Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Agência O Globo
Publicado em 30 de março de 2015 às 09:51
- Atualizado há 2 anos
A seis dias de completar um ano da morte do menino Bernardo Boldrini, assassinado aos 11 anos com uma injeção letal aplicada pela madrasta e por uma amiga dela na cidade de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul, sua avó materna, Jussara Uglione, luta para reabrir outra investigação: a relativa à morte de sua filha Odilaine Uglione, mãe de Bernardo.Foto: ReproduçãoEm fevereiro de 2010, Odilaine foi encontrada morta na clínica médica de seu ex-marido e pai do menino, Leandro Boldrini. Na época, a polícia concluiu que ela havia cometido suicídio.>
Inconformada com as duas perdas, Jussara contratou peritos particulares que trabalharam nos últimos meses e que agora, depois de fazer exames grafotécnicos, atestam que a suposta carta de suicídio deixada por Odilaine foi forjada por alguém que “já conhecia a escrita dela”. A informação foi divulgada ontem pelo “Fantástico”.>
"Sempre tive dúvidas (sobre a veracidade da carta) e, agora, mais do que nunca", disse Jussara. "Eu quero que reabra (a investigação sobre a morte de Odilaine) para isso ficar esclarecido".>
"Odilaine foi morta. Ela não cometeu suicídio", acrescentou o advogado Marlon Taborda, que atende à avó de Bernardo. "Ela ia se separar, receber R$ 1,5 milhão, uma pomposa pensão alimentícia para ela e para o filho".>
No texto atribuído a Odilaine, estão escritas frases como “Ele (Leandro) pediu a separação. Perdi meu chão” e “Leandro, tu destruiu a minha família, meus sonhos, minha vida. Prefiro partir do que ver meu filho nas mãos de outras mulheres, meu amor em outros braços”.>
Letras diferentesSegundo o perito Ricardo Caires dos Santos, que trabalha em São Paulo há oito anos e que se debruçou sobre o texto, tanto o conteúdo da carta quanto sua assinatura foram forjadas.>
"Não foi a dona Odilaine que escreveu (isso)", disse Santos ao “Fantástico”, depois de comparar o documento com um contrato de locação, o diploma de auxiliar de enfermagem e um contrato de prestação de serviços assinado pela mãe de Bernardo. "São dois punhos totalmente diferentes. (São) Pessoas diferentes que assinaram (esses documentos)".>
Nas imagens exibidas pela TV Globo ontem, Santos aponta diferenças na grafia das letras “X”, “T”, “H” e “O”. O autor da carta, de acordo com o perito, faz o “X” em cruz, enquanto Odilaine fazia de forma contínua, por exemplo.>
"A pessoa que escreveu a carta tinha conhecimento de documentos dela", disse Santos. "É uma pessoa que já conhecia a escrita dela, uma pessoa muito próxima a ela".A investigação da morte de Odilaine foi feita em 2010 pela mesma delegada que, no ano passado, atuou no caso Bernardo, Caroline Bamberg. Na época, ela colheu depoimentos como o da secretária de Boldrini, Andressa Wagner, a primeira pessoa a ver Odilaine morta, e analisou laudos da perícia oficial. Para Caroline, não há dúvidas de que a mãe de Bernardo se matou.>
"A questão do suicídio ficou bem comprovada. Não houve erro na investigação", afirmou ela. "O que não pode é querer forçar uma situação que não existiu, que não ficou provado. Eu não levo muita fé em perícia particular. Eu não passo me basear nisso".>
Segundo o “Fantástico”, no entanto, o Ministério Público já pediu à polícia novas informações sobre a investigação feita em 2010 e, nos próximos dias, deve dizer se pedirá a reabertura do caso.>
Enquanto isso, quatro pessoas continuam presas pela morte de Bernardo: seu pai, Leandro, sua madrasta, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz. Eles ainda não prestaram depoimento ao juiz do caso, mas o MP espera que o julgamento deles aconteça ainda este ano.>
Bernardo, que morava com Leandro, Graciele e uma meia-irmã, foi morto em Frederico Westphalen, cidade que fica a 80 quilômetros de Três Passos, em decorrência de uma injeção.>
Segundo os depoimentos prestados por sua avó Jussara, ele passou a sofrer maus-tratos por parte da família depois da morte da mãe. Bernardo não tinha a chave de casa e costumava andar maltrapilho pelas ruas da cidade, descreveu ela à Justiça.>
O “Fantástico” também exibiu ontem o conteúdo de grampos telefônicos que foram feitos com a autorização da Justiça na casa de Leandro após a morte de Bernardo. Para a promotoria, eles são provas importantes contra os acusados.>
Grampos telefônicosEm um dos telefonemas, Clarissa Oliveira, madrinha de Bernardo, diz que desconfia de Graciele, chamada de “Kelli”:>
"Não tem como não passar pela minha cabeça que essa guria, num momento de fúria, “de pá”, e fez alguma coisa".>
"Mas a Kelli não tem esse perfil", respondeu Leandro. "Ó, o guri provocava ela de uma maneira assim. Ela deveria ter dado uma porrada nele, se fosse o caso".>
Segundo os grampos, o marido de Clarissa chegou a pressionar Leandro e Graciele para que eles confessassem a participação no crime.>
"Uma semana teu piá tá sumido, rapaz. Tu tem culpa no cartório".>
"Que culpa no cartório?" — contestou o pai de Bernardo.>
Leandro e Evandro Wirganovicz negam envolvimento na morte do menino. Graciele e Edelvânia falam em acidente. A madrasta diz que deu calmantes demais para o enteado e que ele acabou morrendo.>
"Foi uma superdosagem, e ele teria tomado a medicação e vindo a óbito por circunstâncias alheias a vontade delas", disse Demetryus Grapiglia, advogado de Edelvânia.[[saiba_mais]]>