Circuito Mestre Bimba: Saiba como começou o Carnaval no Nordeste de Amaralina

Folia do Nordeste atrai 20 mil pessoas por dia e tem o status de maior Carnaval de bairro da cidade

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  • Raquel Brito

Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 07:00

Circuito Mestre Bimba
Circuito Mestre Bimba Crédito: Divulgação

Quando o Carnaval do Nordeste de Amaralina nasceu, em 2005, era muito diferente do que é hoje em dia, em que mais de 70 blocos saem pelas ruas do bairro nos dias de folia. Naquela época, Marivaldo Nascimento, conhecido como Pixito, fundador da primeira agremiação, tinha apenas um carro de som e um sonho: fazer um bloco para as crianças.

No início, eram poucos os seguidores. No primeiro ano, apenas 20 crianças foram atrás do bloco de Pixito. Com o tempo, porém, os próprios moradores começaram a aderir à folia local.

“Hoje, quase duas décadas depois, nós temos 72 agremiações. Em 2015, nós oficializamos esse circuito numa grande audiência pública. Os donos dos blocos daqui são os próprios moradores, eu acho que isso é que foi chamando atenção da comunidade”, lembra Cássia Magalhães, uma das precursoras do Carnaval do Nordeste.

Essa autonomia se revela na diversidade dos blocos que desfilam pelo bairro atualmente, que vão dos infantis às rodas de samba, passando pela capoeira. Para Denilson Lima, presidente do Núcleo de Capoeira do Nordeste de Amaralina, (Nucana), que levou o bloco para a rua nesta quarta-feira (7), ter um circuito perto de casa foi a solução ideal para os desafios de uma folia concentrada nas áreas centrais da cidade.

“O Carnaval daqui surgiu na necessidade, porque nós tínhamos que nos deslocar até o centro, o que era um transtorno por conta do transporte de ida e vinda e pela violência. Por isso, o Carnaval daqui ficou cômodo para nós, já que não precisamos sair e não corremos o risco de ser apedrejados e de acontecer algo na rua”, diz.

Gisélia Santos, professora de dança conhecida como Mestra Gisa, celebra a participação dos seus alunos nos blocos. Ela, que foi uma das primeiras a entrar na organização de um bloco para os festejos, conta que a ideia não foi bem vista logo de cara. "Quando fundamos o Carnaval aqui, nós fomos taxados de malucos. E olha só a maluquice. Cresceu, se expandiu e hoje está oficializada. Nós criamos uma coisa que deu certo não só para nós, mas para a comunidade toda", afirma, com orgulho.

Atualmente, o trajeto de quase dois quilômetros chama-se Circuito Mestre Bimba e recebe mais de 20 mil pessoas por dia no Carnaval. O nome foi escolhido em homenagem ao capoeirista Manoel dos Reis Machado, ou Mestre Bimba, que foi um dos maiores representantes da capoeira regional e viveu grande parte da sua vida no Nordeste de Amaralina.

Marli Santos, 70, foi para a rua com as irmãs mais novas na primeira noite de folia. Desde 2014, elas passam quase todos os dias do Carnaval no bairro, que consideram ser muito mais tranquilo do que ir para os circuitos Dodô e Osmar. “Todos os anos estamos aqui no complexo, não perdemos um. Nos canais de TV, só se fala do Carnaval do Nordeste de Amaralina. É porque é o melhor Carnaval de bairro de Salvador”, diz.

Este ano, uma das irmãs de Marli levou a neta Alana, de seis anos, pela primeira vez para a festa. “É para já pegar o ritmo do Carnaval. Está no sangue, é herança dos avós, de pai, de mãe”, conta a avó.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo.