Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2014 às 14:24
- Atualizado há 2 anos
Jussara Uglione tem aparência frágil por causa da idade - 73 anos - e por usar marca-passo. Mas a vida lhe fez forte o suficiente para enterrar uma filha e, agora, um neto - ambas mortes violentas e sob investigação. A aposentada é avó de Bernardo Boldrini, de 11 anos, morto no dia 4 em Três Passos (RS).Foto: Arquivo PessoalOs principais suspeitos do crime são Leandro Boldrini, de 38 anos, pai do menino, Graciele Ugulini, de 32, madrasta, e a amiga do casal, Edelvania Wirganovicz, de 40, presos provisoriamente. Jussara lamenta que as autoridades nada puderam fazer para ajudar seu neto. Partiu dela o aviso ao Conselho Tutelar de Três Passos e à Promotoria da Infância e Juventude na cidade de que Bernardo corria perigo.>
Desde a morte da filha, Odilaine Uglione, em 2010, Jussara havia perdido contato com o neto. Diz que Boldrini impedia a aproximação. “Meus advogados têm comprovantes de que fui impedida de vê-lo desde a morte da minha filha. Fui impedida por 4 anos, me chamavam de velha doente, falavam que eu tinha problemas e não teria condições de cuidar dele”, conta. >
A aposentada mora em Santa Maria, onde tem uma revenda de carros, e, desde que começou a receber relatos das dificuldades que o neto vinha passando em casa, se apresentou para cuidá-lo. E-mails trocados com o advogado de Jussara, Marlon Balbon Taborda, relatam que a avó pediu providência da rede de proteção à criança. >
Taborda informou, em e-mail ao Conselho Tutelar e à promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira, que a avó tinha informações de que Bernardo não estava mais com o pai, mas com uma pessoa identificada como Jú. O advogado explica que conversou com uma pessoa chamada Elaine, “que me expôs de forma categórica ao telefone que Bernardo estava andando pela rua, abandonado, que quase foi asfixiado em uma noite quando estava em casa, fato confirmado pelo menino”. >
Elaine nunca foi chamada a depor. O advogado diz que os órgãos da rede de proteção da criança foram chamados para confirmar os acontecimentos. “Demos nomes de testemunhas a serem averiguadas, mas nunca recebemos qualquer retorno”, reclama. A ex-babá do menino afirma que o comportamento do pai mudou depois que a mulher morreu e ele foi morar com Graciele. Segundo ela, no fim de 2012, quando já não trabalhava mais na casa dos Boldrini, encontrava Bernardo na rua com frequência. >
Em uma ocasião, a criança revelou que a madrasta o havia agredido. Conforme a ex-babá, ele era impedido de entrar em casa quando o pai não estava. “O menino sofria maus-tratos. Ela (Graciele) não deixava que ele entrasse em casa enquanto o pai não chegasse. Ele ficava sentadinho na calçada. A Justiça sabia disso, porque toda a vizinhança o via sentado na calçada”, afirma a avó. >
Para a promotora da Infância de Três Passos, tudo o que estava ao alcance do MP foi feito. >
DesinteresseEm dezembro do ano passado, uma assistente social da prefeitura encaminhou um relatório à promotora Dinamárcia, no qual explicitava o dia a dia de Bernardo sem a participação do pai. No documento, a assistente comentou a dificuldade de relacionamento do menino com a madrasta. >
No dia 31 de janeiro, o MP ajuizou uma medida protetiva, solicitando à Justiça que passasse a guarda à avó materna. Na ocasião, foi marcada uma audiência entre Boldrini e o juiz da Infância e da Juventude, Fernando Vieira dos Santos. >
Dez dias depois, o pai de Bernardo pediu uma chance de reaproximação com o filho. O juiz aceitou, e marcou uma nova reunião para 13 de maio. Enquanto isso, a rede de proteção infantil deveria observar a família e reportar à promotoria, o que não aconteceu. “Apostamos na preservação dos laços familiares. Chamamos o pai e suspendemos o processo por 60 dias, esperando a reconciliação. Infelizmente, aconteceu o pior”, lamentou o juiz.>
[[saiba_mais]]>