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Agência Brasil
Publicado em 2 de fevereiro de 2016 às 07:44
- Atualizado há 2 anos
Corrupção, problemas no transporte público, violência policial e a Olimpíada no Rio de Janeiro serão temas de marchinhas de carnaval. Em forma de paródia, as músicas vão ser cantadas por 30 blocos de rua que aderiram à campanha Ocupa Carnaval. >
Criada por grupos de artistas, ativistas e movimentos sociais, as marchinhas criticam, de forma irreverente, problemas do país e da cidade, que passa por intervenções controversas para receber os Jogos Olímpicos em agosto.Com marchinhas irreverentes, blocos de rua reúnem milhares de foliões nas ruas do Rio (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)Elaboradas de maneira colaborativa, em reuniões abertas, as marchinhas farão parte do repertório de blocos tradicionais como a Orquestra Voadora, o Céu na Terra, o Boi Tolo e de blocos criados para protestar, como o Planta na Mente, que defende a legalização das drogas, e o Mulheres Rodadas, em favor da liberdade e autonomia das mulheres.>
A campanha inclui ainda adesivos, vídeos nas redes sociais e uma alegoria-símbolo em referência à tocha olímpica, que circulará pelo carnaval de rua. Um dos organizadores, o saxofonista Tomás Ramos, do Bloco Nada Deve Parecer Impossível de Mudar, explica que a ideia do Ocupa Carnaval é levantar, também nos dias de folia, temas que movimentos sociais discutem ao longo do ano. >
Portanto, as intervenções da prefeitura para a Olimpíada não poderiam ficar de fora. Ao som de Cidade Maravilhosa, serão denunciados investimentos público-privados em áreas mais ricas, com a Barra da Tijuca, a sede do Parque Olímpico, além do encarecimento do custo de vida no Rio. >
Também entram no refrão as remoções de 40 mil famílias, entre elas cerca de 500 retiradas da Vila Autódromo e que deu lugar ao Centro Internacional de Transmissão (IBC). O prédio, que será utilizado pela imprensa nos jogos, será depois adaptado para centro comercial.>
“Prevaleceu a lógica da especulação imobiliária, que decidiu quais eram as prioridades em termos de áreas para investimentos públicos e privados. Temos hoje uma cidade voltada para [favorecer] o negócio, a especulação imobiliária e não para o bem-estar das pessoas que vivem nela”, afirmou Tomás.>
Também reflexo da tentativa de organização da cidade para receber as competições internacionais, segundo o Ocupa Carnaval, estão o aumento da violência policial e os chamados choque de ordem, as operações da Guarda Municipal que recolhem moradores de rua e a mercadoria de vendedores ambulantes não autorizados. >
Para protestar contra a repressão aos camelôs, os ativistas organizam um cortejo específico nesta quarta-feira (3), saindo do camelódromo da Rua Uruguaiana, no centro, às 16h30, em direção à Lapa, com a participação dos vendedores.>
Ao ritmo de Alalalô, outra paródia lembrará o caso do assessor da prefeitura e deputado federal Pedro Paulo, denunciado mais de uma vez pela mulher, por tê-la ameaçado e agredido com um soco que lhe quebrou um dente.>
Tragédia em Mariana também vira marchinhaMesmo tendo ocorrido fora do Rio, a tragédia na cidade de Mariana, em Minas Gerais, causada depois que uma barragem da empresa Samarco, ligada à Vale, se rompeu, também virou marchinha. A composição Jardineira foi transformada para lembrar os mortos e desabrigados, além dos impactos ambientais do acidente. >
“Ó Mariana porque estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu? Foi a Vale que arrasou a terra, matou o Rio, nos esqueceu”, é um dos trechos da marchinha adaptada. A jornalista e compositora do Ocupa Carnaval, Manuela Trindade esclarece que os temas escolhidos levam em consideração problemas nacionais e dialogam com a realidade de outras cidades.>
“A violência policial, a violência contra a mulher, a falta de transporte são questões muito presentes no Rio, mas que não são exclusivas”, disse ela, que espera contagiar turistas nos cortejos.>
Procurada para comentar a campanha, a prefeitura não respondeu à Agência Brasil. O prefeito, Eduardo Paes, em outras ocasiões, negou que a Olimpíada tenha favorecido o mercado imobiliário na Barra, mas reconheceu que muitos investimentos só foram possíveis em parceria com empresas privadas, como é o caso do IBC e do Campo de Golfe, erguido em uma Área de Preservação Ambiental (APA), na Barra. Em troca da obra para a competição, o empresário Pasquale Mauro ganhou autorização para expandir condomínio vizinho ao local.>
A Secretaria de Ordem Pública, que coordena as ações da Guarda Municipal, informou que atua “dentro da legalidade para coibir o comércio ambulante não autorizado”. >
No inicio de janeiro, no entanto, reprimiu com bombas de efeito moral, gás pimenta e bala de borracha um bloco de pré-carnaval, com centenas de pessoas, gerando confusão e deixando pessoas feriadas. A ação começou logo após abordagem a ambulantes que vendiam cerveja, e saiu do controle.>
Também está planejado para domingo (14), depois do carnaval, um cortejo que faz sátiras com os Jogos Olímpicos, chamado de Olim-Piada.>