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Perla Ribeiro
Agência Brasil
Publicado em 2 de junho de 2025 às 09:09
O percentual médio de médicos que deixaram postos de trabalho na chamada Atenção Primária à Saúde (APS) entre 2022 e 2024 foi de 33,9%. A rotatividade de profissionais é maior em locais que têm Produto Interno Bruno (PIB) menor. Rio de Janeiro, São Paulo e o Distrito Federal detém os maiores produtos internos brutos (PIB) per capita e os menores percentuais de saída de médicos. O Maranhão e a Paraíba, com menores PIB per capita, têm os maiores percentuais. As informações, que levam em conta os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, fazem parte de uma base de dados lançada nesta segunda-feira (2) pela Umane, organização que fomenta iniciativas no âmbito da saúde pública, e o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).>
A pesquisa utilizou dados públicos oficiais provenientes de fontes como Datasus (departamento de informática do SUS), o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab), Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), e-Gestor Atenção Básica (E-Gestor AB), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipeadata) e o Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra). Eles estão organizados em um painel interativo no site Observatório da Saúde Pública.>
O levantamento mostra progressos na cobertura, mas destaca desafios como a fixação de profissionais, cobertura vacinal, atenção aos portadores de condições crônicas e solicitação de exames para rastreios oncológicos. Um dos objetivos é ajudar gestores da área de saúde a aprimorar os serviços da APS. Médica de família e comunidade, uma das autoras do estudo e pesquisadora do FGVsaúde, Marcella Abunahman reforça que são necessários mais estudos para entender os percentuais de rotatividade de médicos e outros trabalhadores da área da saúde na APS. Ela defende que é preciso investir principalmente em locais com menos estrutura para reter os profissionais, já que a rotatividade alta traz prejuízos para toda a comunidade envolvida.>
“Uma saída é sempre péssima, porque é rompida a continuidade com paciente, família, equipe e todo o território. Os estudos mostram que é preciso pelo menos um ano para eu começar a conhecer meu paciente. E para que o meu paciente comece a me reconhecer como médico dele. Para a gente começar a criar algum vínculo. Quanto mais se conhece o paciente, mais acertos, menos erros e maior satisfação, porque eu gero o melhor resultado”, diz Marcella.>
Cientista de dados da Superintendência de Estatísticas Públicas da FGV, Pedro Ximenez avalia que, apesar das limitações e inconsistências observadas em algumas informações, a base de dados proporciona um diagnóstico preliminar valioso, que pode orientar gestores e formuladores de políticas públicas na identificação de oportunidades de melhoria e no desenvolvimento de estratégias para o fortalecimento da atenção à saúde em todo o país.>
O estudo da FGV/Ibre e Uname também destaca a cobertura de serviços essenciais pelo país. No segundo quadrimestre de 2024, as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul atenderam à meta do Sisab de prestar assistência a 45% das gestantes com pelo menos seis consultas. O Norte é a exceção. O mesmo cenário ocorre para o rastreio de câncer de mama, onde a meta de 70% de atendimento é alcançada nas quatro regiões, com exceção do Norte.>
No que diz respeito às internações por condições sensíveis à Atenção Primária à Saúde (APS), a média nacional entre janeiro de 2024 e outubro de 2024 ficou em 20,6%. Na divisão por regiões, o Sul (17,8%), Sudeste (19,8%) e Centro-Oeste (19,0%) ficaram abaixo da média nacional. O Norte (23,9%) e Nordeste (22,4%) ficaram acima. Segundo os pesquisadores, o indicador reflete a capacidade da APS de evitar internações por problemas de saúde que poderiam ser tratados ou evitados ainda no início. A cobertura vacinal em menores de 1 ano de idade não atingiu a referência do Ministério da Saúde de 95% em nenhuma unidade federativa. Os melhores números foram registrados em Alagoas e no Distrito Federal, com percentual de 87%.>
Atenção Primária à Saúde>
O Ministério da Saúde define a Atenção Primária à Saúde como o primeiro nível de atendimento à população. Ela inclui ações para promover e proteger a saúde, diagnosticar, tratar, reabilitar e reduzir danos. É a principal porta de entrada do SUS e do centro de comunicação com toda a Rede de Atenção. De acordo com Marcella Abunahman, médica de família e comunidade, uma das autoras do estudo e pesquisadora do FGVsaúde, a APS funciona como um filtro para organizar o fluxo dos serviços nas redes de saúde, dos mais simples aos mais complexos.>
“É na APS que se criam os laços e a relação vitalícia com a Unidade Básica de Saúde, com o médico e a equipe local, como os enfermeiros e os técnicos. Onde podem ser feitas todas as consultas de rotina desde o nascimento”, avalia Marcella. Ainda segundo ela, “É responsabilidade da Atenção Primária rastrear as doenças, diagnosticar, tratar, seguir os portadores dessas condições. Eu preciso saber quem é o meu paciente diabético. A UBS precisa saber quem são os hipertensos do território e ir atrás deles, assim como é feito com as gestantes”, complementa.>