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Editorial
Publicado em 11 de abril de 2025 às 05:00
A casa, para muitos, sempre foi sinônimo de abrigo. Um lugar onde se sentar à mesa ou deitar a cabeça no travesseiro deveria representar segurança, acolhimento e paz. No entanto, esse conceito tem perdido força na Bahia, onde o avanço da violência já não respeita nem os limites das residências. A sensação de medo deixou de estar restrita às ruas e agora bate à porta – ou simplesmente a arromba. >
Os dados divulgados nesta semana pelo Instituto Fogo Cruzado são alarmantes: 42 pessoas foram mortas a tiros dentro de suas casas em Salvador e na Região Metropolitana apenas em 2025. Entre elas, Fernanda Pinheiro Lessa dos Santos, de 36 anos, que teve seu lar invadido e foi executada no bairro Jardim Santo Inácio nesta semana. De todas as vítimas baleadas dentro de casa, apenas uma sobreviveu.>
É impossível olhar esses números e manter o discurso da normalidade. O que estamos testemunhando é a degradação completa do que deveria ser o mínimo: o direito à vida e à segurança dentro do próprio lar. O Estado, que deveria ser o principal garantidor desse direito, falha mais uma vez em cumprir sua missão. O cenário é desolador. E pior: previsível.>
Enquanto isso, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia se apega a percentuais de queda nos índices de violência, como se os números pudessem esconder a dor real das famílias. A pasta ignorou os dados do Fogo Cruzado e preferiu destacar uma redução de 12,6% nas mortes violentas em Salvador. Mas o que esses números significam quando uma mãe é executada dentro da própria casa? Quando as famílias vivem com medo de dormir?>
A verdade é dura: o governo do estado perdeu o controle. A criminalidade avança, as facções se fortalecem, e a população está cada vez mais vulnerável. A polícia trabalha sob condições precárias, a inteligência falha, e o planejamento de segurança é inexistente. É preciso dizer com todas as letras: a Bahia está sitiada. É lamentável que, enquanto a população enterra seus mortos, as autoridades baianas façam apenas discursos, sem ações concretas que resolvem a violência do nosso estado. >
O povo baiano não pode continuar morrendo dentro de casa. O lar não pode ser uma sentença de morte. Segurança é um direito, e quando esse direito é violado até no último reduto de proteção, é porque algo muito grave está acontecendo – e precisa ser enfrentado com coragem, responsabilidade e urgência. Nenhuma estatística positiva será suficiente até que a Bahia reencontre a paz dentro de suas casas.>