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Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2021 às 11:50
- Atualizado há 2 anos
A crise militar aberta pelo presidente Jair Bolsonaro com a abrupta troca de comando no Ministério da Defesa e na cúpula das três Forças Armadas foi recebida com silêncio nos meios diplomáticos. Estados Unidos, União Europeia e Argentina, antigos parceiros de quem o atual governo se afastou (no caso dos EUA, recentemente, após a posse de Joe Biden), evitaram se manifestar sobre o episódio.>
O jornal O Estado de S. Paulo procurou ouvir representantes dos governos e parlamentares dos EUA, da França e da Argentina sobre a crise. A reação mais comum foi a de evitar envolvimento com o tema. No governo americano, a avaliação é de que se trata de um tema de repercussão doméstica, sobre o qual não se deve tirar conclusões precipitadas.>
No Congresso dos EUA, os Democratas aliados do presidente Joe Biden se dividem em duas alas. Os expoentes da esquerda do partido veem com preocupação os gestos de Bolsonaro e temem uma ruptura antidemocrática. Já os parlamentares centristas, mais próximos ao presidente, defendem que a tentativa de politização das Forças Armadas deve ser acompanhada sem sobressaltos por parte de Washington, e com a consciência de que a resistência da própria cúpula militar a esses esforços é um sinal positivo.>
No Conselho de Segurança Nacional e no Departamento de Estado, assessores se limitam a dizer que "estão cientes dos acontecimentos no Brasil" e "apoiam as instituições democráticas". Mesmo porque, segundo um experiente assessor parlamentar do Capitólio, Washington não tem tempo para lidar de perto com duas crises simultâneas no Hemisfério Ocidental.>
E, apesar de as questões brasileiras repercutirem nos EUA, todos os olhares de quem acompanha a política externa na América Latina estão voltados ao impasse com o fluxo de imigrantes da América Central na fronteira americana com o México.>
O governo argentino, que se manifestou prontamente quando houve crises militares em países como Bolívia e Equador, desta vez se resguardou. Em uma reunião em que o Brasil foi mencionado, o ministro das Relações Exteriores, Felipe Solá, disse que não há motivo para alarme e que se trata de uma questão interna. No Ministério do Interior, a preocupação maior não é com os militares brasileiros, mas com a crise sanitária relacionada à pandemia de covid-19.>
Ex-vice-presidente da Argentina e atual integrante da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Julio Cobos, da opositora UCR, lamentou que o Brasil esteja vivendo "momentos complexos" e observou que "a militarização do poder civil traz consigo uma série de perigos que nossa região conhece muito bem".>
França Presidente do grupo de amizade França-Brasil da Assembleia Nacional francesa e integrante do partido governista A República em Marcha (centro), a deputada Anne Blanc disse que considera a crise entre oficiais das Forças Armadas com o governo brasileiro ao mesmo tempo "inquietante" e "tranquilizadora". "Inquietante porque a gente não sabe as razões que levaram a essas demissões, com o risco aumentado de um golpe militar como o que o Brasil conheceu há exatos 57 anos. O lado tranquilizador é que, finalmente, alguns militares não querem ser associados à política de Bolsonaro.">
A senadora do Partido Comunista Francês (PCF) Laurence Cohen, presidente do grupo interparlamentar França-Brasil, disse ter ficado surpresa com os acontecimentos em Brasília.>
"O Brasil passa por um momento crítico, com a crise sanitária, e Bolsonaro, com uma sensação de perda de controle dentro do próprio governo, demitiu os ministros, especialmente o da Defesa, como uma tentativa de retomar o poder, para mostrar que era ele quem mandava no jogo. Mas ele não esperava as demissões dos três oficiais e eu tenho a sensação de que Bolsonaro sai enfraquecido desta história", afirmou Laurence.>
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. >