Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Do celular ao caminhão: entenda como empresas conseguem entregar compras em menos de 24 horas na Bahia
Logística com aviões e inteligência tecnológica aumenta eficiência do setor que teve aumentos após a pandemia
Publicado em 28 de outubro de 2023 às 04:00
Você já se perguntou como aquela sua encomenda feita pela Internet chegou tão rápido? Com apenas alguns cliques em sites de compra, desencadeia-se todo um movimento sistematizado em grande escala que leva o produto à casa do consumidor.
O setor de logística operacional é o responsável pelo gerenciamento desse processo. Com o aumento da demanda pelos serviços de entrega e armazenamento, as empresas têm investido na criação de Centros de Distribuição (CD), onde as mercadorias são recebidas das lojas e fábricas remetentes, organizadas e estocadas até saírem para o destino final.
Na Bahia, a procura por espaços para implantação de novos CDs vem crescendo nos últimos anos. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), desde 2016 há uma procura acentuada por grandes áreas para abrigar Condomínios Logísticos, sobretudo nas proximidades das cidades que possuem os principais centros comerciais ou que sejam atendidas pela malha viária nacional, tais como Simões Filho, Candeias, Feira de Santana e Camaçari. A SDE, contudo, não tem a quantidade exata de CDs abertos no estado.
Alguns dos principais players do mercado logístico já estão operando em solo baiano, como: Magazine Luiza, Mercado Livre, Bresco Logística, AratuLog, LogMaster, Big Log Logística, EADI Salvador, Intermarítima, Grupo Top Frios, Avon, Boticário e Amazon Logística.
Investimento milionário
É aqui no estado que fica o único Centro de Distribuição do Mercado Livre na região Nordeste do Brasil. Localizado no município de Lauro de Freitas, o empreendimento começou as operações há 3 anos em uma área de 56 mil metros quadrados e investimento de aproximadamente R$ 90 milhões.
Foi o avanço das tecnologias digitais que contribuiu diretamente para uma mudança nos hábitos de consumo e impulsionou o volume de compras no chamado e-commerce, ou comércio eletrônico. Sem precisar bater perna no shopping ou no comércio, agora é possível encontrar aquela blusinha da moda e até eletrodomésticos com descontos em poucos minutos através do celular e do computador.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) em parceria com a empresa Forekast, as vendas no e-commerce atingiram a marca de R$ 169,6 bilhões em 2022 no Brasil, o que representa um aumento de 5% em relação ao ano anterior.
Foram mais de 368,7 milhões de pedidos no país e uma média de R$ 460 por transação. Para o diretor de inteligência de mercado da ABComm, Alexandre Crivellaro, essa perspectiva de crescimento indica que o setor ganhou credibilidade junto à população, que antes era mais resistente ao comércio online.
“A consolidação do e-commerce demonstra uma mudança de comportamento sólida dos usuários, que passaram a confiar mais no canal virtual. O receio de comprar online, principalmente pela segurança, foi vencido pela necessidade, sendo em seguida um hábito incorporado ao dia a dia”, explica Crivellaro.
Com isso, os grandes grupos empresariais buscam aumentar a capilaridade das entregas e melhorar a operação logística, tanto para o e-commerce quanto para o abastecimento das redes de lojas físicas e revendedores. A principal estratégia para alcançar esse resultado é por meio dos centros de distribuição, que contribuem para baratear o preço do frete.
“As restrições provocadas pela pandemia geraram um aumento repentino de pedidos e as empresas tiveram que se adaptar rapidamente para atender à demanda, investindo em novas plataformas, logística, métodos de pagamento e melhorando a infraestrutura, dando muita atenção para o mobile”, continua o diretor da ABComm.
O volume de serviço das atividades de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio cresceu 9,5% em 2022 no estado, de acordo com dados divulgados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI Bahia). Nesse sentido, conforme posicionamento da SDE, algumas empresas demonstraram interesse em aumentar seus espaços,como Bresco, Grupo RAIZZ Logística e EADI Salvador.
“A Bahia é um dos Estados pioneiros na busca de soluções para os entraves logísticos, pois sempre demonstrou sua preocupação sobre o assunto, como, por exemplo, a elaboração do PELT-BA (Programa Estadual de Logística e Transportes), onde foram compilados os principais gargalos logísticos do Estado e as possíveis intervenções para a resolução de cada caso”, salienta a SDE.
O objetivo principal dos CDs é agilizar o processo de entrega, diminuindo cada vez mais o tempo de espera dos clientes para receberem o produto adquirido. Entre as etapas comuns na operação estão o recebimento das mercadorias, que inclui o descarregamento dos caminhões e a checagem dos produtos; a movimentação interna e organização nos setores apropriados; o armazenamento; a separação para o despacho; e, por fim, a expedição até o consumidor por meio das transportadoras e entregadores.
Um exemplo é o Centro de Distribuição do Grupo Boticário, em São Gonçalo dos Campos, no Recôncavo Baiano. Inaugurado em 2014, o empreendimento tem 25 mil metros quadrados de área construída e emprega cerca de 400 pessoas, entre vagas diretas e indiretas. Junto com a fábrica em Camaçari, o CD integra o Polo da Beleza da Bahia, que é o único do Grupo Boticário no Nordeste. Na época da implantação, as duas unidades operacionais receberam no total um investimento de R$ 535 milhões.
Além da Bahia, o Grupo tem Polos no Paraná, Minas Gerais e São Paulo. Segundo a empresa, que é líder em e‑commerce de beleza no Brasil, os polos são ecossistemas que têm centralidade no consumidor e que colaboram para alavancar o desenvolvimento socioeconômico das regiões onde estão presentes, a partir da integração entre o Grupo Boticário e parceiros.
“A Bahia é um ponto estratégico não só para a produção, com a fábrica de Camaçari, mas também para a logística do Grupo Boticário, que há quase 10 anos tem uma relação próxima e parceira com o estado. Com o centro de distribuição instalado em São Gonçalo dos Campos conseguimos atender às demandas de nossos consumidores com agilidade, proporcionando um serviço ainda mais qualificado e de excelência”, ressalta o vice-presidente do Grupo Boticário, Sergio Sampaio.
O CD do Boticário em São Gonçalo atende mais de 14 estados brasileiros e é um dos mais modernos e automatizados da América Latina, com espaço para estocagem de 17 mil posições-pallets. No local, são atendidos pedidos de mais de 14 estados brasileiros, contabilizando mais de 1,3 bilhão de peças expedidas e sendo possível expedir mais de 2 mil peças por hora.
“Nosso CD também é referência em sustentabilidade, tecnologia e inovação, tanto na separação de produtos quanto na sistematização e predição de demanda. E conectado ao nosso propósito, esse é também um grande Polo da Beleza, região em que temos grande oportunidade de transformação socioeconômica, por meio da capacitação e geração de empregos", acrescenta Sampaio.
Até a compra chegar ao consumidor, à loja ou à revendedora, o processo no CD do Boticário possui várias etapas, inclusive automatizadas. De maneira simplificada, a operação pode ser descrita da seguinte forma:
O centro de distribuição recebe os produtos produzidos nas fábricas, checa quantidade e condição dos itens recebidos, atualiza sistema interno de controle e direciona para o estoque;
Ao receber um pedido de produtos, o CD confere novamente os produtos e direciona para separação, que acontece por meio de equipamentos altamente inovadores e tecnológicos, que embala os itens e encaminha para expedição; Na expedição, os produtos separados são entregues para distribuidora responsável pelo transporte até as lojas e revendedores.
Diariamente, do CD de São Gonçalo dos Campos há expedições para revendedoras de Bahia e Sergipe, que seguem para a filial da transportadora que faz a entrega porta a porta. Os produtos são entregues em até 48h; Já para as lojas, a expedição segue um calendário de lançamentos e produção, e também tem intermediação da filial da transportadora até o destino final.
No caso do Mercado Livre, a entrega dos pacotes é operada pelo braço de logística próprio do e-commerce, por onde passam mais de 90% das compras realizadas no marketplace. Dentre os mais diferentes modais, o que mais se destaca é o chamado Fulfillment, que permite entregas com mais agilidade para os consumidores e otimiza as operações dos vendedores.
No Full, a logística da empresa realiza a coleta, armazenamento, separação e envio do pacote, por meio de transportadora parceira. Até chegar ao consumidor, a encomenda pode passar por outros armazéns menores, os Services Centers, que estão espalhados por diversas cidades do país, e de onde as mercadorias saem para a última etapa de entrega, ou seja, seguem para a residência do comprador.
Hoje, a modalidade representa aproximadamente 46% do total de envios realizados pela empresa, concentrados em 10 Centros de Distribuição Fulfillment. Um desses centros é o de Lauro de Freitas, que atende principalmente os estados nordestinos. Além disso, a rede logística do Mercado Livre conta com mais de 13 mil veículos operando na última milha das entregas em todo o território nacional.
“O aprimoramento da malha logística tem sido nossa prioridade, já que impacta diretamente no dia a dia dos vendedores que querem otimizar suas operações, como também na experiência de compra dos consumidores. Nesse cenário, o Nordeste é uma região extremamente estratégica para o crescimento do Mercado Livre”, afirma a Líder de Operações do Centro de Distribuição do Mercado Livre na Bahia, Regina Ruffino.
Nos Centros de Distribuição, a entrega rápida do Mercado Livre segue procedimentos operacionais que podem ser explicados em quatro etapas: picking, que é o recebimento do pedido e preparação dos produtos; packing, a embalagem e etiquetagem do produto; sorter, o encaminhamento do produto para expedição; e, por fim, a expedição.
A Região Metropolitana de Salvador já recebe mercadorias do Mercado Livre no mesmo dia e, no restante do Estado da Bahia, as entregas são feitas em, no máximo, dois dias. Para isso, o Centro de Distribuição Fulfillment de Lauro de Freitas emprega mais de 1,2 mil pessoas, muitas delas de cidades vizinhas como Camaçari e outras da RMS.
O resultado desse esforço fez com que, no último ano, o Nordeste respondesse a 11% das cargas movimentadas diariamente pelo Mercado Livre. Apenas em Lauro de Freitas, a empresa processa uma média de 140 mil pacotes por dia, que correspondem a 97 encomendas por minuto.
Chegou voando
Em uma parceria com a GOL Linhas Aéreas, por meio da unidade de logística GOLLOG, a operação do Mercado Livre conta com uma frota de 6 aeronaves que transportam exclusivamente cargas do marketplace no Brasil. A utilização do transporte aéreo de cargas ajuda acelerar o processo de entrega dos pacotes e beneficia regiões como a Nordeste, onde o tempo de entrega das mercadorias foi reduzido em 70%, de acordo com informações da empresa.
Desde setembro do ano passado, 5 aeronaves cargueiras estão em operação e já realizaram o transporte de 11,2 milhões de pacotes e encomendas de produtos para as bases de Brasília (BSB), Fortaleza (FOR), Recife (REC), São Luís (SLZ), Manaus (MAO), João Pessoa (JPA), Teresina (THE) e Porto Alegre (POA). O sexto avião é um Boeing 737-800 BCF, prefixo GFF, que iniciou no dia 17 deste mês uma nova rota para Salvador (SSA), com cinco decolagens semanais.
A parceria com a Gol é para otimizar e tornar mais rápida as entregas e permite tanto levar produtos da Bahia para outras regiões como trazer produtos para o estado. “Com a chegada do PS-GFF, o sexto cargueiro da parceira GOLLOG – Mercado Livre, encerramos a primeira fase do contrato através do qual operamos aeronaves cargueiras com exclusividade para a plataforma. Existe a possibilidade de adicionarmos seis outras novas aeronaves a este contrato, conforme a demanda do Cliente”, revela o Diretor Executivo da GOLLOG, Rafael Martau.
A operação é baseada no aeroporto de Guarulhos, principal hub de cargas da GOL e onde o Mercado Livre prepara as cargas para os voos. Segundo Martau, mais de 120 toneladas de produtos comprados através do e-commerce decolam diariamente com destino ao Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Amazonas, Piauí, Maranhão e, agora, Bahia. Com isso, as encomendas são entregues no mesmo dia ou no máximo, no dia seguinte nesses locais.
"Salvador se sobressai como um hub logístico no Nordeste, beneficiando-se de uma localização estratégica que o posiciona como ponto de conexão entre o Sul, Norte e a região Central do país”, comenta Marcus Campos, gerente de Marketing e Negócios Aéreos do Salvador Bahia Airport.
Além dessas, outras 2 aeronaves da Azul Cargo Express, unidade de cargas da Azul Linhas Aéreas Brasileiras, também são utilizadas para reforçar a operação do Mercado Livre, porém, sem exclusividade no serviço, diferente da parceria com a GOLLOG.
Com isso, Ruffino indica ainda que as aquisições fazem parte de um planejamento para atingir resultados cada vez melhores. “Nosso objetivo é continuar unindo tecnologia, colaboradores comprometidos e a ampliação de nossa operação logística para atender com excelência os consumidores na Bahia”, conclui a porta-voz do Mercado Livre na Bahia.
O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Intermarítima e Wilson Sons e apoio institucional da Fieb.