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Editorial
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 05:00
A Bahia vive uma das mais graves crises de segurança pública de sua história recente. E o principal sintoma desse colapso está na fragilidade da sua principal força de combate ao crime: a Polícia Militar. Como noticiou este jornal, um parecer técnico do Tribunal de Contas do Estado (TCE) aponta que o déficit de policiais militares na Bahia ultrapassa os 14 mil homens e mulheres - o equivalente à população de cidades inteiras do interior. Uma lacuna inaceitável em um estado que lidera, ano após ano, os rankings nacionais de homicídios. >
O número ideal, previsto em lei, seria de 44.767 policiais na ativa. Mas o efetivo atual, somando inclusive policiais da reserva que voltaram ao serviço, é de pouco mais de 31 mil. Isso significa que a Bahia tem apenas 70% do contingente previsto. A consequência é sentida nas ruas, nos bairros dominados por facções criminosas, nas áreas rurais desguarnecidas, e também no rosto exausto do policial que precisa fazer escala extra para suprir a falta de colegas.>
O problema, no entanto, vai além da quantidade. Falta valorização profissional. Falta estrutura. Falta compromisso com a tropa. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a média da remuneração líquida dos policiais militares na Bahia é de R$ 5.216,69. É menos do que se paga em estados com menor população e desafios proporcionais, como Amazonas (R$ 8.898,52), Goiás (R$ 8.197,99) e Mato Grosso (R$ 10.577,92). Em outras palavras, a Bahia exige mais de seus policiais, mas paga menos.>
A Associação dos Oficiais Militares Estaduais da Bahia (Força Invicta) alerta sobre as consequências dessa desvalorização: evasão constante, dificuldade de atrair novos quadros e uma tropa desmotivada. Cerca de 500 policiais deixam a PM-BA por ano, seja por aposentadoria, saúde física e mental fragilizada ou por pura falta de perspectiva de carreira. >
Além da baixa remuneração e das más condições de trabalho, há entraves burocráticos que tornam a ação do policial militar ainda mais ineficiente. Na Bahia, por exemplo, o PM não pode lavrar um termo circunstanciado de ocorrência, como já ocorre em Minas Gerais com respaldo do Supremo Tribunal Federal (STF). Isso obriga o deslocamento até delegacias que, muitas vezes, ficam a horas de distância - isso quando há delegacias em funcionamento no interior. Resultado: a região fica desguarnecida enquanto os policiais se ausentam por longos períodos para formalizar ocorrências simples.>
Some-se a isso a falta de estrutura básica: bases sucateadas, armamento defasado, viaturas sem combustível, delegacias sem computadores funcionais. Em muitos municípios, a precariedade é tanta que nem mesmo o básico para o trabalho policial é garantido.>
O governador petista Jerônimo Rodrigues precisa encarar com seriedade o desafio da segurança pública. O estado baiano precisa de um plano de recomposição permanente do efetivo militar, com metas reais de contratação, valorização salarial e reestruturação das carreiras. Enquanto isso não acontece, a criminalidade avança, as facções se expandem e a população permanece refém do medo. Não há como vencer essa guerra sem cuidar de quem está na linha de frente.>