Ramagem no olho do furacão: ex-diretor põe família Bolsonaro no centro da 'Abin paralela'

“Abin paralela”, supostamente criada no governo federal anterior na época em que Ramagem era diretor da agência, espionava ilegalmente autoridades, jornalistas e servidores

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Publicado em 13 de julho de 2024 às 05:00

Alexandre Ramagem e Jair Bolsonaro
Alexandre Ramagem e Jair Bolsonaro Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil | Evaristo Sa / AFP

Os números das pesquisas de opinião mostram que o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) patina na corrida eleitoral deste ano pela prefeitura do Rio de Janeiro, mas a sua candidatura tem (ou tinha) potencial para decolar por ter o apoio do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Embora tenha perdido as eleições de 2022, o ex-chefe do Palácio do Planalto venceu o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na capital fluminense com 52,66% contra 47,34% dos votos válidos, e é visto como um cabo eleitoral forte na cidade. Um relatório da Polícia Federal, divulgado nesta semana, no entanto, mergulha em um mar de dúvidas a campanha de Ramagem.

Agentes da PF apreenderam no dia 24 de janeiro deste ano um computador na casa de Alexandre Ramagem, que foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o governo Bolsonaro. No equipamento, havia um áudio clandestino no qual o ex-presidente da República e o ex-ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, discutiram a respeito de uma investigação que envolve o filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL).

Na conversa, que aconteceu no dia 25 de agosto de 2020, os presentes na reunião falaram sobre as supostas irregularidades que teriam sido cometidas por auditores da Receita Federal na investigação sobre o caso das “rachadinhas”. O suposto desvio de verba pública teria ocorrido no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Na gravação, que tem uma hora e oito minutos de duração, Ramagem afirmou que “seria necessário a instauração de procedimento administrativo” contra os auditores “visando anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”. Uma das advogadas de Flávio também estaria presente na reunião.

O relatório da Polícia Federal ainda aponta que integrantes da chamada “Abin paralela” tentaram levantar “podres e relações políticas” dos auditores da Receita.

A “Abin paralela”, supostamente criada no governo federal anterior na época em que Ramagem era diretor da agência, espionava ilegalmente autoridades, jornalistas e servidores. De acordo com os investigadores , a estrutura paralela foi utilizada para beneficiar os filhos do antigo chefe do Executivo, que já enfrenta uma avalanche de más notícias. Desde que deixou a Presidência, Jair Bolsonaro tornou-se inelegível e foi indiciado nos casos das joias sauditas e no cartão de vacinas.

Irritação

O ex-chefe do Executivo teria se irritado com Ramagem após a informação de que a Polícia Federal encontrou um áudio da reunião sobre as “rachadinhas”. Segundo a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, Bolsonaro mostrou indignação ao ser gravado clandestinamente por uma pessoa de sua extrema confiança e deixou claro que desconhecia qualquer áudio sobre esse encontro. De acordo com os aliados, Bolsonaro questionou, aos gritos, como o chefe da Abin gravou um presidente da República.

Durante a campanha, acredita-se que o conteúdo do áudio poderá influenciar significativamente o curso da eleição, inclusive a continuidade de Ramagem na disputa. A avaliação é de que, caso a confiança de Bolsonaro com o aliado fique abalada, a permanência na eleição do ex-diretor da Abin tornará-se inviável. Segundo pesquisa do Datafolha, Ramagem tem hoje 7% das intenções de votos. Eduardo Paes (PSD), que é pré-candidato à reeleição, lidera com 53%.

Ramagem disse, em uma postagem no X (antigo Twitter), que o áudio só reforça que não houve “interferência ou influência em processo vinculado ao senador Flávio Bolsonaro”, sendo a demanda resolvida “exclusivamente em instância judicial”. Na mesma rede social, o senador publicou um vídeo no qual nega envolvimento com a “Abin Paralela” e alega ser vítima de criminosos que acessaram ilegalmente os seus dados.

"Eu fui vítima de criminosos que acessaram ilegalmente os meus dados sigilosos na Receita Federal"

Flávio Bolsonaro
Senador da República

“O grupo especial de Lula na Polícia Federal ataca novamente. Na ocasião em que eu fui vítima de criminosos que acessaram ilegalmente os meus dados sigilosos na Receita Federal, eles conseguem transformar isso em uso da Abin para me auxiliar de alguma forma”, declarou Flávio Bolsonaro. “Nada a ver com qualquer coisa da Abin. Eu não posso correr atrás dos meus direitos de vítima que eu fui de criminosos de dentro da Receita Federal que isso é usado contra mim. Faça-me o favor. Isso eu não vou aceitar”, acrescentou.

*Com informação das agências