Kannário pede paz, mas não evita brigas na sua pipoca

Reportagem testemunhou três conflitos em menos de 20 minutos

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Publicado em 10 de fevereiro de 2024 às 02:40

Foliões na pipoca de Kannário, na Barra
Foliões na pipoca de Kannário, na Barra Crédito: Roberto Midlej

O início da apresentação de Igor Kannário no circuito Dodô (Barra-Ondina) começou com atraso de quase de três horas, mas o público não arredou pé de lá até ver o Príncipe do Gueto dar início ao seu show, à meia-noite. "Faz o coração pro Kannário aê!!", ordenava o músico que era prontamente atendido pelo público, fazendo o coraçãozinho com as mãos.

E, sabendo da fama (justa?) de brigão que tem, Kannário não cansava de pedir que o público se comportasse: "Quero todo mundo na paz!", apelava aos fãs. Mas o pedido, pelo visto, não adiantou muito: em menos de meia-hora de apresentação, a reportagem presenciou ao menos três brigas na pipoca do bloco. Antes de Kannário chegar, não havia o registro de nenhuma. Mas ele até se esforça para conter os conflitos. Para isso, invocou até o nome de Jesus. "Boa noite com Jesus", repetiu três ou quatro vezes em menos de 20 minutos.

Mas, para ele, a preocupação que as pessoas têm com a violência ao redor de seu trio não tem razão: "As pessoas se assuatm com a enegria [da pipoca]. Mas não se preocupem com o julgamento", disse ao público que o seguia. "Vocês têm que extravasar e para isso, escolheram o som de Kannário.

Mas, para quem não está acostumado a segui-lo - como é o caso deste repórter -, a experiência é um tanto tensa, é preciso reconhecer. A sensação que se tem é que as pessoas atrás do trio de Kannário estão sempre em estado de alerta. Qualquer vestígio de "anormalidade" pode ser interpretado como sinal de briga. E de repente é aquela correria, cada um vai prum lado e abre-se um vácuo. Mas dura pouco e logo tá todo mundo cantando com ele de novo. "Sai da frente, que eu tô passando", avisa o artista.

Os fãs que conhecem Kannário de perto garantem que ele é da paz. Laiane Ferreira, 24 anos, diarista, foi com o namorado Natan Andrade atrás da pipoca, como fazem juntos há pelo menos seis anos. Mesmo com oportunidade de vê-lo com frequência em Salvador, o casal vai atrás dele no interior da Bahia, como fez num show em Cachoeira, quando Laiane estava grávida, há cerca de dois anos.

Para Laiane, o fato de Kannário não ter papa na língua é que dá a ele a má fama: "O problema é que ele é sincero, fala o que pensa. Não tem rabo preso com político. Ele fala a verdade". Sobre a última confusão em que o cantor se envolveu - uma briga numa farmácia, porque ele acreditava que outros homens haviam olhado para sua filha -, Laiane reflete: "Eu não curto violência, mas eu tenho filho e se mexessem com meu filho, eu também reagiria. Se aconteceu como ele disse, acho que tá certo".

Laiane e Natan são tão fãs, que já foram convidados para uma festa de aniversário do Príncipe e garantem: "Ele é tranquilo e muito simples, humilde".

Polícia

"A mídia só mostra o que Kannario faz, mas não mostra a polícia batendo nos fãs", reclama Natan Andrade, auxiliar de serviços gerais, 28 anos. Natan mostra ao repórter uma cicatriz que adquiriu no show do ídolo na Virada do fim de 2023, na Boca do Rio. O fã do músico garante que é da paz e jamais fez por merecer aquela cicatriz, resultado, segundo ele, de uma pancada dada por um policial, com cassetete.

Mas nem isso afugentou Natan de acompanhar Kannario nesta sexta, na Barra. Ele, que mora no Bairro da Paz, foi curtir o Carnaval com Laiane. Tanto ele como ele ostentam uma dedicada ao ídolo. Ela tem um coração com um nome dele desenhado no braço. Ele, no pescoço, tem um trecho de uma música.

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