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Amanda Palma
Publicado em 6 de maio de 2017 às 13:57
- Atualizado há 2 anos
O setor de turismo de Lençóis, na Chapada Diamantina, está em alerta para evitar que os casos de esquistossomose em turistas que visitaram o Poção afetem o fluxo de visitantes na região. Segundo a secretária municipal de turismo, Lilian Andrade, alguns turistas ligaram para a cidade para saber dos riscos por causa da doença. “É preocupante essa viralização das notícias. Eu acho que a essa altura não vai afetar o turismo. Hoje a gente tem muito mais fofoca do que comprovação do protozoário. Essa comprovação só pode existir quando sair o laudo da Secretaria de Saúde”, afirma a secretária.Foto: Marcelo Braga/Arquivo Pessoal>
Ainda de acordo com ela, o secretário estadual de Turismo (Setur), José Alves, já entrou em contato com a Secretaria da Saúde (Sesab) sobre o assunto. “É um assunto de saúde pública, que já está sob os cuidados da Secretaria da Saúde do estado, que enviou prepostos para coleta de amostras”, completou Lilian.>
O presidente da Associação de Condutores de Visitantes de Lençóis, Nelson Oliveira, afirma que não há motivo para pânico entre visitantes. “As pessoas não precisam se preocupar, e a Chapada é muito grande. E só soubemos de casos nesse lugar. Os turistas podem vir tranquilamente, porque a Chapada tem 38 mil quilômetros quadrados. As providências estão sendo tomadas pelos órgãos públicos municipal e estadual”, afirmou. Ainda de acordo com ele, o Poção não está na rota turística comum das agências de viagens da região. >
Para Paulo Gaudenzi, presidente da Salvador Destionation, o turismo não deve ser afetado pela situação, já que não há uma epidemia de casos na cidade. “Afeta quando é epidemia, o que não é o caso”, disse.>
InvestigaçãoA investigação sobre a doença começou após a denúncia de uma agência de turismo mineira, que alertou para os casos de turistas contaminados pelo shistosoma quatro meses depois de terem conhecido o Poção, durante o Carnaval. Segundo a secretária de turismo de Lençóis, Lilian Andrade, é possível que a contaminação do Poção esteja relacionado ao Rio Santo Antônio, que atravessa alguns municípios da Chapada Diamantina e tem população ribeirinha que não tem saneamento básico.>
“Esse e-mail da agência que veio com 32 ciclistas, foi o estopim para esse passo. Ele serviu como a própria denúncia para o governo do estado, que faz o controle de zoonoses. Nós, imediatamente, enviamos o e-mail que funcionou como uma denúncia e a Vigilância Sanitária veio fazer a coleta ontem”, explicou.>
Para alguns era a primeira vez que iam na Chapada Diamantina, como o biomédico mineiro Alexandre Magno Nogueira, 33 anos. Ele também visitou o Poção e tem uma das mais graves manifestações da esquistossomose no grupo de amigos, e agora precisa ser acompanhado por um fisioterapeuta e um neurologista, já que o parasita se instalou na medula. Os primeiros sintomas começaram a parecer no grupo após 30 dias do passeio.>
Em entrevista ao CORREIO, o biomédico contou que sentiu fortes dores nas costas e nas pernas, que evoluiu para a dificuldade de andar. No início, ele acreditava que a locomoção estava prejudicada por causa das dores, e só depois percebeu que estava realmente perdendo os movimentos.>
No caso dele, o parasita se instalou na medula e atingiu o sistema neurológico. “Fiquei me arrastando para andar, com dificuldade e aí o quadro piorou um pouco. Eu fiquei um dia sem urinar, e sem ir no banheiro, e eu me preocupei mais”, contou. Alexandre foi submetido a exames de imagem, quando foi diagnosticado com mielite transversa esquistossomótica. Ele teve que parar de trabalhar e está fazendo tratamento com fisioterapia e um neurologista. Alexandre ficou internado por cinco dias, tomando altas doses de corticóides.>
A esquistossomose é geralmente contraída após o contato de fezes humanas infectadas com caramujo que vivem em água doce, que se tornam o hospedeiro do verme. Os ovos do verme se desenvolvem dentro do caramujo e, na água, sobrevivem por 48 horas. Os vermes penetram na pele das pessoas que têm contato com a água e depois se desenvolvem dentro dos vasos sanguíneos.>
Água límpida>
No local, os turistas não perceberam nada de diferente, já que a água era limpa. “É um local que estava recém-aberto, a gente tava indo pra Cachoeira do Mosquito, quando falaram desse Poção. As pessoas que iam pra cachoeira e resolveram ir para lá. É um lugar bonito, não tinha como perceber nada de diferente, porque a gente não vai pensando que algo assim pode acontecer”, afirmou Marcelo Braga.>
“Não percebi nada de diferente na água, que era muito límpida. Um lugar muito bonito, não ia pensar que estava infectado”, disse o biomédico Alexandre Magno. De Salvador, a professora universitária Érica Aragão, 43, também foi com a família passar o Carnaval na Chapada Diamantina e também visitou o Poção. O diagnóstico da doença veio quase dois meses depois e foi descoberto por acaso. Nas consultas, os médicos acreditavam que a família estava com um rotavírus.>
“Começa como uma gripe, coceira no corpo, dois meses depois mais tosse, febre, calafrios. A gente descobriu por acaso minha filha foi internada por outro motivo e aí foi fazer investigação por esquistossomose e veio o diagnóstico”, contou Érica. Só então a família foi submetida ao tratamento específico da doença.>
Complexo turísticoO Poção fica dentro do Complexo Turístico Fazenda Santo Antônio e o acesso só deve ser liberado após o resultado da análise das amostras, caso os resultados sejam negativos. Ainda de acordo com Lilian, a Cachoeira do Mosquito, que fica no mesmo complexo e é um conhecido ponto turístico da Chapada, provavelmente não tem contaminação, visto que tem água corrente e a nascente do rio que a abastece fica próxima à queda d'água, diferente das águas do Poção.>
Em nota, a prefeitura de Lençóis informou também que está tomando providências para conscientizar a população sobre a doença. “A Prefeitura de Lençóis já está tomando providências para realizar uma campanha de prevenção junto à população, incluindo as escolas do município e agentes de turismo local”, diz a nota.>
De acordo com a Sesab, no ano passado foram notificados, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 532 casos de esquistossomose na Bahia, o que corresponde a uma redução de, aproximadamente, 25% em relação ao mesmo período de 2015, quando foram notificados 703 casos. A Sesab informou que não tem dados sobre casos da doença este ano na Bahia.>