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Carol Neves
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 10:18
A Câmara dos Deputados deu aval, nesta terça-feira (9), ao projeto que endurece o combate ao chamado devedor contumaz - empresas que deixam de pagar tributos de forma reiterada e planejada, explorando brechas legais para obter vantagens competitivas. A proposta, que já tinha passado pelo Senado, agora depende apenas da sanção presidencial. >
O avanço do texto foi articulado entre líderes partidários após um pedido do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas contou também com apoio de siglas da oposição e de entidades empresariais. A urgência havia sido aprovada ainda no fim de outubro, mas o tema só avançou depois que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), escolheu o relator, Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), em 28 de novembro.>
Mencionada pelo governo como uma medida essencial no enfrentamento ao crime organizado, a proposta ganhou força após casos como o do Grupo Refit, acusado de sonegação bilionária. A empresa, dona da antiga refinaria de Manguinhos e de diversas companhias do setor de combustíveis, foi alvo de uma grande operação no fim de novembro. As investigações estimam que o esquema tenha causado prejuízo superior a R$ 26 bilhões.>
Ainda em novembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), destacou que criminosos usam a abertura e o fechamento sucessivo de empresas para lavar dinheiro e burlar o pagamento de tributos — prática que, segundo ele, tende a ser limitada com as novas regras direcionadas aos devedores contumazes.>
Como funciona o projeto aprovado>
O relator Antonio Carlos Rodrigues decidiu manter integralmente o texto que havia sido aprovado no Senado. A proposta define como devedor contumaz o contribuinte que transforma a inadimplência repetida e injustificada em estratégia de negócio.>
Pelas regras federais, entram nessa classificação empresas com dívida tributária superior a R$ 15 milhões e que ultrapasse 100% do patrimônio conhecido. Estados e municípios terão critérios próprios.>
Empresas incluídas nessa categoria podem ser submetidas a diversas restrições, como:>
perda do direito a benefícios fiscais;>
impedimento de participar de licitações;>
proibição de solicitar ou prosseguir com recuperação judicial;>
possibilidade de ter a inscrição no CNPJ declarada inapta.>
No âmbito federal, também poderá ser instaurado processo específico para facilitar a cobrança dos tributos devidos.>
O relator do texto no Senado, Efraim Filho (União-PB), afirmou que dados da Receita Federal identificam 1,2 mil CNPJs nessa situação, somando R$ 200 bilhões em débitos acumulados na última década.>
Antonio Carlos Rodrigues argumentou, em seu parecer, que a medida é essencial para enfrentar a concorrência desleal. Segundo ele, esses contribuintes utilizam a inadimplência para obter "vantagens competitivas ilícitas" que “distorcem o mercado e prejudicam o investimento produtivo”.>
Benefícios para os bons pagadores>
Além das punições mais rígidas aos devedores contumazes, o projeto também abre espaço para incentivar quem cumpre regularmente suas obrigações tributárias.>
O texto prevê:>
canais de atendimento simplificados para orientação e regularização;>
flexibilização na apresentação de garantias;>
adiamento da execução fiscal de garantias até o trânsito em julgado.>