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Perla Ribeiro
Publicado em 9 de abril de 2025 às 08:35
A família de Vitória Chaves da Silva, que morreu em fevereiro deste ano, aos 26 anos, depois de uma vida inteira lutando contra uma cardiopatia congênita, registrou uma queixa na delegacia e acionou o Ministério Público de São Paulo para denunciar duas estudantes de medicina que expuseram o caso e ironizaram a situação da paciente. Elas contam em um vídeo publicado no TikTok que Vitória fezs três transplantes de coração no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, e dizem que um deles não foi bem-sucedido por ela não ter tomado os medicamentos corretamente. A família da paciente contesta a informação da falta de medicamento e pede uma retratação. As informações são do G1 SP. >
Segundo a família da jovem, o vídeo foi postado em 17 de fevereiro deste ano, nove dias antes de Vitória morrer por choque séptico e insuficiência renal crônica. No entanto, eles só tiveram conhecimento que o caso foi parar na rede social na semana passada. "As duas estudantes fizeram estágio de 30 dias na instituição [Incor]. Nem chegaram a conhecer a minha irmã. Nunca foram vê-la. Por conta dessa desinformação, as pessoas passaram a criticar minha irmã", disse a irmã de Vitória, Giovana Chaves, em entrevista ao G1 SP.>
Na gravação, Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano aparecem dizendo que estavam no Incor, em São Paulo. Elas não citam o nome de Vitória, mas falam que estavam chocadas após saberem que uma paciente do hospital tinha recebido três corações e um rim. "A gente está em choque, sem acreditar até agora. São sete horas da manhã. Uma paciente que fez transplante cardíaco três vezes. Um transplante cardíaco já é burocrático, é raro, tem questão da fila de espera, da compatibilidade, mil questões envolvidas. Agora, uma pessoa passar por um transplante três vezes, isso é real e aconteceu aqui no Incor", afirmou Thaís.>
Gabrielli diz, então, que o segundo transplante teve rejeição pela falta de comprometimento da paciente em tomar os remédios. “A segunda vez ela transplantou e não tomou os remédios que deveria tomar, o corpo rejeitou e teve que transplantar de novo, por um erro dela. Agora. ela transplantou de novo, aceitou, mas o rim não lidou bem com as medicações”, disse Gabrielli. No final, Thaís ainda ironiza: “Essa menina está achando que tem sete vidas. Não sei. Já é tão raro, difícil a questão de compatibilidade, doação, 'n' fatores que não sei especificamente por que não passamos por cirurgia cardíaca ainda. Estou em choque. Simplesmente uma pessoa que passou por três transplantes de coração. Ela recebeu três corações diferentes”. A gravação foi apagada das redes sociais.>
A irmã de Vitória informou ao G1 SP que o segundo transplante não foi bem-sucedido por conta da doença do enxerto. "Elas fazem essa afirmação e não foi isso. Nós temos prova com o testemunho da médica que cuidou da minha irmã por 22 anos. Ela teve doença do enxerto, que é normal dar em órgão transplantado", diz Giovana. Diante do vídeo, a família decidiu registrar boletim de ocorrência e procurou o Ministério Público. Os parentes também procuraram o Incor, que disse a eles que não estava ciente do vídeo e que isso está contra a ética da instituição. Em nota, o Ministério Público informou ao G1 SP que o caso foi distribuído para o 4º Promotor de Justiça de Direitos Humanos da capital, que avalia o caso. >
Vitória nasceu em Luziânia (GO) e foi diagnosticada com grave cardiopatia congênita chamada Anomalia de Ebstein, doença rara que afeta a válvula do coração. Os médicos deram 15 dias de vida. Após várias cirurgias e complicações, aos 4 anos foi para São Paulo, onde teve parada cardíaca durante um cateterismo. Foi então diagnosticada com a necessidade de um transplante de coração. Após 1 ano e 4 meses na fila, fez o primeiro transplante em 2005, no Incor, quando tinha apenas 5 anos.>