'Tentam me quebrar psicologicamente', diz Temer sobre Lava Jato

Ele negou as acusações de lavagem de dinheiro por parte de sua filha

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  • Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 10:45

- Atualizado há um ano

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Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ex-presidente Michel Temer disse que sua prisão, em março, não seguiu o devido processo legal e que a força-tarefa da Operação Lava Jato tenta "quebrá-lo psicologicamente" ao envolver sua filha, Maristela, na acusação em que responde por lavagem de dinheiro. Ele negou as acusações e disse que a filha vai demonstrar "cabalmente" no processo que não recebeu dinheiro.

"Depois que tentaram me derrubar do governo, e não conseguiram, tentam me quebrar psicologicamente envolvendo a minha filha", disse o ex-presidente durante a entrevista, na noite desta segunda-feira (16). No caso, conhecido como "Quadrilhão do MDB", o Ministério Público Federal acusou Temer, Maristela, o amigo de Temer João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, e a esposa dele, Maria Rita Fratezi, de lavar R$ 1,6 milhão de origem supostamente ilícita. A acusação diz que coronel Lima teria pago por reformas na casa de Maristela.

"O coronel João Baptista Lima Filho não pagou por essa reforma", rebateu Temer, no programa. Segundo o MPF, o MDB teria arrecadado propina da construtora Engevix para que a empresa assumisse obras da usina nuclear de Angra 3. A propina, segundo a acusação, teria sido paga através de uma empresa do coronel Lima e gasta nas reformas da casa.

O presidente ainda disse que a prisão foi decretada sem que ele fosse ouvido no processo. "O juiz pegou aquilo e, sem indiciamento, sem denúncia, acolhimento de denúncia, sem ouvir o acusado, mandou decretar a prisão", disse. A prisão foi decretada em março pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio. "Se acontece comigo, você pode imaginar o que pode acontecer com o cidadão comum."

Na entrevista ao Roda Viva, Temer comentou ainda o impeachment de Dilma Rousseff e a divulgação dos grampos dela com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mesmo dia em que era esperada a nomeação dele para a chefia da Casa Civil do governo Dilma. Temer disse acreditar que, caso Lula assumisse o cargo, é "muito provável" que o impeachment não tivesse ocorrido. Lula foi posteriormente condenado e preso na Lava Jato.

"Se ele (Lula) fosse chefe da Casa Civil, é muito provável - ele tinha bom contato com o Congresso Nacional - que não se conseguiria fazer o impedimento, não se conseguiria fazer o impeachment", disse Temer. "Disso, eu não tenho dúvida."

A posse acabou suspensa pelo ministro do STF Gilmar Mendes após o juiz Sergio Moro divulgar uma conversa em que Dilma dizia a Lula que enviaria o termo de posse para o ex-presidente - o que foi interpretado, à época, como uma tentativa de impedir uma eventual prisão do petista.

Temer ainda reiterou que não participou da articulação do impeachment de Dilma, em 2016. Ele disse que era simpático a uma aproximação com a então presidente e com Lula, mas que não havia apoio no MDB para seguir com uma sustentação do governo PT."Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo 'golpe'", disse Temer. "Eu não poderia ser o articulador de um golpe porque chegaria muito mal no governo."O ex-presidente comentou uma reportagem da Folha de S Paulo que mostrou uma a transcrição de uma conversa telefonia entre ele e Lula, gravada no mesmo dia em que o ex-presidente falou com Dilma, em 2016. No telefonema, segundo o jornal, Lula pedia reaproximação entre o governo e o MDB, e Temer responde que eles sempre tiverem "bom relacionamento". Segundo Temer, a gravação seria prova de que ele teria trabalhado para a permanência da presidente no cargo.

Temer admite que sua relação com Dilma piorou a partir da publicação do documento "Ponte para o Futuro", com uma agenda de desenvolvimento para o País. Segundo ele, o gesto da publicação do material foi mal interpretado.

"Nós apresentamos como colaboração ao governo", justificou. "Nossa ex-presidente, por razões que eu não consigo entender, achou que aquilo era um gesto de oposição, e aí de fato ela se afastou definitivamente de mim."