação e, depois, alongamento. Na sequência, serão feitas ações de limpeza nas praias, com aula de educação ambiental e triagem de resíduos. A previsão é de encerramento às 14h.>
Em Salvador, também no sábado, acontece uma ação de limpeza, às 8h, no Parque da Cidade, promovida pelo Parque Social em parceria com o Instituto Limpa Brasil. Para participar, os voluntários devem preencher o formulário no site limpabrasil.eucuidodomeuquadrado.org. >
No Porto da Barra, às 14h, o projeto Ocean Care Brasil fará um mutirão de limpeza. No domingo, às 8h30, outro mutirão acontece na Ribeira. Para quem quiser aderir ao projeto, o contato é (71) 999570081.>
Mais ações ao longo do ano estão nas página do Limpa Brasil no Instagram.>