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Nem Zeus nem Thor: conheça os deuses indígenas que podem inspirar a COP30

Tupã, Jaci, Guaraci e outras divindades da mitologia tupi-guarani mostram que os povos originários já pregavam equilíbrio e respeito à natureza muito antes das conferências climáticas

  • Foto do(a) author(a) Moyses Suzart
  • Moyses Suzart

Publicado em 10 de novembro de 2025 às 16:55

duses indígenas
Deuses indígenas Crédito: Bianca Duarte

A mitologia grega, romana, nórdica e até dos hermanos incas e maias estão no topo do panteão dos deuses que o mundo conhece. Mas o Brasil tem seus próprios personagens mitológicos genuinamente nossos, que eram cultuados bem antes da chegada dos portugueses e sua crença católica, que apagou tanta história rica sobre os protetores místicos brasileiros. Antes que alguém pense nos Orixás, há uma diferença, pois as entidades de matriz africana não são conhecidas pela mitologia, pois são cultuados e, portanto, são religiões. Toda religião tem mitos, mas nem toda mitologia é uma religião, que possui um conjunto de crenças, rituais, valores e práticas que vão se apagando com o tempo em algumas crenças antigas que se tornam mitologia. É certo dizer que uma mitologia já pode ter sido uma religião.

As etnias indígenas brasileiras foram e são guardiãs de cosmologias que ligam o humano à natureza, à terra, ao céu e às águas. E podemos ter dezenas de deuses que se perderam com a morte de diversas etnias dos povos originários. Os mais conhecidos são oriundos do Tupi-Guarani. Hoje, quando o mundo se volta para a crise climática, como no âmbito da COP30, que reúne governo, ciência, povos tradicionais e sociedade civil para tratar da transição ecológica, da justiça climática e dos direitos territoriais, essas cosmologias ganham potência simbólica: elas mostram que as formas de vida humana dependem de ecossistemas saudáveis, e que proteger biodiversidade, florestas, rios e povos indígenas é também responder a essas mitologias vivas.

Essas divindades mostram que o Brasil já tinha sua própria “agenda climática” muito antes das conferências internacionais. Cada mito é uma metáfora de equilíbrio com a natureza. Confira abaixo os principais deuses da mitologia verdadeiramente brasileira:

Tupã

Este não precisa de nenhum martelo para chamar raios e trovões, como o barrigudo do Thor. Na tradição tupi-guarani, “Tupã” (do tupi tu-pã ou tu-pana) significa “trovão” ou “golpe estrondante”. Ele é entendido como manifestação de poder, ligado ao trovão, chuva, relâmpago e às forças meteorológicas. No topo do panteão, Tupã é o criador dos céus, da terra, dos mares, dos seres vivos, ou pelo menos, atua como agente da criação, com auxílio de outras entidades.

Na COP30: Em tempos de crise climática, Tupã pode simbolizar a força da natureza que se expressa através de tempestades intensificadas, secas, mudanças meteorológicas extremas. A idéia indígena de que uma força suprema da natureza deve ser respeitada conecta-se à urgência de escutar os “alertas da terra” e de proteger os ecossistemas.

Deuses indígenas por Divulgação

Guaraci e Jaci

Se Tupã é o trovão que acorda o mundo, Guaraci (ou Quaracy) é o sol que o ilumina, e a bela Jaci é a lua que o acalma. O casal cósmico da mitologia tupi-guarani representa o equilíbrio entre o dia e a noite, o masculino e o feminino, o ciclo da vida e o descanso. Guaraci é o protetor dos seres vivos, pois seu calor é fonte de energia e crescimento, enquanto Jaci é a guardiã da fertilidade, do amor e das águas, regendo o ritmo da natureza.

Na COP30, Guaraci e Jaci podem simbolizar a busca por equilíbrio ecológico, lembrando que o planeta também precisa de convivência harmoniosa entre o progresso e a preservação, a tecnologia e a terra, a produção e o cuidado.

Sumé

Entre os cariris e tupis, Sumé é o grande civilizador, aquele que ensinou os povos a plantar, pescar, respeitar as águas e o fogo. Depois de cumprir sua missão, desapareceu misteriosamente, deixando rastros nas pedras e nas tradições orais. Sua figura, meio humana, meio divina, simboliza o conhecimento transmitido pela natureza e o dever de ensinar e aprender com ela.

Na agenda ambiental, Sumé poderia ser visto como o educador da sustentabilidade, o espírito que lembra à humanidade que não há tecnologia superior à sabedoria da terra. É preciso cuidar para ter algum futuro possível.

Iara

Sedutora e misteriosa, essa não dá ponto sem nó. Iara é a deusa das águas doces, a mãe dos rios e das nascentes. Sua voz encanta e adverte: ela atrai os desavisados para ensinar respeito ao ambiente aquático. Nas cosmologias indígenas, as águas são seres vivos, dotados de força e memória. E se vacilar, ela de leva e nunca mais volta.

Na COP30, Iara surge como símbolo da urgência de proteger as águas, hoje ameaçadas pela poluição e pela mineração. A poluição das águas se mostra muito mais nociva que o perigo de cair no canto desta deusa imprevisível e encantadora como os rios.

Anhangá

Enquanto Tupã representa a luz, Anhangá é o espírito guardião das florestas e dos animais. Muitas vezes descrito como um ser que protege os seres da mata contra caçadores e invasores, ele não é um “demônio”, como os colonizadores o interpretaram, mas sim um espírito de vigilância ecológica. Esse até precisaria trabalhar mais, pois ele pode desaparecer com quem desmata a floresta e maltrata os animais.

Na COP30, Anhangá poderia ser lembrado como o guardião das espécies ameaçadas e o alerta sobre os limites da exploração humana e do tráfico de animais silvestres.

Monan

Antes de Tupã, muitos povos viam Monan como o criador original, o princípio de tudo. Ele é o fogo que traz luz e destruição, mas também purificação e recomeço. Quando os homens se afastam da harmonia com o mundo, Monan envia o fogo para limpar e regenerar a terra.

Em tempos de queimadas e colapsos climáticos, Monan é o reflexo da força regeneradora e destrutiva da natureza, um chamado à responsabilidade humana: a terra não é nossa inimiga, mas também não é nossa serva.

Ceuci

Deusa da agricultura e da colheita, Ceuci (ou Ceucy) é mãe dos alimentos, da fartura e do cuidado com o solo. Foi ela quem ensinou os povos a cultivar o milho e a mandioca, símbolos da vida que nasce da terra.

Durante a COP30, Ceuci pode inspirar debates sobre sustentabilidade alimentar, agroecologia e respeito aos ciclos naturais. Sua sabedoria ancestral propõe uma agricultura que alimenta sem destruir os recursos naturais.

Wanadi

Deus dos povos Iecuanas, cuja narrativa conta que o Sol criou três seres vivos, mas apenas Wanadi nasceu perfeito; os outros tinham deformidades, que simbolizam males como fome, doenças e morte. Wanadi representa a fragilidade e o risco que acompanham o desequilíbrio natural. Seu mito poderia ser interpretado como metáfora de “um mundo danificado”.

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Cop30