Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Rede Nordeste, JC
Publicado em 19 de novembro de 2023 às 09:00
No Dia Mundial em Memória das Vítimas do Trânsito, celebrado no terceiro domingo de novembro, o principal alerta à sociedade continua sendo o excesso de velocidade nas ruas e avenidas das cidades. A redução dos limites de velocidade no sistema viário é, no entendimento de especialistas, a medida mais efetiva, rápida e de baixo custo a ser adotada mundialmente.
Não é à toa que a OMS aponta que a velocidade é a principal causa de mortes no trânsito, respondendo por 50% dos óbitos. Por isso, é urgente que o Brasil - que matou mais de 33 mil pessoas no trânsito em 2021 - se adeque à recomendação da mesma OMS de limitar em 50km/h a velocidade máxima das vias urbanas no mundo.
Danielle Hoppe, gerente de mobilidade ativa do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento), é uma das especialistas que é enfática ao defender a redução da velocidade no sistema viário. “É a forma mais efetiva, rápida e barata para reduzir esse número. E o Brasil tem um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional que prevê a redução gradativa por tipos de vias. Um PL elaborado com cuidado pela sociedade civil organizada, mas que infelizmente não tem avançado”, alerta.
Em paralelo à redução, Danielle Hoppe destaca a urgência da unificação dos dados de mortes no trânsito em um sistema interligado com saúde, polícia e fiscalização de trânsito. Só assim o País terá dados estatísticos confiáveis e sem subnotificações.
O coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global no Recife, Gustavo Sales, é mais um especialista que alerta sobre o perigo do excesso de velocidade para o trânsito. “O risco de morte de um atropelamento a 70 km/h, por exemplo, é de quase 100%. Já se for a 50 km/h, o risco cai para 80%, a 30 km/h, vai pra quase 10%. As vias da cidade devem ter limites de velocidade adequados às interações dos diversos modos de transporte e os limites estabelecidos precisam ser respeitados.", defende.
Na capital pernambucana, inclusive, 32% de todas as infrações de trânsito registradas na cidade em 2022 foram cometidas por condutores que excederam em 20% os limites de velocidade estabelecidos nas vias. Por sorte, esse número corresponde a 0,2% dos condutores porque, onde há fiscalização por excesso de velocidade, o índice de respeito é de 99,8%.
Mas, onde não existe fiscalização, o desrespeito é grande. A Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS) realizou uma pesquisa observacional no Recife por meio da Universidade Johns Hopkins para medir o índice de respeito à velocidade e constatou que, sem radares, o excesso de velocidade é cometido por 24% dos veículos.
E que os usuários que mais excedem a velocidade são os motociclistas - 35% das motos andam acima desse limite. No caso de veículos leves, o número é 21% e, entre os pesados, 14%.
CONHEÇA A PROPOSTA DE REDUÇÃO DAS VELOCIDADES
As entidades da sociedade civil que atuam em defesa da segurança viária e da mobilidade sustentável elaboraram o Projeto de Lei 2789/23 com o objetivo principal de reduzir os riscos no trânsito e de promover um ambiente mais seguro para todos.
O texto adequa as velocidades permitidas nas vias urbanas de todas as cidades do Brasil, estabelecendo limites para diferentes tipos de vias de forma que facilitem a coexistência de veículos motorizados, pedestres e ciclistas.
O PL foi elaborado por 15 organizações da sociedade civil de diversas áreas e teve o apoio de outras 40. Em resumo, propõe a redução de velocidades limites de 80 km/h e 60 km/h em 20 km/h e 10 km/h, respectivamente. Assim, as vias que hoje têm limite de 80 km/h passariam a ter de 60 km/h e as que têm limite máximo de 60 km/h mudariam para 50 km/h.
MORTES E MUTILAÇÕES NO TRÂNSITO SÃO O PRINCIPAL ARGUMENTO PARA REDUÇÃO DAS VELOCIDADES
A base do projeto são os números cada dia mais assustadores relacionados à velocidade desenvolvida pelos veículos mesmo em áreas urbanas. Dados alarmantes mostram que os ferimentos associados ao trânsito são uma das principais causas de morte globalmente, especialmente entre jovens e crianças.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2018, os ferimentos associados ao trânsito representam a oitava causa de morte no mundo e a primeira entre crianças e jovens de 5 a 29 anos. Em 2021, os sinistros de trânsito no Brasil geraram 33.813 mortes, um aumento de 1.097 óbitos em comparação com os dados de 2020.
Entre 2014 e 2020, 252.465 pessoas perderam suas vidas devido à violência no trânsito. Além disso, o número de pedestres internados na rede pública de saúde do País devido aos atropelamentos cresceu 13% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o levantamento feito pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet ).
CONFIRA AS MUDANÇAS PROPOSTAS NO PL 2789/23
1) Vias de trânsito rápido (vias com acessos especiais com trãnsito livre, sem intersecção ou travessia de pedestres):
Atualmente, a velocidade máxima é de 80km/h e passaria a ser de 60 km/h.
2) Vias arteriais (avenidas caracterizadas por interseções, geralmente sinalizadas por semáforos):
3) Vias coletoras (vias para coletar e distribuir o trânsito):
Atualmente, a velocidade máxima é de 40km/h e continuaria sendo a mesma.
4) Vias locais (destinadas para trânsito em locais restritos e que não possuem semáforos):
Atualmente, a velocidade máxima é de 30km/h e continuaria sendo a mesma.
As organizações que elaboraram o PL 2789/23 são: UCB, Ciclocidade, Fundação Thiago Gonzaga, Instituto Alana, WRI Brasil, Observatório Nacional da Segurança Viária, Instituto Caminhabilidade, Centro de Estudos em Planejamento e Políticas Urbanas da UFPR (CEPPUR), ITDP Brasil e Abramet.