Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Perla Ribeiro
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 16:02
O câmbio entre dólar e real teve uma trajetória marcada por fortes oscilações ao longo de 2025. Logo no início do ano, a moeda norte-americana chegou a atingir a faixa dos R$ 6,20, refletindo um ambiente de elevada aversão a risco, incertezas internas e receios sobre a condução fiscal. Com o avanço dos meses, porém, o cenário começou a mudar. Hoje, a moeda se estabiliza na faixa de R$ 5,30. >
As tensões globais arrefeceram, parte dos fluxos externos retornou aos mercados emergentes e o diferencial de juros voltou a favorecer o real. A combinação desses fatores levou o câmbio a esfriar, até tocar uma mínima anual próxima de R$ 5,26, movimento que surpreendeu até os analistas mais otimistas. >
Dólar volta à casa dos R$5,30: momento de comprar ou vender?
Os R$ 5,30 alcançados é muito abaixo dos picos do começo do ano e em linha com um ambiente em que o Federal Reserve conduz cortes nos juros, enquanto o Brasil mantém a Selic elevada, em 15% ao ano, o que continua oferecendo prêmio relevante ao real. É nesse contexto que surge a pergunta central: com o dólar em torno de R$ 5,30, vale comprar, vender ou simplesmente manter posição? >
Para o planejador financeiro CFP® Lucas Sharau, sócio da iHUB Investimentos, a resposta depende menos do preço isolado e mais do objetivo do investidor. “Em vez de esperar o ‘dólar perfeito’, o investidor precisa definir a exposição, entender o cenário e agir com consistência”, explica.>
Para quem tem viagem marcada ainda em 2025, Sharau orienta tratar o câmbio como custo de projeto, não como aposta. Ele sugere compras fracionadas ao longo das próximas semanas, combinando moeda em espécie, conta internacional ou cartão de débito em moeda forte. Para viagens em 2026, o especialista sugere uma estratégia em camadas, começando aquisições menores já neste ano e acelerando ou desacelerando conforme a evolução do câmbio.>
“Historicamente, o dólar oscila em bandas largas. É muito difícil acertar o ponto mínimo, portanto, é mais aconselhável ir comprando aos poucos para não comprometer o orçamento de última hora. O câmbio não pode ser o fator crucial para a realização de uma viagem, uma compra fracionada é fundamental para acumular os recursos necessários para usufruir durante o período fora do país”, afirma. >
Do ponto de vista de investimento, Sharau diz que a decisão entre comprar ou vender dólar passa pelo entendimento das assimetrias. O especialista aponta que compras táticas fazem mais sentido quando a moeda se aproxima de R$ 5,20 - R$ 5,30, desde que não haja mudança estrutural a favor dos EUA. Já zonas próximas de R$ 5,90 - R$ 6,10 demandam cautela, principalmente para quem já tem uma posição elevada na carteira. “Não uso esses patamares como sinal automático. Trato como faixas de assimetria: perto do piso, aumentar gradualmente; perto do teto, realizar parcialmente se a posição estiver desproporcional ao objetivo”, comenta.>
Sharau lembra que, embora buscado como proteção, o dólar não é um ativo isento de riscos, pode cair em cenários de real fortalecido, perde para os juros domésticos no custo de oportunidade e ainda envolve IOF, spreads e tarifas. Por isso, reforça a necessidade de objetivos claros. >
Para investimentos e hedge, as melhores opções são fundos cambiais, multimercados com exposição ao câmbio, BDRs, ETFs ou aplicações no exterior. “Não existe um percentual ideal, mas na prática, investidores brasileiros costumam trabalhar entre 10% e 20% de exposição, podendo chegar a 30% para quem tem patrimônio maior ou planos concretos atrelados ao dólar”, comenta Sharau. >
Por fim, o especialista explica que o foco deve ser o planejamento e não tentativas de acertar topos e fundos. “A maneira mais eficiente de tirar o emocional é tratar o dólar como uma classe de ativo: definir uma política de alocação, comprar aos poucos e rebalancear. O dólar não deve ser idolatrado nem demonizado, mas integrado à gestão de risco. Desde a pandemia, o real opera estruturalmente acima dos cinco reais, e o essencial é entender quanto da vida futura do investidor depende dessa moeda e dolarizar com orientação profissional”, finaliza.>