Perto de ganhar ferrovia nova, Bahia vê estrutura antiga definhar

Esperançoso com Fiol, setor produtivo cobra solução para 1,9 mil quilômetros da FCA

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Publicado em 28 de outubro de 2023 às 05:00

Bamin avança na implantação da Fiol e do Porto Sul para ligar Litoral ou Centro-Oeste Crédito: Divulgação/Bamin

Há dois sentidos em oposição, quando se tratam das perspectivas para melhorias nos acessos logísticos baianos. Em um deles, no Oeste-Leste, vislumbra-se uma solução encaminhada pelo corredor de exportação que será inaugurado pela Bamin até dezembro de 2027, ligando Caetité a Ilhéus, mas que promete, em algum momento, ligar o litoral baiano ao Centro-Oeste do país. Por outro lado, no sentido Norte-Sul, o cenário é de incertezas e, dia após dia, os baianos assistem até mesmo a infraestrutura que existia antes sucumbir à ação do tempo e do descaso.

Quando o primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) iniciar a sua operação, a Bahia finalmente voltará a ter uma operação ferroviária significativa. As projeções para os primeiros momentos são de que a estrutura deverá escoar os 26 milhões de toneladas de minério de ferro da Bamin para o exterior, através do futuro Porto Sul. Entretanto, os números do futuro complexo logístico baiano são mais significativos. A ferrovia está projetada para movimentar até 60 milhões de toneladas por ano e o porto, 40 milhões.

O trecho 1 da Fiol está sob responsabilidade da mineradora Bamin, enquanto os outros dois ainda estão nas mãos do governo federal. “Falando em demanda reprimida, existe por parte do setor produtivo um interesse muito grande de outras empresas em passar do modal rodoviário para o ferroviário”, destaca Alberto Vieira, diretor de projetos da Bamin. Segundo ele, a mineradora que vai operar a ferrovia e o porto será a primeira cliente do complexo, porém não será a única. “Estamos falando de uma estrutura que vai atrair investimentos, será um novo corredor logístico, que vai transformar a Bahia”, projeta.

Alberto Vieira diz ainda que, num raio de 2 mil quilômetros do Porto Sul, não existe nenhum outro equipamento que reúna uma estrutura portuária moderna e acesso ferroviário eficiente. “A gente vai poder trazer cargas de todo o Brasil”, acredita. “Tem muitos projetos que não se viabilizaram ainda por falta de logística”, diz.

“Com a construção do novo corredor, a Bahia ocupará uma nova e importante dimensão na economia nacional, com a geração de riquezas, distribuição de renda e a elevação da qualidade de vida da população, criando oportunidades para os produtores regionais e potencializando as cadeias produtivas do agronegócio e da mineração instaladas ao longo do caminho dessa ferrovia”, acredita Sandro Magalhães, presidente do Sindicato da Mineração na Bahia (Sindimiba). Ele destaca que os 19 municípios ao longo da Fiol 1 serão beneficiados com royalties da mineração.

Em negociações para a renovação antecipada de sua outorga, que se encerra em 2026, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), na contramão, já sinalizou a falta de interesse em manter os 1,8 mil quilômetros de ferrovias na Bahia. A ferrovia é a única ligação do tipo entre o estado e o Sudeste. Para se ter noção da importância de se ter uma ligação ferroviária com o Sudeste do país, a movimentação de cargas rodoviárias entre a Bahia e Minas Gerais gira em torno de 80 milhões de toneladas por ano – é o dobro do que entra ou sai pelos portos do estado.

Entenda 

Fiol

A Ferrovia de Integração Oeste-Leste é o projeto na área ferroviária mais adiantado na Bahia. O trecho 1, com 537 km, foi concedido à Bamin, que pretende inaugurá-lo, junto com o Porto Sul, em dezembro de 2027. O traçado total é de 1,5 mil quilômetros, ligando o litoral baiano ao Centro-Oeste.

Substituição

Existe uma forte pressão para que parte do valor de outorga a ser pago pela FCA, bem como a multa contratual, sejam utilizados para a modernização dos quase 2 mil km da estrutura férrea que foi sucateada nas últimas décadas.

Bahia Minas

O governo federal autorizou a construção de uma ferrovia entre Caravelas, no Extremo Sul baiano, e Araçuí, em Minas. O trecho será comandado pela MTC - Multimodal Caravelas, com uma concessão de 98 anos. Estima-se o investimento de R$ 12 bilhões e dois anos de obras.

Brazil Iron

A mineradora Brazil Iron solicitou ao governo federal em 2021 a autorização para construir 120 km de malha ferroviária e um terminal, para o escoamento do minério de ferro produzido em Piatã e Abaíra, na Chapada.

O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Intermarítima e Wilson Sons e apoio institucional da Fieb.